Redação Publicado em 20/03/2020, às 10h00 - Atualizado em 26/03/2020, às 13h27
O que faz o Brunello di Montalcino, feito de Sangiovese, uva típica da Toscana, se diferenciar?
Todos os anos, na noite que antecede o Benvenuto Brunello (que acontece durante as Anteprime di Toscana, evento anual para lançamento das novas safras da região), a família Cinzano, proprietária da Tenuta Col d’Orcia realiza um disputado jantar de boas-vindas a Montalcino para a imprensa especializada. Já é tradição nesses jantares que os vinhos selecionados tenham uma relação com o ano do evento, assim, em 2019, foram selecionados Brunellos di Montalcino de safras final 9.
Os Cinzano, família piemontesa tradicional no ramo de bebidas (vermute e espumantes) há várias gerações, adquiriram a tenuta, localizada ao sul da cidade de Montalcino, em 1973. Administrada pelo Conde Francesco Maroni Cinzano desde 1991, a propriedade possui cerca de 540 hectares sendo mais de 140 deles de vinhedos certificados orgânicos, 100 somente de Sangiovese, o que a torna uma das três vinícolas com maior área plantada da denominação.
Col d’Orcia é reconhecida pela qualidade e longevidade de seus vinhos, tendo uma das maiores reservas de safras antigas de Brunello di Montalcino. Além de serem abertas em ocasiões especiais, a boa notícia é que algumas garrafas dessa biblioteca podem ser compradas diretamente na loja da vinícola. Verdadeiras joias, que atestam a grande capacidade de envelhecimento desses vinhos e colocam a Tenuta entre os melhores e mais tradicionais produtores da região.
Voltando ao jantar. Para acompanhar o menu elaborado pelo restaurante estrelado Il Silene, do chef Roberto Rossi, foram selecionados Col d’Orcia Rosso di Montalcino 2009 (servido em double magnum), Col d’Orcia Brunello di Montalcino 2009 (em magnum) e também 1989, Col d’Orcia Brunello di Montalcino Riserva 1979 e 1969, e Poggio al Vento Brunello di Montalcino 1999 (em magnum), cobrindo assim, cinco décadas.
Servidos isoladamente, todos os vinhos seriam estrelas, mas, nessa noite memorável, o grande destaque ficou com o Poggio al Vento 1999, ícone da casa elaborado sempre a partir do vinhedo de mesmo nome plantado em 1974, somente em grandes safras, sendo a primeira delas em 1981. Os Riserva 1979 e 1969 impressionaram por estarem inteiros, cheios de frescor, com a finesse e precisão característica da casa. Menção honrosa para o Rosso 2009, cheio de tipicidade e não aparentando ter 10 anos, talvez beneficiado pelo formato double magnum da garrafa servida.
Vista do Castello Banfi, um dos maiores produtores da região
Vinícola histórica de Montalcino, os primeiros registros de sua história moderna são de 1890, quando a família Franceschi, de Florença, comprou a propriedade, na época conhecida como Fattoria di Sant'Angelo in Colle. Em 1933, a Fattoria apresentou seus vinhos na Exposição de Vinhos de Siena, uma das primeiras feiras na Itália, muito antes do Brunello di Montalcino ser reconhecido como um vinho de classe mundial.
Em 1958, os irmãos Leopoldo e Stefano Franceschi herdaram a propriedade e a dividiram em duas. Os termos da separação proibiam os irmãos de usar o nome existente Fattoria di Sant'Angelo in Colle. Então, Stefano Franceschi nomeou sua tenuta de Col d’Orcia (colina acima de Orcia) e a parte de Leopoldo se tornou o que hoje é o conhecido produtor Il Poggione. Stefano Franceschi e sua esposa não tiveram filhos e em 1973 venderam a tenuta para a família Cinzano.
Nessa época, em Col d’Orcia eram cultivadas, como era usual, trigo, tabaco, azeitonas e, também, uvas. Prova disso, é que uma das principais construções que existem até hoje foi um moinho na antiga Fattoria di Sant'Angelo in Colle. Em 1973, ainda havia poucos hectares de vinhedos plantados na propriedade, que foram expandidos até 70 hectares durante a administração de Alberto Marone Cinzano. Em 1991, Francesco, filho de Alberto, assumiu a propriedade, continuando o plantio de vinhedos até chegar nos atuais 144 hectares cultivados. Sob sua administração, que perdura até hoje, a adega de vinificação e a sala de botti foram modernizadas e a propriedade recebeu a certificação de cultivo orgânico, além de promover estudos aprofundados, em conjunto com a Universidade de Firenze, para aprimorar e identificar os clones de Sangiovese mais propícios para serem cultivados na região de Montalcino, disponibilizando-os para todos produtores da região.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de Sangiovese, com estágio de 12 meses parte em tonéis de carvalho do leste europeu, parte em barricas de carvalho francês. Delicioso, chama atenção pela vivacidade mesmo com 10 anos, o que costuma ser muita idade para um Rosso. Mostra estilo de frutas negras e vermelhas mais maduras, acompanhadas de notas especiadas e de couro, tudo equilibrado por refrescante acidez e taninos de ótima textura. Tem final agradável, com toques minerais e de cerejas. Álcool 14,5%.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de Sangiovese, com estágio de 36 meses em tonéis de carvalho (25, 50 e 75 hl) francês e do leste europeu, além de mais 12 meses em garrafa. Cheio de tipicidade, chama atenção pela nitidez e qualidade de fruta vermelha madura acompanhada de notas especiadas, terrosas e de ervas, que se confirmam no palato. Tem acidez vibrante, taninos de grãos finos de ótima textura e final longo e persistente, com toques de cerejas. Álcool 14,5%.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Sangiovese advindas do vinhedo Poggio al Vento, plantado em 1974, com estágio de 36 meses em tonéis de carvalho francês e do leste europeu, além de mais 24 meses de garrafa. Mostra excelente equilíbrio entre sua fruta vermelha madura e sua vibrante acidez, tudo mostrado com muita precisão, tensão e refinamento. Os taninos são finíssimos e o final é longo e persistente, com toques florais, terrosos e especiados. Álcool 14%.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de Sangiovese, com estágio de 36 meses em tonéis de carvalho (25, 50 e 75 hl) francês e do leste europeu, além de mais 12 meses em garrafa. Mostra ervas e notas terrosas, além de toques florais e especiados, tudo num contexto de fruta vermelha e negra mais evoluída. Tem taninos de ótima textura e boa acidez, com menos profundidade se comparado às safras 2009, 1999, 1979 e 1969 provadas nessa mesma degustação.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Sangiovese, com estágio de 36 meses em tonéis de carvalho francês e do leste europeu, além de mais 24 meses de garrafa. Ainda vivo e vibrante, mostra notas terrosas, de tabaco, de couro e de especiarias, acompanhadas de refrescante acidez e taninos amaciados pelo tempo. Fluído, equilibrado e uma delícia de beber.
Col d’Orcia, Toscana, Itália. Tinto elaborado exclusivamente a partir de uvas Sangiovese, com estágio de 36 meses em tonéis de carvalho francês e do leste europeu, além de mais 24 meses de garrafa. No início, estava um pouco fechado, mas depois foi abrindo para mostrar notas florais e de couro acompanhadas de frutas vermelhas licorosas. Apesar do perfil evoluído esperado para um vinho de 50 anos, surpreende pela persistência, vivacidade e profundidade, tudo acompanhado de deliciosa acidez.