As lendas em torno da vitivinicultura da ilha de Elba
Arnaldo Grizzo Publicado em 15/08/2018, às 12h00
A história da ilha de Elba, no litoral da Toscana, na Itália, foi marcada pelo exílio de Napoleão Bonaparte. O Tratado de Fontainebleau, em abril de 1814, após a fracassada tentativa de invasão da Rússia pelo imperador francês, fez com que ele fosse forçado a abdicar de seu trono na França e enviado para o exílio na pequena ilha de pouco mais de 220 quilômetros quadrados, atualmente pertencente à província de Livorno.
Apesar de o fato de abrigar Napoleão por 300 dias ter tornado o local célebre (e também mais desenvolvido), Elba já tinha suas lendas antes mesmo da chegada do imperador francês. Acredita-se que a ilha era conhecida pelos gregos na antiguidade. Diz-se que Apolônio de Rodes teria escrito sobre o local em “As Argonáuticas”, poema épico em que conta a história de Jasão e seus argonautas em busca do velocino de ouro. A ilha teria sido um dos locais onde os argonautas (entre eles Orfeu – que desceu ao inferno – e Teseu – que matou o minotauro) descansaram e as marcas de sua passagem por lá se mantiveram por séculos.
Desde a invasão etrusca ainda na antiguidade, a ilha foi passando por diversas mãos até a chegada de Napoleão e sua trupe de cerca de 600 soldados e assistentes, que governaram o local por quase um ano.
Vinhedo à vista
Grande líder militar, Bonaparte também tinha fama de apreciar bons vinhos. Entre seus preferidos estavam Champagne (que gerou a famosa frase: “Merecido nas vitórias, necessário nas derrotas”), Borgonha, Madeira e o lendário Vin de Constance, da África do Sul. A lenda diz que Napoleão estudou minuciosamente a ilha para a qual estava sendo enviado e que, ainda no barco que o transportava, reparou ao longe em vinhedos próximos da capital Portoferraio. Ele então teria pego um bote junto a outros oficiais, desembarcado e provado um vinho doce feito da uva Aleatico em estilo Passito.
Apesar de ter sido destituído do trono na França, Napoleão chegou à Elba como seu governante e promoveu diversas benesses na ilha para poder ter uma estadia mais confortável e, ao mesmo tempo, planejar sua fuga. Entre outras coisas, ele incentivou a vitivinicultura local. Segundo ele, os habitantes de Elba eram “fortes e saudáveis porque o vinho da sua ilha dá-lhes força e boa saúde”.
A passagem de Napoleão pela ilha trouxe muito avanço à economia local, especialmente ao vinho, mas a vitivinicultura em Elba já havia sido citada como uma de suas forças pelo historiador Plínio, o Velho, que teria apontado o local como: “insula vini ferax”, a ilha que produz muito vinho. E antes mesmo de Bonaparte, outro incentivador do vinho de Elba foi Cosimo di Médici, que chegou para defender a ilha em 1548.
A tradição do favorito
O favorito de Napoleão, o vinho Aleatico ainda é produzido como antigamente. As uvas são colhidas e secas ao sol de 10 a 15 dias. Há cerca de 32 hectares de Aleatico em Elba, cultivados principalmente em terraços. Em 2011, o Elba Aleatico Passito tornou-se uma DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita)
Mas a ilha não produz somente vinhos doces. Na DOC, há tintos (de Sangiovese), porém principalmente brancos de castas como Ansonica, Trebbiano Toscano, Vermentino, entre outras.
Até meados dos anos 1900, o cultivo das uvas era a principal fonte de recursos da Ilha de Elba. Nessa época, existiam 4 mil hectares de vinhedos plantados. Atualmente, a área plantada é de cerca de 300 hectares, sendo a vitivinicultura a principal atividade agrícola da ilha.
As variedades de cepas tradicionais em Elba incluem as brancas Procanico (Trebbiano Toscano), Ansonica (Insolia), Vermentino e Moscato e as tintas Sangiovese e Aleatico. Uma pequena porcentagem de Viognier, Chardonnay, Merlot, Syrah, Grenache e Carignan estão sendo plantadas recentemente, já mostrando alguns resultados interessantes.