Uma das cidades mais cobiçadas para aqueles que buscam cultura, conforto e boas opções gastronômicas do outro lado do mundo
Por João Calderón Publicado em 07/07/2016, às 11h00
Vista da Rainbow Bridge, com a Tokyo Tower ao fundo, dois dos pontos turísticos da capital japonesa
Final de março e início de abril, começo da primavera. Esse é o período tão aguardado pelos milhões de turistas que visitam Tóquio e, principalmente, pelo próprio japonês. A época da transição, do florescimento das cerejeiras, da esperada Sakura, que simboliza as nuvens e representa metáforas da natureza efêmera da vida. Sua extrema beleza e o seu rápido desfecho foram sempre associados à mortalidade e, por isso, passou a ter um rico simbolismo, sendo utilizada em peso nas músicas, nos desenhos dos quimonos, nos mangás, animês etc. A Sakura representa também a estação da primavera e o amor. Durante a II Guerra Mundial, ela foi utilizada para motivar o povo japonês e acender o espírito nacionalista.
Dentre os principais locais procurados para o Hanami – o instante de ver e apreciar as cerejeiras –, há alguns dos principais parques na capital japonesa, como o Shinjuku Gyoen, com mais de mil cerejeiras, o Ueno, um dos mais populares para os festivais de Hanami, e também o Yoyogi. Uma megalópole como Tóquio, no entanto, não vive somente em torno dessa época de floração.
A sua arquitetura também acabou sofrendo alterações ao longo da história e recentemente correu riscos de ser completamente destruída. Primeiro, no grande terremoto de 1923. E, logo em seguida, vítima da II Guerra Mundial, que assolou o país inteiro. É exatamente devido a esses acontecimentos que a capital é constituída por prédios modernos. Essa característica acaba se transformando em uma das maiores atrações de Tóquio, tanto que muitas das principais edificações conhecidas internacionalmente estão por lá, como o Tokyo International Forum, a Rainbow Bridge, a Tokyo Skytree (torre mais alta do Japão e uma das maiores do mundo), a sede da Fuji TV em Odaiba, além da Tokyo Tower.
Esta última é um dos passeios favoritos dos turistas. Com dois observatórios, você pode subir e ter uma das melhores vistas da capital. Ainda, se tiver sorte de ir em um dia sem névoa, é possível avistar o Monte Fuji, a montanha mais alta do Japão, com 3.776 metros. O que muitos podem desconhecer é que se trata de um vulcão ativo, mas sua última erupção tendo acontecido em 1708. Em dias ensolarados, pode ser visto de Tóquio. Mas, caso prefira vê-lo mais de perto, uma ótima experiência é viajar para Kyoto no Shinkansen, o famoso trem-bala japonês. Um dos melhores ângulos do Fuji vem da estação Shin-Fuji. Você não vai se arrepender.
A Tokyo Skytree (torre mais alta do Japão) tem dois observatórios, onde se pode subir e ter uma das melhores vistas da capital. Em um dia sem névoa, é possível avistar o Monte Fuji
Em Tóquio, há diversos parques para o Hanami – o instante de ver e apreciar as cerejeiras
Deixando a Tokyo Tower e o Monte Fuji de lado, vamos continuar o itinerário no coração histórico e geográfico da capital, o Palácio Imperial. Protegido por muralhas do século XVI, ele foi reconstruído em 1968. Ao seu redor, estão a famosa Nijubashi, uma ponte de pedra de 1888, e os jardins do leste. Após um passeio agradável pelos jardins já em direção ao bairro Ginza, não deixe de passar pela Tokyo Station, a imensa estação com seus tijolos vermelhos que rompem completamente com a arquitetura da cidade. Ela foi construída por Tatsuno Kingo em 1914, inspirada na estação central de Amsterdã.
Passando pela estação, você chega à requintada Ginza, o metro quadrado mais caro do mundo. Em uma de suas principais ruas, a Chuo-dori, podem ser encontradas lojas de diversas grifes de luxo, além de grandes docerias. Visite o Sony Building, o showroom da marca, a Muji, que possui seu maior estabelecimento ali mesmo, e também a Mitsukoshi, a mais antiga das lojas de departamento do bairro, com uma seção específica para quimonos. Ainda em Ginza, está situado o Kabuki-za, principal palco do tradicional teatro Kabuki, épico e colorido, e interpretado exclusivamente por homens.
