Enólogo explica tentativa de criar uma 'denominação' própria, ao lado de amigo
Christian Burgos Publicado em 16/12/2024, às 08h20
Muitas vezes, é difícil dissociar criador e criatura. Francisco Baettig dedicou muitos anos de sua vida trabalhando para elaborar alguns dos vinhos mais destacados do Chile com a Errázuriz.
Por anos a fio, Seña, Viñedo Chadwick, Don Maximiano e outros tantos rótulos passaram por suas mãos. Agora, contudo, seus olhos estão em outro lugar, mesmo ainda participando das principais decisões enológicas do grupo Errázuriz. Em parceria com o amigo de longa data, Carlos de Carlos, desde 2010, Baettig vem buscando um terroir para trabalhar.
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“Queríamos começar com Pinot Noir e Chardonnay no sul, uma área fria na qual eu tinha muita expectativa, uma ideia de um potencial de qualidade muito bom. Sempre com um vinhedo próprio. Para este projeto, para este tipo de vinhos de lugar, de um valor um pouco mais elevado, era essencial ter vinhedo próprio e plantar vinhas, e produzir demora muito tempo”, conta Baettig. O projeto Vinos Baettig partiu em 2020.
“Encontramos o lugar em Traiguén, uma subdenominação de Malleco, 650 km ao sul de Santiago. O local também tem uma relação com a minha família, porque o meu bisavô veio da Suíça como colono para aquela mesma área, para aquela mesma cidade, ou seja, foi um pouco um regresso às raízes”, aponta.
“É uma região fria, interessante para Pinot e Chardonnay, uma área que tem mais chuva e na qual pode-se produzir sem irrigação, com muito menos intensidade e menos radiação solar, pois a acidez fica muito bem preservada, a fruta, o álcool, um pouco mais moderado, o que é o tipo de vinho ou estilo que eu mais gosto”, avalia.
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“Também achamos muito interessante por causa do solo, um solo vulcânico muito antigo, muito argiloso, mas uma argila um pouco mais pobre, ideal para um vinhedo mais equilibrado, sem tanto vigor. Plantamos em 2013 e depois esperamos que as plantas crescessem. Levou sete anos para formar e produzir. Houve muita perda no processo. Tive que fazer um pouco de replantio”, comenta.
Além de trabalhar com Pinot e Chardonnay, as uvas clássicas da Borgonha, um dos enfoques de Baettig é valorizar o terroir chileno. “No Chile não há nenhum sistema de denominação por categoria de qualidade, não há Village, Premier Cru, Grand Cru, portanto, queríamos meio que criá-lo para a nossa própria classificação”, conta.
Sendo assim, ele criou duas linhas de vinhos em sua vinícola. A primeira, que ele chama de Vino de Viñedo, reflete um vinho de entrada, descrito como uma mistura de todo o vinhedo, sem seleção específica. Este vinho é mais direto, com intensidade e frutosidade, sendo fácil de beber e com boa tipicidade.
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Em um segundo nível fica o Selección de Parcelas, este, sim, uma seleção específica de parcelas dentro do vinhedo, onde se identificam áreas que produzem vinhos mais elegantes e complexos, com mais camadas e características minerais. Baettig planeja, no futuro, produzir vinhos de parcelas únicas (“Grand Cru”), ressaltando a qualidade dessas áreas.
“O Chile dá pouca ênfase à sua origem, às suas denominações, ao seu terroir. O nome, o ícone, tem muito mais a ver com a marca do produtor e, no caso do Pinot e da Chardonnay, em que é mais 100% de origem, queríamos mudar essa abordagem”, conclui.
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