Entre moinhos e oliveiras

Conheça as principais características do óleo da terra "del ingenioso hidalgo"

João Calderón Publicado em 22/02/2012, às 13h21 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h48

 

Terra dos moinhos consagrados por Cervantes, Castilla-La Mancha é uma comunidade autônoma espanhola formada pelas províncias de Albacete, Ciudad Real, Cuenca, Guadalajara e Toledo, localizada quase que no centro do país, grudada à Comunidade de Madrid.

A região é basicamente o que seria a antiga Castilla La Nueva, excluindo-se Madri, que hoje possui sua própria comunidade autônoma. Castilla La Nueva, por sua vez, foi formada pela antiga Taifa (Reino) de Toledo, uma das Taifas do reino Al-Ándalus (nome dado à Península Ibérica pelos conquistadores islâmicos) e cuja capital foi tomada por Alfonso VI de Castilla, em 1085. Um pouco mais tarde, em 1177, foram conquistadas as terras de Cuenca e a parte meridional restante, somente consolidadas pelas conquistas de Alfonso VIII de Castilla após a batalha de Navas de Tolosa, marco na reconquista dos reinos cristãos. E a partir de então, a região passou a fazer parte do Reino de Castilla.

Mas o que tornou Castilla-La Mancha extremamente conhecida não foi precisamente sua história real, e sim a obra-prima de Miguel de Cervantes Saavedra, "El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha", como foi originalmente publicada sua primeira parte, no início de 1605. E foi em 1615 que apareceu a segunda parte da mais importante obra espanhola, "El Ingenioso Caballero Don Quijote de La Mancha".


O óleo de oliva de Castilla-La Mancha está baseado no cultivar Cornicabra, um dos únicos produzidos na região


Da literatura para a gastronomia
Não é somente para a literatura que o principal livro da língua espanhola foi fundamental, mas também para a cozinha manchega e castelhana. Ao longo do livro, Cervantes faz referência a aproximadamente 150 receitas e pratos tradicionais da região, como, por exemplo, os famosos "duelos y quebrantos" (ovos mexidos com chouriço e toucinho), o pisto manchego (uma fritada de verduras) e as migas (elaboradas a partir de pão velho), presentes até hoje na maioria das cartas da região.

A cozinha de Castilla-La Mancha é basicamente formada por pratos fortes e de elaboração simples, utilizando-se dos principais produtos locais: legumes, verduras, carnes, queijos e vinhos, isso sem falar no óleo de oliva. A região é a segunda maior produtora espanhola, atrás apenas da maior do mundo, a Andaluzia.


O óleo
De suas cinco províncias, três delas - Albacete, Cuenca e Guadalajara - possuem uma pequena produção de azeite de oliva. As duas restantes, Ciudad Real e Toledo, no entanto, compensam as outras pela quantidade e qualidade de seu óleo.

O óleo de oliva de Castilla-La Mancha está muito baseado no cultivar Cornicabra, um dos únicos produzidos na região. O azeite extravirgem produzido a partir dessa variedade de oliva costuma ser suave, encorpado, frutado e aromático, com notas amendoadas e de maçã, um bom amargor e agradável picância. São também azeites estáveis e duradouros, e que podem ser utilizados como excelentes blendings. Por isso, algumas cooperativas vendem toda a sua colheita para blenders italianos.

Outro cultivar que é encontrado na região é o Blanqueta, também comum nas regiões de Valência e Alicante. É uma variedade de azeitona relativamente pequena, porém com uma grande quantidade de óleo. O nome foi dado devido a sua cor esbranquiçada. Seu óleo costuma ser aromático e frutado, com um retrogosto de tomates.


DOP Montes de Toledo
A Denominação de Origem Protegida de Montes de Toledo está na zona onde o cultivo é o mais intenso da região, no sudoeste de Toledo e nordeste de Ciudad Real. A DOP compreende aproximadamente 30 mil hectares que produzem um óleo de oliva monovarietal de excelente qualidade, elaborado a partir do principal cultivar da região, Cornicabra. Variando um pouco de acordo com a época de sua colheita e a localização especifica do olival, a cor dos azeites pode ir do verde ao dourado. Seu aroma é frutado e o sabor, delicado, com notas amendoadas.