Pesquisa mostra que o vinho surgiu pelo menos 500 anos antes do que se imaginava
Arnaldo Grizzo Publicado em 28/08/2018, às 12h00
Um homem e sua equipe parecem que não se cansam de buscar as origens da produção do vinho no mundo. Patrick McGovern (que já vem sendo chamado de Indiana Jones do vinho) e alguns colaboradores acabaram de divulgar uma pesquisa em que mostram que a produção de vinho no mundo é mais antiga do que se imaginava.
Até pouco tempo atrás, a primeira evidência de vitivinicultura no Oriente Médio era da aldeia neolítica de Hajji Firuz Tepe, no noroeste da região de Zagros, no Irã, datando de aproximadamente 5.400-5.000 a.C. Lá foram encontrados seis frascos, dois dos quais foram analisados e mostraram a presença de ácido tartárico e uma resina de árvore. Acredita-se que, para que essa produção tenha ocorrido, uvas selvagens foram intencionalmente cultivadas ou até mesmo domesticadas na época.
Quem havia feito essa descoberta? A equipe de McGovern em 2007. Agora, porém, o cientista encontrou indícios de atividade vitivinícola anteriores a esse período em uma região da Geórgia. O estudo, chamado de “Early Neolithic wine of Georgia in the South Caucasus”, foi publicado na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences” no início de novembro.
As escavações, com apoio do governo georgiano, ocorrem nos sítios arqueológicos de Gadachrili Gora e Shulaveris Gora, cujos resquícios de objetos remontam a 6.000-5.800 a.C. Lá, a equipe encontrou oito jarros que revelaram a presença de ácido tartárico, málico, cítrico e succínico, que estão relacionados à vitivinicultura. Além disso, os jarros encontrados possuem adornos que lembram cachos de uvas.
“Acreditamos estar na presença dos vestígios da mais antiga domesticação de videiras silvestres na Eurásia com o único propósito de produzir vinho”, afirmou Stephen Batiuk, um dos pesquisadores envolvidos no estudo. Segundo ele, “o potencial hortícola do Cáucaso do Sul deveria conduzir à domesticação de muitas espécies novas e diferentes, e inovadores produtos ‘secundários’ poderiam surgir”.
A descoberta deixou os cientistas georgianos excitados. “A Geórgia tem 525 variedades de uvas, e as cepas silvestres ainda crescem aqui. Esta descoberta, dando provas adicionais de que a Geórgia é um lugar onde a cultura da vinificação tenha começado, certamente é muito emocionante para literalmente todos os georgianos – não só os profissionais ligados ao vinho –, pois a cultura da uva e do vinho é algo sagrado para os georgianos”, afirmou Tina Kezeli, diretora executiva da Georgian Wine Association, que também participou da pesquisa.
Mas apesar do entusiasmo dos georgianos, McGovern acredita que as origens da vinificação podem estar ainda mais distantes no tempo. Ele crê que os primeiros indícios podem estar nas proximidades do Líbano, onde McGovern acha que mais pesquisa poderia ser feita. “Uvas selvagens teriam crescido no Líbano, no norte de Israel, na Palestina – é aí que você tem uvas selvagens crescendo hoje e presumivelmente desde a última era do gelo”, afirmou McGovern.