Borgonha branca, a história do Domaine Coche-Dury

Conheça um dos grandes nomes dos Chardonnays borgonheses

Arnaldo Grizzo Publicado em 17/03/2021, às 07h00 - Atualizado em 06/04/2021, às 14h00

 

 

Vinhedos do Domaine Coche-Dury de onde sai as uvas para um dos melhores vinhos da Borgonha

São apenas quatro gerações, mas o nome é reverenciado por conhecedores ao redor do planeta. O Domaine Coche-Dury nasceu após a I Guerra Mundial, quando o avô de Jean-François Coche, comprou seis parcelas de vinhas na Borgonha, boa parte em Meursault, santuário da Chardonnay. No início, ele contratava outros vinhateiros para produzir seus vinhos, mas logo passou engarrafar por si próprio. Seu filho, Georges, acrescentou mais 16 parcelas ao Domaine, que alcançou 10 preciosos hectares. Em 1972, Jean-François assumiu o lugar do pai, três anos depois ele casou com Odile Dury, e foi então que a família se tornou sinônimo do que de melhor é produzido em vinhos brancos na Borgonha. 

Jean-François, hoje aposentado (deu lugar ao filho, Raphael na gestão da vinícola), sempre foi um estudioso. Ele também comprou parcelas de vinhedos no sistema de metayage – em que o proprietário e o agricultor dividem a colheita em uma proporção acordada, geralmente metade, e, às vezes, o aluguel é pago em vinho, às vezes, em uvas. Isso lhe permitiu expandir a produção aproveitando o fato de muitas propriedades pequenas na Borgonha às vezes não serem comercialmente inviáveis. 

Além de grandes vinhos de Meursault (seus Premières Crus Les Genevrièves e Les Perrières estão entre os mais aclamados), Jean-François produz um Corton-Charlemagne de excelente estrutura, que costuma atingir preços altíssimos, estando sempre entre os brancos mais caros do mundo. Ele afirma que todos os seus brancos devem ser envelhecidos, mesmo os de safras menos badaladas e aconselha seus clientes a só abrirem as garrafas por volta dos sete a oito anos de idade, pelo menos. 

Poda e seleção 

Mas qual seria o segredo de Coche-DuryO meticuloso Jean-François acredita que as videiras devem ser severamente podadas. Ele usa a poda chamada Guyot, em que as vinhas tendem a produzir uvas maiores e menos concentradas. E cerca de 30% de suas videiras são podadas de acordo com outra técnica dita cordon de royat. Este sistema produz uvas menores, reduzindo a produção em até metade do Guyot. 

Chardonnay da região é reconhecida como uma das melhores da Borgonha

Além da poda, faz-se seleção massal na hora do replantio. Aliás, Coche-Dury só replanta vinhas individuais que morrem, e não áreas inteiras como alguns costumam fazer. Sendo assim, não se usa clones produzidos comercialmente, selecionando o material de sua própria vinha, que é então entregue ao viveiro que prepara os enxertos. Essa seleção leva a uma maior diversidade no vinhedo e, assim, a uma maior complexidade, acredita Jean-François. 

Ele também não acha que vinhas jovens produzem vinhos ruins, mas, para isso, deve ser ainda mais severo ao limitar o número de cachos que deixa em cada planta. Segundo ele, o vinho das vinhas mais jovens tende a evoluir mais rapidamente e a ter uma vida mais curta. Por fim, a poda rigorosa também incentiva um sistema radicular profundo, o que ajudaria a dar complexidade ao vinho.  

Feito naturalmente 

A vinificação é feita na parte de baixo de uma casa construída em 1982. O mosto fermenta de forma espontânea com leveduras naturais e geralmente em até 40% de barricas de carvalho novo (não há uma fórmula, a porcentagem é determinada pela safra). Jean-François acredita nas longas fermentações, que, segundo ele, tornam o vinho mais rico e fino. Sendo assim, elas podem durar de 10 a 14 dias, mas, às vezes, até quatro semanas. 

Colina de Corton-Charlemagne de onde vem um dos celebrados vinhos de Coche-Dury

A fermentação malolática ocorre naturalmente (quando não, o vinho recebe uma inoculação de borras frescas de uma barrica que acabou de terminar). Outra técnica usada é a bâtonnage, que pode ou não ser feita de acordo com as necessidades da safra. Os brancos de Coche-Dury costumam passar 12 meses sobre as borras até o primeiro trasfego. Eles são devolvidos à barrica por mais seis meses de envelhecimento, geralmente clarificados, mas raramente filtrados. Eles costumam ser engarrafados de 18 a 22 meses após a colheita. 

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Coche-Dury também produz tintos, mas são seus brancos os grandes astros. Eles são sempre complexos e ricos, com mais músculos do que sutilezas. Alguns dos lieux-dits de Meursault são vinificados e mantidos separadamente para mostrar suas diferentes características. Boa parte de seus vinhos vai diretamente para alguns dos mais requintados restaurantes da França e o restante da produção para poucos clientes individuais que têm sorte de terem acesso direto a essas preciosidades. 

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