Parque Ueno, um dos mais populares para os festivais de Hanami
De Ginza, vá de metrô para Shibuya, uma das partes mais modernas que tanto representa a imagem de Tóquio para o mundo ocidental. Uma “Torre de Babel” da moda. E é justamente na saída Hachi-ko da estação Shibuya que são observados as telas luminosas gigantes e os inúmeros outdoors – além de serem ouvidos os alto-falantes em volumes estrondosos –, e onde está localizada a Shibuya Crossing, um dos cruzamentos mais emblemáticos de Tóquio, a “Times Square” deles. Para caprichar, termine o dia em outra zona peculiar da cidade, em Roppongi, bairro famoso por suas noites e seus bares para ocidentais.
Ryokan é a tradicional hospedaria nipônica e proporciona uma oportunidade única de conhecer o estilo de vida típico do japonês
Em Tóquio, não deixe de visitar os bairros de Ginza e Shibuya
A estadia é também uma das principais atrações em Tóquio quando se opta pela tradicional hospedaria nipônica, o Ryokan. As diárias incluem um imperdível jantar, servido no próprio quarto, além de um café da manhã reforçado. Os Ryokans proporcionam aos ocidentais uma oportunidade única de conhecerem o estilo de vida típico do japonês, e compreenderem o prazer que aquele povo detém em bem servir.
As melhores opções para se hospedar à moda da casa são os pertencentes à Ryokan Collection, uma espécie de Relais Châteaux dos Ryokans, que possui três pontos nas proximidades de Tóquio – o Asaba, o Niki Club e o Yama no Chaya.
A estadia em um Ryokan, ainda que somente por uma noite, é recomendada. Porém, para aqueles que não querem (ou não podem) ousar muito, duas outras opções seriam o Mandarin Oriental de Tóquio, localizado no bairro de Nihonbashi, ou o tradicional Imperial Hotel, muito próximo ao Palácio Imperial.
Na manhã seguinte, volte para perto de Shibuya e inicie o dia no Yoyogi Park, próximo ao Estádio Nacional que foi construído para os Jogos Olímpicos de 1964. Ainda passeando pelas dependências do parque, não deixe de visitar o Meiji Jingu, um santuário xintoísta dedicado ao imperador Meiji. É ali que, em alguns domingos, acontecem casamentos tradicionais imperdíveis para os curiosos de plantão.
Em seguida, deixe o local pela rua Omote-Sando, a Champs-Élysées de Tóquio, a qual ostenta as diversas vitrines da alta costura mundial. Uma das mais famosas é a loja da Prada com sua fachada de vidros em forma de trapézios. Ainda por ali, passe pela Takeshita-dori, uma ruela bastante barulhenta, repleta de lojas de roupas, restaurantes fast-foods e cabelereiros que o farão compreender um pouco do universo jovem dos japoneses e de suas distintas tribos. De volta a Omote-Sando, vá ao Oriental Bazaar e compre o seu souvenir, um clichê obrigatório de todas as viagens.
Em cada restaurante, vê-se a atenção aos detalhes, algo tão enraizado na cultura do país
Não adianta, mal você abre os olhos e a Tóquio Gourmet bate à sua porta para oferecer seu cartão de visitas. Aproveite o seu jet-lag para se programar e ir ao mercado de peixes de Tsukiji. Em todas as manhãs, o local se transforma em um mundo ruidoso, quase caótico, mas, acima de tudo, fascinante. São quase 2.800 toneladas de peixes de todo o mundo por ali, movendo-se em carrinhos elétricos. Não hesite: é lá mesmo que você irá ficar maravilhado com cardumes de verdadeira qualidade, caranguejos gigantes, camarões de tamanhos e cores nunca antes vistos, frutos do mar exóticos, como pepino-do-mar ou abalones, e, certamente – o mais importante de tudo e o verdadeiro astro do local –, o atum. Exatamente às 5h30, ocorre o leilão de atum – muitas vezes comercializado por milhões de ienes –, uma atração imperdível.
