Por que a WineRun no Vale dos Vinhedos é a meia-maratona temática em que todos os participantes não só querem voltar, mas também trazer amigos?
or Arnaldo Grizzo Publicado em 29/03/2017, às 11h55
Maraturismo. Essa é uma das melhores definições já feitas sobre a Caixa WineRun. O termo cunhado pelo jornalista Sérgio Xavier, competidor da meia-maratona realizada no Vale dos Vinhedos no dia 21 de maio, reflete a sensação que os 1.500 participantes têm dessa prova que mistura dois mundos tão fascinantes como o do esporte e do vinho.
Com sua primeira edição em 2012, a WineRun no Vale dos Vinhedos chega à sua quinta temporada como uma das corridas mais atraentes do Brasil, o que faz com que seus participantes, ano após ano, fiquem ansiosos por voltar e trazer amigos – pois, além de correr, todos aproveitam o fim de semana para desfrutar do melhor do turismo na região vitivinícola mais importante do Brasil, berço de alguns dos melhores vinhos do país e terra de tradições gastronômicas deliciosas.
Os eventos pré e pós-prova são tão concorridos quanto o percurso pelo qual os participantes passam durante a corrida. O percurso, aliás, coloca a meia-maratona na categoria de um trail run, com mais de 85% percorrido sobre superfície que intercala terra, cascalho e calçamentos com paralelepípedos, entre paisagens nativas e vinhedos.
Em 2016, a prova trouxe ainda um outro desafio: frio e neblina, típicos do inverno na Serra Gaúcha. Mesmo assim, as dificuldades do trajeto são enormemente compensadas pelo ambiente e organização – como atestam até mesmo o vencedores da WineRun. “Foi uma prova dura, com muitas subidas. O cenário, porém, é gratificante.
O clima de confraternização pré-prova e a festa pós-corrida valem muito. É a única corrida gourmet do país”, afirma Daniela Santarosa, campeã entre as mulheres. “A pista estava úmida, muito lisa, com cascalho solto na maior parte do percurso. Foi uma prova muito difícil, mas o cenário compensa. Foi um trajeto muito bacana”, destacou Ricardo dos Santos, campeão entre os homens.
Para atestar o quanto os atletas estimam a WineRun e colocam-na no seu calendário, basta lembrar que Daniela já havia vencido a prova no ano passado, mas na categoria “dupla mista”. “Agora teve um gosto especial, porque ganhei sozinha”, afirmou. Já Santos, que fez sua estreia na meia-maratona vínica neste ano, garante que quer voltar em 2017: “Quero baixar meu tempo”, revelou. “Conhecer o principal destino de enoturismo do Brasil, correndo por suas lindas paisagens, é inesquecível.
Ao associar isso à cultura do vinho, faz-se com que as pessoas voltem ano a ano, e cada vez com mais amigos. Este ano, mais de 30 assessorias esportivas inscreveram seus atletas para correr e celebrar”, revelou Christian Burgos, publisher da revista ADEGA. “Oferecemos entretenimento esportivo temático nos melhores destinos vitivinícolas do país para aqueles que têm a corrida como esporte e o vinho como estilo de vida”, pontua Sérgio Oprea, diretor da Zenith Sports Marketing, uma das organizadoras do evento.
Assim, a WineRun atrai atletas de todo o Brasil. Neste ano, corredores de 17 estados participaram, a maioria (58%) mulheres. Além de percorrer os 21 km da prova em meio à natureza, os participantes podem aproveitar o fim de semana para realizar tours guiados por vinícolas, passear de Maria Fumaça e participar de degustações de sucos de uva, vinhos e espumantes, entrando em contato com a cultura e a gastronomia da Serra Gaúcha. Definitivamente, um “maraturismo”.
Mais Wine do que Run
PorSérgio Xavier*
Dura. Não, duríssima. Encarar os 21 km da WineRun em Bento Gonçalves é tarefa para bravos. Uma meia com aromas de maratona. Olhei o percurso no mapa, achei que conseguiria completá-la no sábado, 21 de maio, em menos de duas horas. E passeando, olhando os vinhedos, batendo papo. Engano. Fiz força, suei a camiseta para fechar a conta em 2h06min. A altimetria da prova é danada mesmo.
A grosso modo, 2 km de um plano com tendência de descida em estrada de terra. Aí, uns 5 km de ladeira abaixo. Depois, uns 3 ou 4 km de ladeira acima. Um sobe e desce no miolo e mais 1 km final em subida. Difícil correr. Sobretudo porque a grande descida acontece no início da prova. Os quadríceps gemem para brigar contra a gravidade. Pedem pela mãe. Para a musculatura, seria melhor o inverso, primeiro a subida – que força mais o motor – e depois a descida – que exige da carenagem. Dura. Não, dura e deliciosa.
Eis o paradoxo da WineRun. Um evento com durezas e molezas. Bento Gonçalves, para quem não sabe, virou mais um polo turístico do que um centro produtor de vinho. O Vale dos Vinhedos é uma região que está tomada por hotéis e restaurantes. Claro, há vinícolas e vinhedos, mas o “enogastroturismo” está ganhando o jogo. Lugar lindo. Comida da pesada, vinhos cada vez melhores.
Não só os espumantes e brancos, a grande vocação brasileira, mas vários bons tintos. Modéstia à parte, fui bem demais na WineRun. Principalmente na parte wine da coisa. Degustações, o nariz está melhorando. Já acerto alguns palpites antes de saber exatamente o que estou tomando. Rá! Bem, na corrida ainda sigo um covarde para descer ladeiras. Com medo de cair, vou travando e abusando do freio a disco.
Fato é que, nesse fim de semana, comi e bebi de tudo com amigos, com a família. Demais. A dificuldade da prova foi, de certa forma, o jeito de equilibrar a balança. A cada subida mais forte, lembrava do rondelli e da codorna. E pensava que era hora de pagar a conta da refeição anterior. Justo. Dá para inverter tudo.
Levar a corrida mais a sério, olhar fixo para o GPS, evitar sucos de uva fermentados em barricas de carvalho. Pode ser. Mas acho que não vale a pena. Na WineRun a corrida precisa ficar em segundo lugar. E, em tempos olímpicos, sempre bom lembrar: terminar em segundo rende medalha de prata.
*comentarista do SporTV e maratonista