Nosso garimpeiro investiga a mais prestigiada safra de vinhos brasileiros e diz o que não pode faltar em sua coleção
Ronald Sclavi Publicado em 14/12/2006, às 07h55 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44
A Cabernet Sauvignon é o destaque brasileiro de 1999 |
Se você tem um vinho brasileiro da safra 99, chegou a hora de sacar a rolha. Esses objetos de coleção estão mais do que valorizados. O ano tornou-se sinônimo de qualidade entre aficionados. Estes vinhos são ideais para surpreender seus convidados. Sirva às cegas e comprove. Você está diante de um exemplar nacional que pode ser facilmente confundido com seus irmãos latinos mais tradicionais ou até com vinhos do Velho Mundo. Por outro lado, manter estes vinhos em guarda pode significar desperdício, já que boa parte deles encontra-se em uma curva de amadurecimento com trajetória declinante. Este garimpeiro, agora dedicado ao terroir brasuca, revela os segredos que fizeram com que o Brasil conseguisse extrair o melhor de suas uvas neste ano memorável.
La Niña
Para um vinho nacional, o tempo é, definitivamente, o senhor da razão. O Sul do país que o diga. Poucas áreas de plantio do mundo são tão suscetíveis ao clima como os vinhedos gaúchos. Ao longo dos anos, os demasiados índices pluviométricos foram cruéis com os produtores brasileiros. Em 1999, no entanto, tivemos um equilíbrio dos mais raros entre sol e chuva.
La Niña foi responsável pela magia. O fenômeno que combinou um tempo mais seco com o sol na medida certa foi generoso com as uvas tupiniquins. Aquelas que amadurecem mais cedo, como Chardonnay e Pinot Noir, apresentaram boa concentração de açúcares, reforçando seus aromas e sabores. As variedades intermediárias (Merlot, por exemplo) podem até ter sofrido um pouco, mas as uvas de colheita tardia beberam na seca como nunca. A rainha das tintas triunfou e 1999 marcou época: a Cabernet Sauvignon é definitivamente o destaque deste ano.
#R#Mas nem só de clima vivem os vinhedos. O ano de 1999 consolida uma série de esforços da indústria nacional no caminho da sofisticação dos seus processos, em todas as fases. O clima mais do que favorável foi o toque que faltava para demonstrar que as fronteiras da produção brasileira podem ultrapassar a perlage dos espumantes e disputar espaço no rigoroso universo de tintos e brancos.
Tecnologia
Foi na década de 1990 que nossos produtores renovaram os chamados portaenxertos. São matrizes de vinhas de qualidade que chegaram da África do Sul e da Europa. Usadas como bases para variedades de uvas selecionadas também com mais critério, estas plantas representaram o primeiro salto qualitativo, ali, no silêncio da terra, do que seria um grito de qualidade.
O sistema de plantio também mudou. A chamada "latada", método que resultava em túneis de uva, foi substituído pelo sistema espaldeiro, com a fruta crescendo em varais, verticalmente. No primeiro - mais romântico e visual - parte da produção perde o contato com o sol, dificultando sua maturação.
Outro fenômeno verificável nas terras brasileiras foi uma expressiva diminuição de cultivo por área plantada. Nos anos 1990, os produtores que apostaram na possibilidade de uma produção mais qualificada, passaram a colher em média oito toneladas de uva, contra 14 ou até 15 toneladas de décadas anteriores.
A tecnologia também invadiu a fase industrial deste processo. Márcio Marson, sócio da vinícola que leva o seu nome, lembra que recebeu uma das três primeiras prensas pneumáticas. O equipamento imprime a força ideal às uvas, diminuindo sua acidez e minimizando o final amargo que, por anos, caracterizou os vinhos brasileiros.
A fermentação também deu um salto neste período. Reservatórios com temperaturas controladas foram responsáveis por vinhos mais equilibrados e maduros. Todo este processo resultou em taninos nos lugares certos, bouquet e paladar equalizados.
O casamento da tecnologia de produção e plantio com um clima que a natureza produziu sob medida, fez do ano de 1999 um momento dos mais expressivos para os nossos vinhos.
A guarda
Sua guarda ainda é uma incógnita. Ainda não há tradição suficiente para dizer quanto tempo dura um vinho brasileiro. Mas é fato que os quase oito anos dessa safra indicam que está na hora de encher as taças. Abertos em 2004 e 2005, já revelavam um grau de maturação dos mais expressivos.
Por isso, aceite o conselho deste garimpeiro: abra o seu 1999 e tenha um Feliz 2007!
Abaixo, alguns destaques que podem estar dormindo na sua adega ou na prateleira mais próxima:
● Gran Reserva Marson Cabernet Sauvignon 1999 - vinho de cor intensa, aromas maduros e bom corpo, tem boa persistência e um final achocolatado.
● Miolo Lote 43 1999 - Corte de Cabernet Sauvignon 50% e Merlot 50%, apresenta aromas elegantes, com boa intensidade e persistência.
● Casa Valduga Premium Cabernet Sauvignon 1999 - Vinho bastante amadeirado. Um Sauvignon latino típico.
● Don Laurindo Cabernet Sauvignon 1999 - com um corpo mais leve, este vinho de cor rubi é uma opção mais elegante.