Ilustração do vinho remonta aos princípios da propriedade Podere Le Ripi
Dado Lancellotti Publicado em 17/12/2024, às 08h20
Originalmente publicado na Revista ADEGA, este texto faz parte da seção "Contrarrótulo", cujo objetivo é contar, justamente, a história por trás de um rótulo de vinho. Desta vez, o escolhido é o Lupi e Sirene, um vinho italiano e biodinâmico. Vamos desvendá-lo...
A propriedade Podere Le Ripi é o sonho encantado de Francesco Illy, herdeiro da famosa linhagem de café, que transformou um terreno selvagem em casa, construindo tudo do zero. A história começou em 1984, quando ele se apaixonou pela região de Montalcino, após uma incursão fotográfica. A partir de 1987, começou a procurar uma casa no local. Dez anos depois, encontrou o lugar da sua vida em Castelnuovo dell’Abate.
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As terras pertenceram a um pastor de ovelhas até 1998, e foi ali que ele estabeleceu vinhas e oliveiras cercadas por vistas deslumbrantes no meio do Val d’Orcia, patrimônio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com o vulcão pré-histórico Monte Amiata ao sul e um anfiteatro natural de colinas protegendo os lados oeste e norte.
O solo também era intocado e selvagem, cheio de flores e maravilhas nativas comestíveis como aspargos, cogumelos porcini, trufas brancas e pretas, além da vida animal. A primeira colheita aconteceu apenas em 2003.
A adega, chamada de Pantheon, em homenagem à construção romana, é uma atração à parte: levou sete anos para ser projetada usando a “proporção áurea”, uma técnica antiga baseada em uma sequência numérica, criada pelo matemático Leonardo Fibonacci e usada na arquitetura desde 1500 a.C. na Grécia Antiga, em Stonehenge, e nas obras de grandes gênios como Botticelli e Leonardo da Vinci.
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Foram mais quatro anos dedicados a colocar manualmente os 750 mil tijolos usados no edifício, criado em espiral perfeita e com cinco graus de inclinação, para garantir que o vinho flua por gravidade.
As criações da propriedade certificada biodinâmica ganharam muitos fãs. Em cada rótulo, há boas histórias. O protagonista Lupi e Sirene (Lobos e Sereias, em livre tradução) foi o primeiro e traz as memórias de uma época em que Le Ripi era tão remota, que o uivo dos lobos era o único som que podia ser ouvido à noite, nesta ilha simbólica.
Mas o que dois lobos "excitados" estão fazendo sozinhos em uma ilha? “Eles estão olhando para as sereias...” diz Illy. Já o rótulo Cielo d’Ulisse nos faz navegar sem bússola e nos leva ao céu tal como Odisseu. O Rosso Sogni e Follia destaca poemas que Francesco escreveu e substitui o Amore e Magia original, que, por causa do enorme potencial, foi promovido a Brunello – aqui, os Rossos envelhecem mais, pelo menos três anos em barricas de carvalho.