Um detalhe, todavia, para ficar atento: antes de ir ao mercado, descubra se o acesso estará aberto ao público naquele dia. Caso esteja, registre-se logo em seguida, pois, no Japão, tudo é organizado. E principalmente quando o assunto é comida, limpeza vem em primeiro lugar.
Os próprios japoneses costumam dizer que nenhuma visita ao Tsukiji está completa sem um desjejum de sushis. Portanto, esqueça o horário e vá a um dos counters que contenham o prato. Dentre as melhores opções da cidade estão o Sushi Dai e o Daiwa-Zushi.
Bom, passado o café da manhã? Então, logo chega o momento de procurar um almoço mais simples para entender melhor a cultura japonesa. Vá a uma das casas de lamen (que você facilmente encontrará) e peça o seu através de uma máquina que lembra as de refrigerante. Escolha seu prato como se comprasse uma Coca-Cola e, em instantes, um dos garçons irá trazer a sua revigorante refeição.
À tarde, faça um passeio pelas delicatessens e, seguramente, irá se impressionar com a qualidade de um simples biscoito e também com o cuidado com que cada embalagem é elaborada, desde os pacotes das bolachas até as latas dos tão consumidos cafés.
Os restaurantes japoneses, de maneira geral, são bem específicos, cada um com a sua especialidade, na qual o dono perseguirá incansavelmente a perfeição, como nos mostra o documentário “Jiro Dreams of Sushi”, que conta justamente essa busca de Jiro Ono, dono do Sukiyabashi Jiro, sua primeira parada à noite. Um restaurante que serve somente sushis e atingiu recentemente três estrelas no célebre Guia Michelin. Ainda em tal especialidade – os saborosos sushis –, visite o Sawada, que é, para muitos, o estabelecimento com o melhor sushi do mundo. A rede, de duas estrelas Michelin, possui somente sete locais, por isso não vá sem antes fazer reserva. E vale a pena lembrar: gourmands japoneses descrevem o restaurante situado em Ginza como o mais difícil para se conseguir um lugar em toda a cidade.
Wine Bar Mayu e Jip Wine Bar (abaixo) são opções para degustar bons vinhos em Tóquio
Para quem aprecia vinhoA bebida fermentada tradicional do Japão é o saquê e não o vinho, mas, ainda assim, na capital há bons lugares para quem quer desfrutar do fermentado de uva. Um deles é o Jip Wine Bar, que costuma servir vinho branco japonês em taça. Ao lado, há uma loja com mais de 400 rótulos do mundo. Há ainda o Wine Bar Mayu (casulo, em japonês), com oito salas de estilo casual onde se pode apreciar bons pratos e vinhos. Para quem quer várias opções de rótulos, uma saída é o Rigoletto, com mais de 2 mil garrafas na adega. O bar tem um terraço com vista panorâmica da estação de Tóquio. Outro ponto é o Bistro-SHIN, com ótimos preços de vinhos servidos em taça ou garrafa. Por fim, o Bongout Noh tem estilo bistrô francês e excelentes opções tanto de vinho quanto de pratos. Ele fica aberto até as 3h da manhã. |
Na noite seguinte, mudando de ares, busque outra especialidade. Vá ao Inakaya Nishi, especializado em Robatas, espécie de churrasco japonês, e se delicie com o frescor dos peixes assados inteiros, ou com a celebrada carne da raça Wagyu. A experiência no restaurante, mais do que gastronômica, é cultural, beirando quase o teatral, devido à maneira como o serviço é elaborado. E, para fechar a visita muito bem, escolha entre os minimalistas e perfeccionistas do Narisawa ou o Ryugin, também na lista dos 50 restaurantes com melhor gabarito do planeta. Com certeza, ao final da magnífica noite, você ficará lisonjeado com o atendimento no local. “Muito obrigado” você deve querer dizer em um bom português. Mas, na terra do sol nascente, se já estiver um pouco mais familiarizado com o idioma nipônico, agradeça em um tradicional “arigatou gozaimasu”.