San Sebastián, na Espanha, é uma das cidades com maior concentração de restaurantes estrelados no mundo
João Calderón Publicado em 10/01/2019, às 15h00 - Atualizado às 15h47
Em um cantinho privilegiado para a contemplação do oceano, às margens do Mar Cantábrico, ancorada sobre a ponta ocidental da praia de Ondarreta, Eduardo Chillida, um dos principais escultores e gravuristas modernos bascos, fincou uma de suas grandes obras, “El Peine del Viento”, escultura que transformou-se em um dos principais símbolos e atrativos da capital de Guipúscoa, San Sebastián.
A encantadora cidade, chamada de Donostia pelos bascos, é aclamada como a “pérola do cantábrico” graças à sua baia em forma de concha, que dá nome a uma das mais famosas praias espanholas, a Playa de La Concha. Localizada no meio das colinas dos Pirineus, Donostia foi historicamente a residência oficial de verão da família real espanhola e ainda hoje conserva o ambiente refinado de outrora.
Passeando por suas imponentes avenidas repletas de edifícios Belle Époque, é fácil perceber a grande influência e modernização em um dos auges da cidade, que ocorreu na virada do século XX. Além de todo o glamour do início do século passado, a arquitetura da cidade também impressiona por outros períodos de construções, que vão desde a sua majestosa catedral neogótica, passando pela igreja barroca de Santa María del Coro, até o seu design contemporâneo (uma forte característica dos bascos) dos cubos futuristas do Centro de Congresso Kursaal. Isso tudo além da sempre presente (em se tratando de uma cidade espanhola) plaza: a bela e grandiosa Plaza de la Constituiión, no centro histórico – que, durante a Idade Média, era utilizada como Plaza de Toros.
Além de seu principal cartão postal, a Playa de la Concha, San Sebastián possui ainda outras duas belas praias, a Playa de Ondarreta, que costuma ser mais familiar, e a mais animada Playa de la Zurriola, muito frequentada pelos surfistas. Entre uma onda e outra, o calendário cultural da capital de Guipúscoa também está sempre repleto de festivais e exposições. Seus mais famosos festivais são o de jazz, o já tradicional Jazzaldia, que ocorre na terceira semana de julho, e o consagrado Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, em setembro. Vale também conferir as exposições do principal museu da cidade, o Museo San Telmo. E, para fechar o seu final de tarde com uma bela vista panorâmica, escolha subir no Monte Urgull ou no Monte Igueldo.
“El Peine del Viento”, escultura de Eduardo Chillida
Em uma cidade consagrada por seus festivais, não será a sua hotelaria que irá decepcionar. Com uma seleção relativamente vasta de hotéis, são dois os que mais se destacam. O primeiro é o Hotel de Londres y de Inglaterra, o mais clássico de Donostia, com vista para a Playa de la Concha e muito próximo do centro histórico. Você se hospedará em um dos cartões postais da cidade.
A segunda opção seria provavelmente a mais luxuosa de todas, o Hotel Maria Cristina, membro do Luxury Collection Hotel, também localizado em um edifício em estilo Belle Époque datado de 1912. Já passaram por ali hóspedes ilustres como Woody Allen e Elizabeth Taylor. E, por último, ainda há o Okako Hotel, também no centro histórico, um hotel butique para aqueles que preferirem conforto e modernidade em um estilo mais intimista.
Dos atuais oito restaurantes com três estrelas Michelin que existem na Espanha, três estão em San Sebastián
Pérola Cantábrica, San Sebastián, poderia muito bem ser conhecida como a “pérola gastronômica” já que é um verdadeiro paraíso para os amantes da boa comida. Donostia possui uma longa história de agricultores e pescadores e os mercados locais são repletos de mariscos e peixes frescos, além de produtos regionais da mais alta qualidade. A cidade é reconhecida e aclamada por sua cozinha refinada e inovadora. Para se ter uma ideia da importância da gastronomia, dos atuais oito restaurantes com três estrelas Michelin (pontuação máxima do guia) que existem na Espanha, três estão lá.
O primeiro é o Arzak, do chefe Juan Mari Arzak e sua filha Elena Arzak Espina. Entre as especialidades da casa estão o foie gras e os ovos pochê. O menu (195 euros – sem bebidas) varia de acordo com a estação. Vale a pena visitar a bela e enorme adega (iluminada com fibra ótica) com cerca de 90 mil garrafas de mais de 2 mil rótulos dos mais desejados do mundo.
Depois, há o Akelarre, do chefe Pedro Subijana, com seus três tipos de menu degustação (170 euros – sem bebidas), todos com opção de “maridaje” com vinhos e, ainda por cima, uma vista lindíssima. Por fim, o charmoso restaurante de Martin Berasategui, que gosta de mesclar pratos tradicionais (receitas preparadas desde 1995) com novidades em um menu degustação (280 euros com harmonização de vinhos) ou a la carte.
