A história dos vinhos de uvas ressecadas sobre camas de palha e que dão origem aos Vin de Paille
Redação Publicado em 12/06/2023, às 16h08
A origem dos “néctares”, feitos com uvas que passaram por um processo de desidratação para concentrar o seu mosto e dar origem a vinhos doces extremamente valorizados, é antiga e de origens diversas.
Estima-se que eles já eram produzidos há mais de 6 mil anos em locais diferentes do Mediterrâneo, mas especialmente nas ilhas gregas. Escritos de Plínio, o Velho, e de Columella já relatavam a produção de vários vinhos de uvas passas, sendo que algumas eram deixadas para secar ao sol nas próprias videiras, outras retiradas e colocadas sobre esteiras de palha ou madeira. Acredita-se ainda que eles eram, muitas vezes, misturados com mel e outras especiarias para intensificar o sabores. Assim nasceram os primeiros “passitos” do mundo.
Essa tradição se espalhou por diversas partes do mundo, prosperando em muitas partes da Europa, tornando-se uma tradição como no Jura, por exemplo. Lá, um dos vinhos mais míticos, juntamente com aclamado o Vin Jaune, é o Vin de Paille. Deve-se frisar que este último é bastante diferente do “vinho amarelo”, pois o Jaune é seco e passa por processo de oxidação biológica de véu em flor. O “vinho de palha”, por sua vez, é doce e passa por processo de desidratação das uvas. É esse processo, aliás, que lhe dá o nome.
Para ele, os produtores selecionam cachos de Savagnin, Chardonnay e Poulsard, que geralmente ficam repousando de três a cinco meses sobre “camas” de palha para perderem parte de sua água, concentrarem os açúcares e, com isso, darem origem a um mosto muito intenso e, obviamente, a um vinho bastante doce.
Atualmente, as camas de palha são menos usadas, dando lugar a caixas de madeira ou plástico, que tampouco ficam sob o sol direto, mas protegidas em locais bem ventilados. Ainda assim, o nome Vin de Paille, perdura, assim como sua fama.
A menção ao Vin de Paille pode ocorrer nas denominações Côtes du Jura, Arbois e l'Étoile. No Jura, o mosto precisa alcançar entre 14,5 e 17º de álcool e envelhecer por pelo menos três anos antes de ser comercializado. O rendimento básico é fixado em 20 hectolitros por hectare.
As uvas precisam secar por um período mínimo de seis semanas, seja sobre uma cama de palha, ou sobre prateleiras, ou ainda suspensas em arames. As salas de armazenamento devem ser ventiladas, mas não aquecidas. Todos os anos, no final de janeiro, há um evento na praça de Arlay (a capital do vinho de palha do Jura), para celebrar a prensagem do vinho.
Realiza-se a prensa com uma missa de São Vicente, celebrada pelo Bispo de Jura, na igreja de São Vicente d'Arlay, com bênção, entronização na confraria local, desfile com procissão e fanfarra de viticultores etc. Tudo organizado pela comandaria dos “Nobles Vins du Jura et du Comté”.
Contudo, o termo vin de paille não se restringe ao Jura. Há produção desses vinhos doces em Hermitage, onde a tradição foi retomada mais recentemente. Lá, vinifica-se Marsanne e Roussanne de uma área pequena em Tain-l’Hermitage.
Também em Beaumont-du-Ventoux, em Provence, há uma pequena produção de vinhos de palha, feitos com Grenache Blanc e Clairette Blanc. Há ainda um antigo “Vin de Paille” em Corrèze, na Aquitânia.
Em Queyssac-les-Vignes, acredita-se que a tradição desse vinho tenha surgido no ano de 622 quando Santo Eloi trouxe ao rei Dagoberto um “néctar único”, ao qual teria dado o nome de “mel das Musas”. Para produzi-lo, usam-se variedades tintas de Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon e brancas de Chardonnay e Sauvignon. E, por fim, há referências a vinhos de palha também na ilha de Córsega.