Doze dicas para você não se perder, apreciar bons vinhos e sair com boas lembranças
Arnaldo Grizzo Publicado em 09/08/2018, às 12h00
Você já foi a um grande evento de degustação de vinhos? Uma feira de alguma importadora talvez? Assim que o ano começa, dá-se início também a um circuito de diversos eventos (jantares temáticos, apresentações de produtores, feiras de importadores etc.) que os enófilos, especialmente as pessoas do trade, costumam acompanhar. Mas você vai dizer: “esses eventos são todos fechados para quem é do próprio mercado”. Engana-se. Grande parte também é aberto ao público consumidor.
É verdade que as grandes feiras internacionais, por exemplo, são dirigidas ao business e os produtores lá presentes querem apresentar seus vinhos para potenciais revendedores. No entanto, cada vez mais se vê uma abertura ao consumidor. E, quando falamos de eventos no Brasil, especialmente as feiras de importadores (cada vez mais frequentes) e grandes provas e apresentações, como o lançamento do Guia Descorchados, por exemplo, vemos que o consumidor tem prioridade.
Nessas ocasiões, os produtores costumam já ter um representante oficial no país e estão lá para promover seus vinhos entre os enófilos “comuns”. Eles sabem que cada um que conquistarem com alguns poucos goles de seus vinhos pode significar vendas diretas ou a garantia de uma nova importação. É uma ação de marketing direta e poderosa de que nenhum produtor do mundo tem se furtado ultimamente. Uma boa relação com o cliente é quase tão importante quanto a qualidade do vinho na taça.
Sendo assim, com o calendário de eventos começando a tomar forma nesse início de ano, que tal nos prepararmos para aproveitar ao máximo de um grande evento de degustação? Muitos “iniciantes”, às vezes, se frustram nesses eventos, pois vão com expectativas enormes, mas sem um “plano de ataque”. Muitas vezes, saem decepcionados consigo mesmos por não terem provado todos os vinhos à disposição, ou ainda não terem conseguido desfrutar de alguns vinhos como pretendiam. Para que isso não ocorra, elaboramos um “manual” para lhe ajudar. Mesmo que você não seja um “iniciante” nesses eventos, algumas das dicas a seguir provavelmente vão fazer com que você tenha uma experiência ainda melhor em eventos de grande porte.
Preparativos
Vamos começar com os preparativos pré-degustação. Primeiramente, pense em ir de táxi. Se você pretende provar uma enorme quantidade de rótulos, mesmo que durante um longo período de tempo, é provável que, ao final, não esteja em perfeitas condições para dirigir. E, com as restrições da lei seca, por mais moderadamente que você beba, será autuado. Isto posto, lembre-se de chegar bem alimentado e bem-disposto. Muitos eventos servem canapés e comidinhas leves, mas assegure-se de chegar devidamente alimentado, pois degustar de estômago vazio não lhe fará bem. Evite também esses eventos caso esteja doente. Um resfriado, por exemplo, limita as sensações de olfato e paladar e acaba prejudicando qualquer tentativa de realmente desfrutar dos vinhos. Lembre-se ainda de se vestir conforme a ocasião requer (cada evento costuma ter um dress code, que pode ir do superformal ao informal, mas provavelmente nunca será extremamente informal), usando sempre roupas confortáveis – ou seja, se for a uma feira, por exemplo, evite salto alto, pois você ficará em pé por muito tempo. Lembre-se também de evitar o uso de perfumes. As pessoas estão lá para apreciar os delicados aromas do vinho e não a sua fragrância íntima. Outra preocupação deve ser com os dentes. Provar muitos vinhos tintos provavelmente deixará sua boca arroxeada, mas, além desse problema estético, a acidez pode sim comprometer o esmalte dos dentes. Escovar após a degustação não é o indicado, pois pode piorar ainda mais o quadro. Para minimizar isso, beba bastante água e, se for o caso, traga um chiclete para depois do evento.
Etiqueta
Nesses eventos, raramente você está sozinho na hora de provar um vinho. Ao mesmo tempo que você está em um estande de um produtor, pode haver diversas pessoas ao seu lado, amontoando-se para provar uma taça e ouvir um pouco do que esse produtor tem a dizer sobre seus rótulos. Sendo o vinho uma das coisas mais civilizadas do mundo, segundo Ernest Hemingway, é preciso senso de civilidade nesses momentos e todos precisam saber esperar a sua vez. Lembre-se, o produtor não está lá apenas para servir o vinho, ele está lá para apresentar o vinho. É diferente. Portanto, não estique a taça esperando simplesmente que ele lhe sirva. Seja cortês, pergunte se pode provar algo ou então o que ele sugere. E, sabendo que você não está lá sozinho, mas com diversas pessoas ao seu redor, não monopolize o produtor. Faça perguntas diretas, ouça o que ele tem a dizer, agradeça e deixe a fila andar.
Quem cedo madruga
Grandes eventos costumam atrair muitos produtores e muita gente interessada em provar seus vinhos. Se você pensa em ter um pouco de “privacidade” para degustar alguns rótulos, planeje chegar cedo. Quanto mais tempo passa, mais pessoas se acumulam e mais difícil ter um “tempinho a sós” com algum produtor. Então, se você pretende provar algum rótulo específico “com tempo”, vá direto nele. Se você quer saber mais sobre um rótulo, vá direto conversar com o produtor. E, sim, se houver algum grande ícone sendo oferecido e você quer um gole, é melhor chegar cedo, pois, no fim do dia, talvez não haja mais nenhuma garrafa disponível.