Além dos três estrelas, há também o Mugaritz, do chefe Andoni Luis Aduriz – para muitos, um dos maiores injustiçados no mundo com “apenas” com duas estrelas. Na última lista dos 50 melhores restaurantes da revista inglesa Restaurant Magazine, o Mugaritz se manteve em sexto lugar e está entre os 10 primeiros desde 2006. O menu (185 euros) tem cerca de 24 pratos que variam conforme a estação e dão bastante trabalho para o sommelier Guillermo Cruz, considerado o melhor da Espanha atualmente.
“São servidos mais de 20 pratos com estilos muito variados entre eles, então precisamos buscar vinhos de perfis mais frescos para harmonizar. Se alguém quiser uma garrafa, recomendamos, para começar, Cavas, Champagnes ou de alguma denominação da Galícia (Valdeorras, Rías Baixas, Monterrei etc). Conforme vai transcorrendo o menu, podemos ir atrás de algum tinto e vinhos doces para as sobremesas. A filosofia da nossa carta é ter vinhos com alma”, afirma Cruz, que revela ter cerca de 700 rótulos de todo o mundo. E há ainda vinhos em taças, que podem ser escolhidos dentre as diversas garrafas abertas pouco antes de começar o serviço. “Tentamos oferecer propostas divertidas e interessantes para que a experiência gastronômica seja inesquecível”, aponta Cruz.
Outras opções com uma estrela também brilham pela cidade como o Zuberoa, por exemplo, com belo menu degustação (125 euros) e uma carta de mais de 3 mil vinhos. Por tudo isso, Donostia é a cidade com maior número de estrelas por metro quadrado.
O charmoso restaurante de Martin Berasategui. Abaixo, o Asador Etxebarri, do chefe Victor Arguinzoniz – dito pai do churrasco criativo europeu – e um dos pratos do Zuberoa
Mugaritz, do chefe Andoni Luis Aduriz, é considerado um dos 10 melhores restaurantes do mundo
Um pouco mais afastado dali, a cerca de 75 minutos, está o Asador Etxebarri, na cidade Atxondo. Este é um restaurante que tem como principal ingrediente o fogo e, a partir de diferentes tipos de lenha, surge uma cozinha tradicional e inovadora ao mesmo tempo. Na lista dos 50 melhores, o Etxebarri do chefe Victor Arguinzoniz – dito pai do churrasco criativo europeu –, foi o restaurante que mais subiu posições, saltando do 34º para o 13º lugar. O menu degustação (125 euros) é uma junção de “terra, mar e fogo”.
Deixando de lado o glamour dos restaurantes estrelados, passeamos pelos bares repletos de pintxos, a versão basca para as tapas espanholas. O hábito de pular de bar em bar provando pintxos, o txiketeo como eles denominam esse costume, trará à sua viagem uma experiência cultural e culinária que ninguém pode perder. Comece o teu txiketeo pelo La Cuchara de San Telmo e prove um dos melhores foie gras grelhados que você já comeu (se der sorte de estar dentre as sugestões do dia) e aposte também na bochecha de boi (carrilada) ou na orelha de porco (orejas). Salte deste para o longo balcão de madeira do Astelena e não deixe de provar as croquetas. Depois, passe para o A Fuego Negro e arrisque qualquer um de seus pintxos. Tudo isso regado a Txacoli ou cidra. Para fechar a comilança com estilo, antes de ir ouvir uma boa música no Be Bop, nada melhor do que imitar os espanhóis e terminar a sua refeição com um Gin Tonica no La Gintonería Donostiarra.
O txiketeo (o hábito de pular de bar em bar provando pintxos) tornará sua viagem ainda mais divertida
Como chegar a San SebastiánO aeroporto de San Sebastián só recebe (poucos) voos vindos de Barcelona ou Madri. Uma opção interessante seria chegar em Bilbao, a 100 quilômetros de distância, mas com muito mais opções de voos, inclusive internacionais, e alugar um carro. Outra alternativa interessante é tomar um ônibus (com fileiras duplas ou individuais e WI-FI) em Madri e relaxar. São seis horas de trajeto, mas confortáveis. Passagens podem ser compradas no site: www.alsa.es HospedagemHotel Maria Cristina Hotel Londres y Inglaterra Hotel Okako Eventos e atraçõesFestival de Jazz Festival Internacional de Cinema Museu San Telmo Bares e restaurantesRestaurante Arzak Restaurante Akelarre Restaurante Martín Berasategui Restaurante Mugaritz Restaurante Zuberoa Asador Etxebarri La Cuchara de San Telmo A Fuego Negro Restaurante Astelena Be Bop |