O vinho brasileiro em Bordeaux

Vinexpo reúne público profissional que irá delinear o que os consumidores provarão nos próximos anos. E desta vez o Brasil estava lá

Sílvia Mascella Rosa Publicado em 14/07/2009, às 14h19 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46

Entre 21 e 25 de junho aconteceu, no sul da França, a mais importante feira do mundo dos vinhos, a Vinexpo Bordeaux. Entre os 2400 expositores de 48 países esteve, pela primeira vez, o Brasil. Em um estande montado pela Wines from Brasil - o projeto setorial integrado que é uma parceira das vinícolas com o Ibravin e a Apex -, os vinhos brasileiros despertaram a atenção do público profissional altamente especializado que percorre a feira.

Apesar da acirrada competição pelos mercados consumidores, intensificada pela crise econômica mundial, um estudo encomendado pela Vinexpo neste ano para a International Wine and Spirit Record avaliou que, ainda que mercados tradicionais como a Espanha, a Áustria e Portugal tenham diminuído seu consumo nos últimos anos, existem 108 países com muita sede de vinho, para alívio dos produtores.

Para as seis vinícolas nacionais presentes ao evento (Miolo, Salton, Casa Valduga, Lídio Carraro, Vinibrasil e Don Laurindo), o resultado indica que a pesquisa estava correta. "Produtores e compradores vinham nos visitar e elogiavam nossos produtos, o que nos surpreendeu e nos deixou muito felizes", conta Patrícia Carraro. Na mala, a vinícola Lídio Carraro já traz novas negociações com três países europeus (Bélgica, Luxemburgo e Holanda).

A participação do Brasil na feira ocorreu - como conta a gerente do projeto Wines from Brazil, Andreia Gentilli Milan - depois de muito estudo e preparo: "Essa não é uma feira para amadores, por isso trabalhamos muito para estar lá. Poderíamos ter ido na edição de 2007, mas certamente não teríamos conquistado o destaque que tivemos agora", explica. Ainda segundo Andreia, essa feira é uma vitrine para o mundo, pois todos os profissionais que trabalham sério no mercado a visitam com vistas a novos negócios e contatos. A preparação do Brasil ocorreu através da participação em eventos na Europa, que geraram negócios, mas, principalmente, expertise de como o comprador europeu se comporta e o que ele busca.

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Incentivo
O projeto Wines from Brazil é um dos mais de 60 desenvolvidos pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), um serviço ligado ao Ministério do Desenvolvimento, que faz parceria com entidades setoriais para a promoção de exportações. O programa é desenvolvido desde 2004, em uma parceria da Apex com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

Para viabilizar ações como a participação em feiras e eventos no exterior, a Apex investe cerca de 50% dos recursos e o restante é colocado pela entidade parceira - no caso, o Ibravin - juntamente com as empresas integrantes. "A maior parte das vinícolas que integram o projeto é pequena e média e de tradição familiar. Isso dificilmente permitiria que elas se inserissem sozinhas no mercado internacional", explica o coordenador de projetos da Apex, Juarez Leal. "Essa parceria também reforça o posicionamento da marca do Brasil como produtor de vinhos finos de qualidade e como alternativa para compradores e consumidores do mundo todo que desejam vinhos de novas áreas de produção", completa.

Mesmo para exportadores experientes, como a Miolo Wine Group, o resultado da feira é surpreendente, pois a Vinexpo é reconhecida historicamente como a feira em que a imagem de um país conta muito, mas que vai além da novidade. "Recebemos importadores de todos os continentes em nosso estande, mas a diferença é que eles não vinham somente para provar 'um' vinho brasileiro pela novidade do país estar lá, eles iam a todas as empresas de nosso estande provar os vinhos", conta Morgana Miolo, RP da vinícola familiar. Ela explicou ainda que nessa feira não há estandes básicos. Até mesmo os franceses, reconhecidos por sua discrição e economia, colocam em seus espaços o melhor do estilo e da moda francesa.

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ADEGA TAMBÉM ESTEVE LÁ
Se os vinhos brasileiros estiveram pela primeira vez representados na maior feira do mundo, ADEGA não poderia ficar de fora. Parceira de mídia do evento francês no Brasil, marcamos presença em estandes em conjunto com outras publicações de renome internacional. Assim, além dos vinhos nacionais, o público da feira pôde conhecer também o trabalho da imprensa de vinho do País.

Números do Brasil e da França

As 36 empresas que hoje integram o Wines from Brazil somaram US$ 4,68 milhões em exportações de vinhos em 2008, o dobro do valor de 2007. Mesmo com a crise, o objetivo do projeto neste ano é chegar aos US$ 6 milhões em exportações e participar de 22 feiras e eventos internacionais, promovendo os vinhos brasileiros.

46.621 pessoas de 135 países visitaram a Vinexpo, e 34% delas eram estrangeiras (15.851). 1.367 jornalistas de 54 países cobriram o evento. As conferências reuniram 10 mil profissionais e houve 70 degustações. Para os organizadoes, "o consumo mundial de vinhos e destilados continuará aumentando em 3,5% nos próximos cinco anos e o volume de negócios realizados pela venda (preço consumidor) deverá atingir, daqui até 2012, mais de 390 bilhões de dólares".