Grandes Cuvées de Champagne

Principais produtores estão fazendo espumantes cada vez mais elaborados, que instigam os

Aguinaldo Záckia Albert Publicado em 02/02/2009, às 13h07 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45

Vinho não é só sabor e sensação. Existem os valores simbólicos que a ele se associam, como as idéias de raridade, exclusividade e riqueza que, em maior ou menor grau, sempre o acompanharam e, de modo especial, o champanhe. Pode-se, no entanto, perceber que esses conceitos nunca apareceram no chamado "imaginário do champanhe" de forma tão exagerada como em nossos dias. Nesses tempos em que o dinheiro correu solto (pelo menos até agora) e que novas grandes fortunas se formaram, o mercado de produtos de luxo floresceu e os produtores de Champagne aproveitaram a nova voga.

A região que produz os melhores espumantes do mundo sempre se caracterizou pelos vinhos de "assemblage", ou seja, elaborados com a mescla das uvas permitidas na região (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier). Estas castas - na maioria dos casos - oriundas de vinhedos diversos. Da mesma forma, esses champanhes costumam não mencionar no rótulo a safra, uma vez que são feitos com uma mistura de frutas de anos variados. Exceção feita aos millésimés ou vintages, com uvas de uma só colheita, que deve ser excepcional.

Curiosamente, porém, o que se observa nos últimos anos é o aumento significativo da produção de champanhes de alta gama, feitos com uvas de parcelas minúsculas, que muito raramente suplantam um hectare. Além disso, são vinhos millésimés, em sua maior parte elaborados apenas com uma casta. A tiragem desses cuvées d'exception é bastante limitada, o que só colabora para que seus preços cheguem às alturas, deixando o consumidor comum espumando de raiva por não poder comprá-los.

De luxo

A própria Maison Krug, que integra a elite dos produtores de Champagne e que se notabilizou por produzir grandes champanhes de assemblage, embarcou na nova moda. Seu Clos du Mesnil - por sinal um champanhe excepcional - é um espumante monocasta , "mono- cru", e safrado, a antítese da filosofia da casa.

Um de seus proprietários, Olivier Krug, explica que tudo ocorreu por acaso. Em 1971, a Maison comprou um vinhedo de oito hectares, do qual fazia parte um clos (vinhedo murado) de 1,85 hectare, cujas uvas entravam na mescla de seu champanhe Salon. Perceberam então características especiais nesse vinho e resolveram produzir o Grande Cuvée Clos de Mesnil, um lote de 12 mil garrafas da safra 1998. Com a boa recepção do mercado, acabam de lançar mais um produto de alto luxo, o champanhe Clos d'Ambonnay, safra 1995. Um Pinot Noir cuja garrafa custa a bagatela de 3 mil euros! E ainda assim na França...

Vinhedos do Clos de Saint-Hilaire

A Maison Billecart-Salmon segue a mesma trilha. Ela possui um pequeno vinhedo, de um hectare, em Mareuilsur- Ay, de nome Clos Saint-Hilaire, que produz apenas Pinot Noir. Com essas uvas, elabora o seu Grand Cru Clos Saint-Hilaire. Apenas dois lotes ganharam o mercado até agora: as safras 1995 e 1996. O vinho passa por um longo período de élevage (oito anos de adega) e seu chef de cave garante que os champanhes das safras 1997, 2000, 2001 e 2003 não serão produzidos.

#Q#

Já o Clos de Goisses se situa em uma encosta abrupta também na pequena cidade de Mareuil-sur-Ay. Esse lote de 5,5 hectares pertence à Maison Philipponnat e seu nome é derivado da expressão "gois", que no dialeto local significa "tarefa árdua" - para que se tenha idéia da posição das vinhas. Aqui, apenas o vinhedo e a safra são únicos, pois na composição do champanhe entram duas cepas: Pinot Noir (2/3) e Chardonnay (1/3). O Clos des Goisses não sai todo ano e cerca de metade das uvas colhidas são descartadas, a fim de se ter a melhor matériaprima possível. Evidentemente, o preço do champanhe é compatível com o rigor da produção.

Outras Grandes Cuvées de casas famosas de Champagne também surgiram dentro do conceito de "mercado de luxo", cuja filosofia é produzir pouco e com alta qualidade para que seus produtos sejam raros e atinjam altos preços. A Bollinger, por exemplo, tem seu champanhe Vieilles Vignes Françaises - feito com uvas de vinhedos de pé-franco pré-filoxera (sem enxertia).

Caves da Maison Philipponnat

Bom e "barato"

Podemos citar ainda alguns outros produtores de novos champanhes de alta gama, elaborados com uvas de um único vinhedo, mas não do tipo clos (murado). São produtos de alta qualidade e que têm, felizmente, preços mais palatáveis, como o Vigne aux Gamins, um Grand Cru 100% Chardonnay da comuna de Avize, do produtor Alain Thienot. Outro blanc de blancs que a crítica internacional diz ser formidável é o Les Chaillots Gillis, de Nicolas Maillart. Para terminar, citamos um blanc de noirs feito só com Pinot Noir, o champanhe La Ravinne, da Maison Leclerc-Briant.

Conclamamos, desta forma, os "champanhófilos". Comecem a fazer alguma poupança para que possam ter a oportunidade de, em 2009, provar esses deliciosos néctares.