Degustamos a safra 2013 do Fojo, ícone do Douro
Eduardo Milan Publicado em 15/01/2019, às 17h00 - Atualizado em 26/06/2019, às 11h14
Após anos da última safra de vinhos produzidos na Quinta do Fojo, com o Vinha do Fojo 2001, Margarida Serôdio Borges, enóloga e proprietária, esteve no Brasil para realizar o lançamento mundial do Fojo 2013, ícone da vinícola, num jantar harmonizado realizado no restaurante Rancho Português. Margarida explica que, na verdade, não foi um hiato, pois continuou a elaborar vinhos para consumo próprio, mas, por temas familiares (sucessão, lhos etc.) e contratuais – tinha contrato com a Taylor’s para fornecer uvas para Vinho do Porto – deixou a produção “prossional” de lado, voltando com força total somente a partir da safra 2013.
Margarida trabalha e cuida da propriedade desde os 19 anos de idade e é perceptível seu afeto quando fala dos 7 hectares de vinhas velhas, sendo a maioria de Tinta Roriz (pouco comum na época), plantadas no nal do século XIX, em Cima Corgo, na margem esquerda do rio Pinhão, a uma altura média de 350 metros acima do nível do mar. Segundo ela, essa altitude é uma das principais responsáveis pelo maior frescor e pela acidez natural em seus vinhos.
Lançado pela primeira vez na safra de 1996, Fojo e Vinha do Fojo demonstraram nessa safra o grande potencial da região para vinhos de mesa na época, surpreendendo positivamente tanto especialistas portugueses como estrangeiros. Essa aclamação internacional foi responsável por incentivar outros produtores a seguirem o mesmo caminho da Quinta do Fojo. Aliás, 1996 é o único ano em que Fojo e Vinha do Fojo foram lançados simultaneamente pela quinta, segundo Margarida, simplesmente por um equívoco, “pois não foram compradas barricas novas sucientes para os três lagares, então o vinho do lagar que tinha madeira nova (Fojo) foi mantido separado dos outros dois lagares (Vinha do Fojo)”.
Ela trata como equívoco, pois, de acordo com sua percepção, de um vinhedo pequeno com cuidado especial em fazer tudo de modo igual não se pode produzir dois vinhos diferentes na mesma safra, somente se houver alguma interferência ou procedimento distinto na vinícola, o que é totalmente o oposto do que ela busca desde sempre – ou seja, retratar com maior delidade e pureza esse lugar especial por meio do vinho.
Tudo na Quinta do Fojo, desde a vinha até o engarrafamento, é pensado para se produzir um vinho por ano. “Ser Vinha do Fojo ou Fojo é uma decisão pessoal minha na última degustação antes de engarrafar. Vinha do Fojo permite maior variação entre as safras, enquanto Fojo é a minha classicação para um ano perfeito em meu vinhedo”, arma a enóloga. Por isso, nas safras de 1998, 1999 e 2001, somente houve Vinha do Fojo e em 2000 e 2013 exclusivamente Fojo.
Na busca por uma maior expressão do lugar, Margarida faz uma vinicação tradicional, com fermentação em lagares de pisa a pé e posterior estágio em barricas novas de carvalho francês. Durante a degustação do Vinha do Fojo 1999 e 2001 e do Fojo 2000 e 2013, ao contrário do que se possa imaginar, há uma tremenda consistência de estilo entre os três primeiros e o recém- -lançado 2013. Este é estilo mais clássico que ela já buscava em seus tintos, com vinhos fechados e de taninos rmes quando jovens e que trazem na lembrança alguns bons Bordeaux com mais tempo de garrafa. Tal constatação não deixa de ser surpreendente, já que no início dos anos 2000 o mundo vinícola buscava concentração, fruta sobremadura e opulência, enm, o contrário do que se encontra aqui.
Por meio destes quatro vinhos, ca evidente que Margarida coloca em prática o seu discurso, pois todos possuem um o condutor baseado em taninos cheios de textura, muita rmeza e uma potência intrínseca apresentada com precisão e renamento.
AD 92 pontos
VINHA DO FOJO 1999
Quinta do Fojo, Douro, Portugal. Já mostra sinais de evolução, mas está íntegro, com notas terrosas, florais, de ervas secas e de especiarias doces. Impressiona pela textura de taninos, é muito preciso, austero e elegante. Tem final longo e persistente, com toques de cassis, cerejas e de grafite. Álcool 13%. EM
AD 94 pontos
VINHA DO FOJO 2001
Quinta do Fojo, Douro, Portugal. Está mais vivo que o 1999, mostrando um estilo de fruta mais madura, indicando um ano mais quente. Cheio de ameixas e cerejas pretas, é potente, vivaz e intenso, tem acidez refrescante, taninos finíssimos e final longo e profundo, com toques terrosos, tostados e de grafite. Álcool 14%. EM
AD 95 pontos
FOJO 2000
Quinta do Fojo, Douro, Portugal. Muito semelhante em textura de taninos e em estilo de fruta ao 1999, porém com mais equilíbrio e finesse. Impressiona pelo frescor, vivacidade e qualidade de frutas vermelhas frescas lembrando cerejas, mesmo com mais de 15 anos. Vertical e afilado, tem final persistente, com toques salinos e de grafite. Álcool 14%. EM
AD 96 pontos
FOJO 2013
Quinta do Fojo, Douro, Portugal. Exuberante, concentrado e muito preciso, mostra notas florais, de tabaco, de ervas (esteva) e de cinzas acompanhando as frutas negras como ameixas e amoras. Elegante e profundo, tem taninos de excelente textura e final persistente, com toques salinos, de grafite e de tinta nanquim. Impressiona pela consistência e equilíbrio do conjunto, com todos os requisitos para ficar muito melhor nos próximos 20 anos. Álcool 14%. EM