O que faz um sommelier de charutos? Quais são os segredos da harmonização entre fumo e bebidas? O sommelier Rodrigo Gorga responde a essas e outras perguntas.
Tatiana Fraga Publicado em 30/11/2005, às 13h33 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h43
Gorga diz que existem alguns preceitos na harmonização, mas não regras rígidas: "A única coisa que não vale é não tentar harmonizar com nada". Existem, porém, algumas preferências mundiais; algumas bebidas quase que unanimemente eleitas pelos fumadores como mais harmônicas. São elas: o conhaque ou armanhaque; o rum (a mais tradicional e mais consumida ao lado de charutos); o vinho do Porto; o uísque e as outras bebidas, entre elas, o vinho e a cerveja. "A harmonia ideal é aquela que permite sentir o sabor do charuto, o sabor da bebida, e um último sabor, novo e harmônico. A grande chave é que os sabores e aromas se completem e nunca se sobreponham", explica o sommelier.
Entre bebidas e charutos, como também na harmonização entre vinhos e comidas, o que deve ser levado em conta em primeiro lugar são obviamente os aromas e sabores particulares. "Em segundo lugar, e aí é que está o grande lance, é o teor alcoólico da bebida". Bebidas com alto teor alcoólico têm poder adstringente, 'limpam a boca' e aguçam as papilas gustativas, por isso o sucesso da harmonização entre charutos e o conhaque ou o rum. Para as outras bebidas, então, quanto mais alcoólicas, melhor: as cervejas especiais são as mais recomendadas e os vinhos tintos mais encorpados também caem bem.
Uma sugestão inusitada de Rodrigo Gorga é combinar o charuto com café expresso e água com gás: "Nesse caso, as 'bolinhas' fazem o papel do álcool; o café e o charuto combinam por seus tons tostados e paladar de personalidade. Pode ser experimentada em qualquer hora, em qualquer lugar e é muito barata também", diz Gorga. "Isso para acabar com o mito de que fumar charuto deve ser caro e pomposo".
Vinhos e charutos
Assim como nos vinhos, também podem ser encontrados centenas de aromas nos charutos, porém, alguns são mais comuns: 1.especiarias, como a pimenta preta; 2.madeira, como o cedro; 3.caramelo ou achocolatado; 4.terra úmida; 5.musgo e 6.couro. O blend do sabor é resultado do mix de folhas encontrado na bucha do charuto, a parte interna, onde se concentram 80% das folhas e do sabor. O capote é a folha que segura a bucha e, por fim, tudo é revestido por uma capa, feita com outra folha, que pode ser clara ou escura. Na capa estão concentrados de 10 a 20% do sabor. No Brasil, a produção de charutos de capa clara ou escura se concentra na Bahia, onde o clima é mais parecido ao de Cuba. "São três as regiões de charuto no mundo: Cuba, Brasil e República Dominicana. O restante da produção é difusa", explica Gorga.
A grande diferença entre os dois tipos de revestimento recai, obviamente, no sabor. "Os de capa clara tendem a começar mais suaves e, no final, trazem mais amargor e acidez. Os de capa escura começam mais amadeirados e vão bem até o final. Não existe nenhum que seja melhor; existem, sim, paladares diferentes. O melhor é o que a sua boca gostar", afirma o sommelier. E finaliza: "Degustar charutos é uma arte. Tem o poder de tirar a pessoa do estresse do dia-a-dia, além de agregar amizades. Sabendo, é claro, sempre respeitar e não incomodar os outros".