Retrospectiva 2018: conheça os vinhos nacionais que mais se destacaram neste ano
Arnaldo Grizzo Publicado em 29/11/2018, às 17h00 - Atualizado em 30/11/2018, às 11h45
A mais nova edição do Guia ADEGA de Vinhos do Brasil 2018/2019 traz como destaque dois espumantes classificados como os melhores vinhos brasileiros, ambos com 93 pontos. E isso novamente mostra o quanto os produtores nacionais estão se aprimorando cada vez mais em espumantes, uma das grandes vocações da nossa vitivinicultura.
Este ano, mais uma vez, os espumantes formam o segmento mais uniforme, com pontuação média de 88,72 pontos em 198 amostras provadas. No entanto, vê-se que alguns estilos – mais secos, como Nature e Extra Brut – estão tomando a dianteira, com médias acima de 90 pontos. E os dois “campeões” do ano ajudaram muito nessas médias. Confira quais foram e como foram pensados esses dois vinhos.
Este vinho foi lançado no ano passado em dois lotes. O primeiro com 3 mil garrafas e o segundo com 9 mil. No final do ano, o jornalista chileno Patricio Tapia já havia apontado o rótulo como um dos destaques do Descorchados 2018. Este é mais um espumante brasileiro lançado sem passar por dégorgement. Antes dele, o Vertigo, da Pizzato, e o Lírica Crua, da Hermann, já haviam chegado ao mercado poucos anos atrás e também receberam muita atenção da crítica e dos consumidores. Segundo Daniel Dalla Valle, enólogo da Valduga, a ideia de lançar o Sur Lie nasceu da curiosidade dos visitantes da cave da vinícola, que muitas vezes pediam para provar espumante não finalizado. A Valduga então percebeu a tendência de mercado e confiou na qualidade do produto. O vinho tem 80% de Chardonnay e 20% de Pinot Noir. “Usamos um Chardonnay que tem uma ‘boa gordura’, então o vinho está bem estruturado, redondo, com autólise de 30 meses”, aponta Dalla Valle. Ele revela que o vinho base, na verdade, é a base do seu rótulo Gran Reserva, que matura por 60 meses. “O Gran Reserva Nature passa por dégorgement e leva apenas o complemento de SO2. No caso do Sur Lie, ele está protegido pelas leveduras e em constante evolução”. Dalla Valle ressalta que espumantes com mais tempo sobre as leveduras precisam partir do pressuposto que seus vinhos base têm qualidade e estrutura para aguentar esse estágio. “Quanto mais tempo sur lie, maior a complexidade. Mas é preciso ter um vinho base bom para poder suportar isso. Precisa ter um trabalho bem feito desde o início para que os defeitos não apareçam com o tempo. E na Valduga temos um banco de dados grande, e alguns lotes são maravilhosos”, garante. Segundo ele, este vinho tem facilmente mais oito anos pela frente e a Valduga pretende lançar novos rótulos de maturação tardia em um futuro próximo.
93 pontos
CASA VALDUGA SUR LIE 30 MESES NATURE
Sem dégorgement, assim como o Vertigo da Pizzato e o Lírica Crua da Hermann, também é tenso e elétrico, esbanjando frutas cítricas e tropicais mais frescas. O maior período em contato com as lias (desde 2015), conferiram maior cremosidade e sensação de volume de boca quando comparado ao exemplar provado no ano passado. Uma verdadeira delícia. EM
A linha Victoria Geisse foi produzida por encomenda pela vinícola Geisse, do enólogo chileno Mário Geisse, para a importadora Grand Cru. Um dos que ajudou a elaborar todo o conceito foi o sommelier da importadora, Massimo Leoncini. Segundo ele, o nome da linha se deve ao navio que trouxe a família Geisse da Alemanha para o Chile – posteriormente Mário veio ao Brasil para trabalhar na Chandon e acabou criando uma vinícola em Pinto Bandeira. “Juntos definimos primeiramente o estilo da linha, que é toda Extra Brut”, aponta Leoncini, revelando que preferia um meio termo entre o Nature e o Brut. Na média, os espumantes brancos Victoria Geisse têm 6 g/l de açúcar e os rosés 8 g/l. “Começamos a linha primeiramente com 12 meses de maturação. Depois passamos para 24, 36 e, por fim, 48 meses. Além disso, todas safradas”, diz. Segundo ele, a Cuvée Sofia foi pensada para ser o rótulo mais importante da linha, com produção bastante limitada. “Portanto definimos que seria engarrafada em magnum”. Leoncini teve voz ativa em todo o processo (“escolhemos junto os rótulos, as garrafas, as cápsulas etc.”) e ainda tem. “Todos os anos me convidam para fazer a degustação do vinho base. E a base é a mesma para todos os espumantes da linha. A diferença será o tempo de maturação”. Este Victoria Geisse Cuvée Sofia Extra Brut Vintage 2013 tem 75% Chardonnay e 25% Pinot Noir. Sobre o potencial de evolução, o sommelier garante: “Depois de quase seis anos, ele ainda parece uma criança, com acidez bem presente, vibrante”.
93 pontos
VICTORIA GEISSE CUVÉE SOFIA EXTRA BRUT VINTAGE 2013
Somente em tamanho magnum (1,5 litro), Cuvée Sofia é uma progressão em termos de complexidade, profundidade e cremosidade, se comparado ao Gran Reserva, ambas dentro da linha Victoria Geisse. Chama atenção pela cremosidade e as notas de frutos secos e de padaria, que envolvem suas frutas cítricas e brancas. Tudo isso apresentado de modo harmônico e bem apoiado por acidez vibrante, ótima cremosidade e final longo e persistente, com toques minerais e de fermento. EM