Redação Publicado em 09/02/2020, às 14h47 - Atualizado em 15/02/2020, às 09h53
O Guia ADEGA de Vinhos do Brasil começou em 2011 e desde então vem mapeando a evolução do vinho brasileiro. Não só a evolução qualitativa, como também a expansão de algumas fronteiras, com novos terroirs se desabrochando desde aquela época e rapidamente produzindo vinhos de destaque. Com tanto tempo avaliando o que de melhor a indústria nacional produz, podem-se notar tendências.
A primeira e mais óbvia é a vocação para os espumantes. Há tempos que as médias de pontuação desses vinhos são as mais altas e cada vez mais rótulos se destacam, ficando entre os melhores do ano. Neste ano, assim como no anterior, dois espumantes foram os campeões: Luiz Argenta Cave Rosé Nature 2013 e Peterlongo Champagne Elegance Nature. Vale apontar que os nature, ou seja, os espumantes que não recebem açúcar no licor de expedição, apresentaram mais de 90 pontos de média.
Mas não se pode dizer que apenas os espumantes “ultra-secos” merecem reconhecimento. Este ano serviu mais uma vez para ratificar uma tendência que se percebe há muito tempo: a consistência dos espumantes feitos de Moscatel. Por mais que alguns enófilos ainda torçam o nariz quando se fala de Moscatel, por ser doce e menos alcoólico, devemos reconhecer que a qualidade média é sempre muito alta.
O Guia ADEGA deste ano avaliou 550 amostras de 63 produtores. Dos 404 vinhos classificados, mais de 50% eram espumantes. Os dois campeões tiveram 93 pontos, mesma pontuação dos vencedores do ano anterior (Casa Valduga Sur Lie 30 meses Nauture e Victoria Geisse Cuvée Sofia Extra Brut Vintage 2013). Vale ressaltar que, há três anos, sempre há um espumante nature entre os melhores vinhos do Guia. Curiosamente, neste ano novamente um Vintage 2013 apareceu entre os destaques, apesar de a safra não ser considerada excepcional. E também não é a primeira vez que a vinícola Luiz Argenta, de Flores da Cunha, estampa um dos rótulos premiados do Guia, tendo já “vencido” com o Luiz Argenta Brut 48 meses, em 2016, e o Merlot Uvas Desidratadas 2009, em 2014. Já a Peterlongo aparece pela primeira vez entre os melhores do ano. ADEGA conversou com os responsáveis pelos dois vinhos campeões. Confira.
Edegar Scortegagna, enólogo da Luiz Argenta, não duvida da vocação da região de Flores da Cunha para brancos e espumantes. Ele diz que 2013, por exemplo, não foi uma safra considerada excepcional, pois ela não foi excelente para todas as uvas, mas foi, sim, uma safra boa. Sua escolha para este vinho foi a Pinot Noir, 100%, colhida no final de janeiro, que foi vinificada em rosé. “Uma vez elaborado o vinho base, ele acabou de fermentar em final de fevereiro e ficou no tanque com as leveduras até outubro, fazendo sur lie, isso garantiu uma estrutura, uma parte de polissacarídeos mais intensa na boca”, aponta o enólogo. Em outubro, começou-se a preparação para o licor de tirage, que faz a segunda fermentação em garrafa.
“A segunda fermentação foi feita com temperatura controlada de 12ºC e, finalizada a fermentação, esse espumante se manteve até o final de 2018 em maturação, ou seja, temos no mínimo 48 meses, mas, na verdade, ele tem 60 meses, ou seja, cinco anos de maturação. Por isso é um espumante com muito volume”, garante Scortegagna, que explica a opção por não colocar um licor de expedição com açúcar e manter o vinho nature: “Um nature não se escolhe na hora de colher a uva ou da tirage, você decide se ele é nature com o tempo de maturação, degustando. E este produto estava pronto, super redondo, com potência e frescor”.
A vinícola Peterlongo é uma das mais tradicionais com mais de 100 anos de história na produção de espumantes. Recentemente, a empresa vem passando por uma fase de reestruturação e repaginação da marca, como contra a enóloga Deise Cristina Tem Pass, responsável pelos rótulos da Peterlongo. O Elegance Nature sempre foi um rótulo muito consistente e é um dos queridinhos da empresa, sendo o único que recebe a “denominação” Champagne, nome que a Peterlongo pode utilizar (é a única empresa brasileira que mantém esse nome após o Supremo Tribunal Federal lhe conceder esse direito na década de 1970, em que pesem as críticas que recebe por essa postura).
“O Elegance Nature é nosso produto mais nobre. É um corte de Chardonnay, com 80%, e Pinot Noir, com 20%, com mínimo de 36 meses de autólise. A ideia do nature, ou seja, não acrescentar açúcar no licor de expedição, é pelas características do produto, com cremosidade e aromas terciários que não combinariam com esse açúcar. Fazemos um lote limitado a 5 mil garrafas entre a versão brut e nature, que é vendido apenas na loja da vinícola e em algumas adegas especializadas”, comenta Deise.