Não vá para provar de tudo um pouco
A não ser que a degustação não apresente dezenas de rótulos e você não seja um degustador profissional, não vá para o evento pensando em provar tudo o que estiver por lá. Se houver, por exemplo, 20 produtores, cada um com cinco rótulos diferentes, pense em provar um ou dois de cada, com calma, realmente apreciando o que estiver em sua taça.
Cuspa
Alguns podem até achar um pouco nojento, mas aqueles baldes que ficam nas mesas em que os produtores apresentam seus vinhos são, sim, para cuspir vinho. Apesar de a quantidade de bebida servida ser bem pequena, não se pode negligenciar o montante de vinho que se pode ingerir durante toda uma tarde de degustação. Se você tomar 20 taças de 30 ml, por exemplo, terá consumido 600 ml, lembrando que mais de 10% disso é álcool. Portanto, se quiser aproveitar mais, faça como os profissionais, coloque o vinho na boca, faça ele passear pela língua, sinta os aromas e sabores, e cuspa, sem medo, sem vergonha. Se quiser sorver o vinho, sorva quantidades mínimas e daqueles rótulos que acredita que realmente valem a pena.
A taça
Na maioria dos eventos, você recebe uma taça e fica com ela até o final, provando tudo, sem trocar, sem lavar. Isso não é problema, mas lembre-se de avinhar a taça para que os sabores e aromas dos vinhos anteriores não se somem aos seguintes e, no fim, você esteja provando um blend de diversos rótulos. Sendo assim, de tempos em tempos, passe um pouco de água no fundo ou então peça gentilmente para que o produtor sirva apenas um fundinho para que você possa avinhar e, depois, sirva o vinho propriamente.
Não se esqueça da água
Em toda degustação, além das garrafas de vinho à disposição dos enófilos, há também jarras de água. Se no caso dos vinhos você deve ir sempre com moderação, na água pode beber sem qualquer problema. Além de ajudar a limpar o paladar para o próximo vinho, a água ainda hidrata o organismo, retardando os efeitos do álcool.
Trace um plano
Quando se vai a um jantar de vinhos, ou a uma apresentação de rótulos de um determinado produtor, é comum que os vinhos sejam servidos em uma determinada ordem. Dos brancos para os tintos, por exemplo, e por fim os doces. Em um grande evento, com diversos produtores e muitos rótulos para provar, você também pode seguir uma ordem. Isso certamente vai lhe ajudar a apreciar melhor cada vinho. Seu paladar ficará menos cansado e mais apto a apreciar diferentes nuances se não ficar estressado com a alternância de vinhos de diferentes estilos. Sendo assim, comece, por exemplo, provando apenas os brancos e rosés. Passe depois para os tintos. Se conseguir, divida os tintos em leves e encorpados. Se em meio a tudo isso perceber que os sabores estão começando a se confundir em sua boca, uma boa alternativa é provar alguns espumantes. A acidez ajudará a limpar o paladar novamente. Por fim, prove os doces e fortificados, pois eles tendem a tomar seu paladar de forma avassaladora.
Só clássico?
Sim, muitos enófilos vão a um evento para provar determinados vinhos que já lhes são familiares. Não à toa, os grandes nomes costumam estar sempre lotados de gente ao redor. Mas, se você já conhece o vinho, que tal aproveitar os outros “desconhecidos” que estão em volta? Não seria mais proveitoso? Deixe-se levar pelas novidades e, com certeza, você terá grandes e boas surpresas.
Faça comparações e anotações
Como dito anteriormente, sua ideia não deveria deteriorar o palato provando o máximo de vinhos aleatoriamente, mas usar esses eventos de degustação para realmente apreciar e aprender. Se o produtor estiver servindo, converse com ele. Se houver diversos vinhos de um mesmo estilo, mas de produtores diferentes, é uma ótima oportunidade de comparar. Diante de diversos rótulos, por melhor que seja sua memória, a melhor coisa a fazer é tomar notas para posteriormente poder lembrar quais vinhos provou, quais mais o agradou e o porquê.
Menos é mais
Novamente, não se desespere para provar de tudo um pouco. Por mais treinado que seu paladar seja, ele não vai conseguir apreciar devidamente tudo o que você colocar na boca. Então, vá preparado e consciente. Não é uma competição de quem bebeu mais e melhor. Não se sinta pressionado se ouvir algo como: “Já provei todos os vinhos da fileira da direita, agora só faltam os da esquerda”. Ou então: “Você já provou aquele produtor? Você tem que provar. Como assim ainda não foi lá?” Vá para desfrutar. Se não conseguir provar algo que algum amigo classificou como “imperdível”, não se aflija. Cada um aproveita como pode. E, se for tão imperdível assim, veja se ele compra uma garrafa e lhe convida para degustar algum dia em casa com calma.
Sem extremos
Não é raro vermos enófilos frustrados por terem ido provar algum vinho específico e, depois da prova, acharem-no decepcionante. Lembre-se que provar um vinho em uma grande degustação, com muitas pessoas em volta, doses diminutas, taças nem sempre apropriadas, temperatura de serviço que pode variar etc., dificilmente terá o mesmo glamour de provar uma única garrafa, em casa, olhando o pôr do sol pela janela, apreciando um belo jantar. Ou seja, aquele vinho que lhe encantou tempos atrás em outra ocasião, pode agora lhe parecer sem graça. Por outro lado, pode acontecer de você se encantar com um vinho durante esse evento e, mais tarde, provar a garrafa e não achar nada demais. Sim, o ambiente conta. Ainda assim, devemos evitar impulsos extremistas. Se um vinho lhe agradou ou não, faça uma segunda prova, tente se “distanciar” do ambiente para realmente compreender as qualidades daquele rótulo.