Projeto da vinícola Valdemonjas alia beleza com autossuficiência hídrica e energética
Redação Publicado em 18/10/2018, às 20h00 - Atualizado em 19/10/2018, às 12h03
Incrustada nas suaves ondulações de Ribera del Duero, não muito distante de vinícolas consagradas como Vega- -Sicilia e Aalto, quase nas margens do sinuoso rio Duero (que se transforma no Douro quando passa para o lado português), fica a Valdemonjas, um projeto familiar (da família Agüera Moyano) cujo design arquitetônico venceu o prêmio “Architizer A +” em 2016.
Duas arquitetas espanholas, Ana Agag e Silvia Paredes, que desenvolveram suas carreiras no famoso escritório Foster & Partners, deram forma a essa vinícola inovadora localizada no município de Quintanilla de Arriba, em Valladolid, e, com ela ganharam o mais prestigiado prêmio de arquitetura mundial. A principal ideia por trás do projeto da Valdemonjas é a sustentabilidade. Ela foi pensada para ser autossuficiente, já que não ficaria conectada à rede de água e eletricidade da região. “O uso sustentável da água tem sido uma das nossas preocupações desde o início. É por isso que um telhado inclinado foi projetado para nos dar a possibilidade de coletar água da chuva em tanques subterrâneos. Nós também projetamos um sistema de filtração e tratamento de água eficiente”, apontou Silvia Paredes.
Já a energia é provida por sistema de geração independente com painéis fotovoltaicos que foram integrados ao telhado do edifício de modo que, enquanto captam a energia solar, também servem para sombrear a entrada e a recepção das uvas. A fachada oeste também usa sistemas de controle solar, assim como ventilação natural dos espaços, o que dispensa ar condicionado.
“É uma vinícola familiar, projetada e feita a partir do amor, do respeito e da paixão pelo terroir. Um dos nossos principais objetivos era a integração com paisagem existente”, apontaram as arquitetas. Dessa forma, o design é todo pensado também no processo de recebimento das uvas de forma a usar a gravidade. Graças aos dois andares, não são usadas bombas na vinificação.
O projeto concentrou a maior parte do trabalho da vinícola em uma nave central, que serve para a vinificação, a fermentação etc. A entrada da uva é feita pelo leste para um andar superior diretamente conectado à planta de processamento. A saída do produto acabado é feita no oeste através de um vestíbulo térmico que se abre para a mesma planta de processamento, o que deixa assim a saída em uma situação muito próxima do acesso com rodas existente.
Nos lados da nave central estão as naves “dormentes”: ao sul, a planta de envelhecimento em barril e, ao norte, a planta de envelhecimento em garrafa. O arco da abóbada, feito de tijolo, oferece ótimas condições naturais de temperatura e umidade
O andar superior da vinícola é dividido em dois blocos. O primeiro é dedicado ao início do processo, a recepção da uva. Ele emerge da terra, pois envolve a descida da uva até a área de processamento. O outro é dedicado ao final do processo: a degustação. Ele recebe grande contribuição de luz natural, apresenta as melhores vistas e tem ligação direta com a adega de envelhecimento, com a enoteca e com o lagar.
Ambos os blocos são fechados por uma cobertura, que abriga o espaço de chegada das uvas e se inclina para estimular a captação de água, que é incorporada em um tanque adjacente à vinícola com capacidade suficiente para suas necessidades de água, além de ter os painéis fotovoltaicos integrados.
“Queríamos transmitir uma pequena, eficiente e poderosa imagem de vinícola, ao mesmo tempo arriscada, de acordo com os princípios que governam Valdemonjas; nós pensamos que o projeto de um edifício compacto, semienterrado, que emerge da terra, como uma escultura, ajuda a reforçar a imagem de uma nova marca de vinhos Ribera del Duero, cuja qualidade já foi reconhecida”, finalizam as arquitetas.