O Tesouro do Caribe

Primo-irmão de nossa cachaça, o rum é um dos destilados mais apreciados em coquetéis

Silvia Mascella Rosa Publicado em 29/08/2007, às 11h39 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44

Histórias de piratas, tesouros e ilhas paradisíacas saem da ficção quando se conta a história do rum. A cana-de-açúcar, sua matéria prima, chegou ao Caribe pelas mãos de Cristovão Colombo, no final do século XV, e espalhou-se por todas as ilhas. Os livros não confirmam qual ilha foi a responsável pela primeira destilação do melaço da cana, embora Barbados seja a mais citada. Mas o fato é que, em pouco mais de um século, o rum já era a bebida que motivava os militares (até a década de 70 do século passado, a bebida fazia parte da "ração" diária dos marinheiros ingleses), o combustível de piratas europeus e o divertimento dos nativos e dos escravos que circulavam pelas ilhas. Até mesmo o nome da bebida tem as coordenadas díspares de um mapa de tesouro.

Conhecido como rum, ron e rhum, uma das possíveis origens do nome seria a palavra latina saccharum, que significa açúcar. Outra origem, relacionada aos piratas, está ligada ao termo inglês antigo rumbullion (em Português, tumulto), ou seja, as arruaças dos bebedores após festejar o sucesso de seus saques.

O rum foi o álcool mais presente nas expedições marítimas e, talvez por isso, passou a ser uma das bebidas mais populares ao redor do mundo. Piratas e prostitutas, senhores de terras e escravos, cowboys no velho oeste e atores, políticos e escritores, todos apreciavam rum. Em 1954, o escritor norte-americano Ernest Hemingway escreveu as seguintes frases:“My Mojito in La Bodeguita, My Daiquiri in El Floridita”. As frases estão emolduradas e penduradas na parede do bar mais famoso de Havana, La Boguedita del Medio, no bairro antigo da capital cubana, somente a alguns quarteirões de distância do restaurante La Floridita, onde o escritor sentava-se todos os dias para uns quatro ou cinco coquetéis. A fácil utilização do rum na coquetelaria internacional é um dos fatores que elevou a sua popularidade no final do século XX. É o tipo de destilado que combina muito bem com frutas e refrigerantes, como prova a popularidade da “Pina Colada” (saborosa mistura de rum, suco de abacaxi e creme de côco), da “Cuba Libre” e do “Daiquiri”.

Os apreciadores brasileiros (o nordeste é a região com maior consumo de rum no país) criaram uma versão caribenha de nossa caipirinha, a caipiríssima.

A diferença do rum para nossa cachaça está no processo de produção: a maior parte dos runs é destilado do melaço fermentado da cana-de-açúcar, enquanto a cachaça é preparada do caldo da cana fermentado, resultando em um produto com sabores menos concentrados do que o rum. Após a preparação do melaço ele é armazenado em tanques ou cisternas e depois diluído com água e nutrientes para a fermentação. O líquido é então transferido para o local de destilação, que tanto pode ser um alambique de destilação contínua quanto um alambique do tipo ‘pot’, de destilação por partes (utilizado nos runs premium). O primeiro produto da destilação é conhecido como “rum comum”. Após isso, ele vai ser transferido para os barris de carvalho, nos quais amadurece. Esse processo requer no mínimo dois anos e pode chegar até dez anos para bebidas especiais. Na etapa final, entra em cena o blender, responsável por fazer as combinações entre os diversos tipos de runs – os comuns e os de destilação pot –, para obter produtos diferenciados.

Os tipos de rum Ao longo dos anos, o rum tomou sotaques e sutilezas que o tornam peculiar em cada local de produção. Os mais famosos, no entanto, encontram-se em Cuba, na Jamaica, na República Dominicana, em Porto Rico e em Barbados. Mas, incrivelmente, existem runs produzidos na Austrália (onde foi a primeira bebida oficial), em Java (na Indonésia), na Índia e na Alemanha.

Leves ou encorpados, os runs têm, em geral, de 35% a 45% de gradação alcoólica. Os leves são produtos amadurecidos por pouco tempo e classificados como dourado (oro, carta ouro ou golden) e transparente (blanco, carta blanca, prata, silver ou white). Seus aromas são associados às especiarias e às frutas secas: uvas-passas, ameixas e, algumas vezes, baunilha. Além disso, podem ser distinguidos pelo país que os produz:

● CUBA – runs leves e suaves;
● JAMAICA – runs fortes, encorpados, envelhecidos em carvalho e duplamente destilados;
● BARBADOS – runs mais ou menos leves, com sabor acentuado de carvalho;
● MARTINICA – runs encorpados e pungentes feitos com suco de cana no lugar do melaço;
● PORTO RICO – runs leves e de muita qualidade.

O rum premium, em geral cor de caramelo e envelhecido, deve ser servido em temperatura ambiente, puro, como digestivo ou para acompanhar um bom charuto. O copo pode ser o de conhaque ou mesmo uma boa taça para cachaça ou vinho do Porto. O rum branco, quando tomado puro, deve ser servido frio.

O mojito
Um dos coquetéis preferidos do escritor Ernest Hemingway, o Mojito, tem fiéis apreciadores ao redor do globo, por ser uma bebida refrescante e leve. Segundo o próprio Hemingway, o coquetel é uma invenção do almirante inglês Francis Drake, primeiro homem branco a aportar nas Ilhas do Pacífico Sul. Ele teria criado a bebida misturando folhas de hortelã com doses generosas de rum. O objetivo era proteger seus marinheiros das doenças respiratórias e estomacais. A receita mais popular, no entanto, é a criada pelo bar cubano "La Bodeguita del Medio". Confira abaixo:

6 Ou 7 folhas de hortelã (mais um galho para decoração);
2 Colheres de chá de açúcar;
1/2 Dose de suco de limão;
1 Dose de rum prata leve;
4 ou 5 pedras de gelo picadas;
Club soda ou água com gás.

Misture o açúcar e o limão em um copo alto. Coloque as folhas de hortelã e as amasse levemente. Coloque o gelo picado e o rum. Complete com club soda. Mexa levemente e sirva com canudo, mexedor ou ramo de hortelã.