História da vitivinicultura ``hermana`` é centenária, com nomes de grande destaque
Euclides Penedo Borges Publicado em 19/05/2016, às 10h49 - Atualizado em 24/01/2019, às 19h35
Com a forte presença de vinhos argentinos no mercado brasileiro, nomes como Catena, Pulenta, Trapiche, Norton, entre outros, são hoje familiares para nós. Apesar de nossa descoberta dos argentinos ser recente, muitas dessas vinícolas, na verdade, são centenárias.
Várias continuam com sua raiz nacional, como a Catena Zapata (de Nicolas Catena), a Luigi Bosca (da família Arizu), a Lagarde (grupo Pescarmona), a Nieto Senetiner (grupo Perez Companc).
Outras, porém, passaram às mãos de transnacionais, como a Trapiche (grupo D. L. Jenrette, dos EUA), Norton (Swarovsky, da Áustria), Finca Flichman (Sogrape, portuguesa), Etchart (Pernod Ricard, francesa) etc.
Algumas tiveram proprietários intermediários antes de chegar aos atuais. A Trapiche, inicialmente dos Benegas, passou para os Pulenta e hoje é norte-americana. O antigo vinhedo do desbravador Flavio Nieto foi adquirido em meados do século XIX por Arnaldo Etchart e deu origem às Bodegas Etchart, pertencente à Pernod Ricard. A Finca Flichman passou dos herdeiros de Samuel Flichman para o grupo argentino Wertheim antes de ser absorvida pela Sogrape, de Portugal.
Visionários Por trás desses nomes, no entanto, esconde-se uma história de ousadia iniciada por empreendedores do século XIX que se dedicaram à uva e ao vinho nas paragens desérticas do sopé dos Andes. Entre eles, podemos citar o argentino Tibúrcio Benegas (Trapiche), o espanhol Leôncio Arizu (Luigi Bosca), o inglês Edmund Norton, o basco Miguel Escorihuela, apenas para nos limitar a uns poucos. Retratamos, contudo, três deles a seguir.
Benegas
Oriundo de Rosário, Santa Fé, Tibúrcio Benegas, aos 20 anos, radicou-se em Mendoza determinado a se tornar milionário antes dos 30. Adquiriu um terreno próximo da capital, no local conhecido como El Trapiche, dando origem à sua vinícola em 1883. Mais tarde, ele se casaria com a filha do governador da província. Com seu poder de persuasão, criou o Banco de Mendoza ao mesmo tempo em que expandia o cultivo de variedades francesas na sua propriedade, deixando um patrimônio importante para seus sucessores. Em 1920, eles construíram uma nova vinícola em Maipú, mais ao sul, mantendo o nome Bodegas Trapiche, dado por Don Tibúrcio. Venderam-na mais tarde para a família Pulenta. Hoje, ela pertence à norte-americana Donaldson, Lufkin and Jenrette. O espírito empreendedor de Tibúrcio Benegas, porém, continua.
Pereyra
Veterano das campanhas contra os índios na região de Mendoza, o capitão de artilharia, Ángel Pereyra, era também um aficionado pela vitivinicultura. Em 1897, desenvolveu uma modesta vinícola na margem esquerda do rio Mendoza, que denominou Bodega El Artillero. A localidade havia sido habitada pelos índios Huarpes, que desenvolveram um sistema de irrigação no lugar.
Ernesto Pescarmona
Os descendentes de Ángel deram continuidade à sua atividade por 70 anos e mantiveram a empresa em constante evolução até 1976, quando ela foi adquirida por Ernesto Pescarmona, potentado da indústria metal-mecânica na Argentina. A vinícola foi então rebatizada de Lagarde, homenagem de Ernesto a um amigo que morreu em acidente de automóvel. A pujança da Bodega Lagarde atual, do grupo Pescarmona, tem como pano de fundo o pioneirismo e a coragem do capitão Pereyra.
Arizu
Nascido em Navarra, Espanha, Leôncio Arizu chegou a Mendoza, com seus pais, aos sete anos. Passando a adolescência em meio aos vinhedos, logo acalentou o sonho de elaborar seus próprios vinhos. Trabalhando de sol-a-sol, conseguiu seu intento aos 25 anos, quando se tornou gerente da cantina familiar.
De seu casamento com a espanhola Juana Larrea nasceram cinco filhos. O penúltimo, Saturnino Arizu Larrea, deu um impulso inovador à vinícola paterna, modernizando-a e ampliando-a. Fundou então a empresa da família Arizu, com o nome de Bodega Luigi Bosca. Além da sede, ela inclui agora cinco propriedades e, entre elas, a Finca Don Leôncio. A atividade da nova geração se dá sob a inspiração do seu tetravô Leôncio.
Próceres
As linhas acima não esgotam o tema. Pode-se citar outros próceres da vinicultura argentina do século XIX, como Juan de Dios Correas (da Navarro Correas), Santiago Graffigna, Arnaldo Etchart, os irmãos Santiago e Narciso Goyenechea. Fica, porém, a lembrança de que muito do vigor atual da vitivinicultura argentina se deve ao esforço desses desbravadores do deserto andino.