As novidades nas pesquisas científicas que estudam as benesses do vinho para a saúde
Arnaldo Grizzo Publicado em 12/08/2013, às 15h48 - Atualizado em 03/12/2014, às 08h04
Em setembro de 2010, foi publicado o mais longo estudo já realizado sobre a relação do álcool com a longevidade. Mesmo sabendo que a medicina não é uma ciência totalmente exata, a pesquisa dos cientistas das universidades do Texas Austin e de Stanford serviu de "atestado final" para comprovar que o consumo moderado de álcool aumenta a longevidade.
Ao longo dos anos, diversos levantamentos já indicavam isso, mas a metodologia dessa pesquisa - diferentemente das anteriores - tentou excluir a influência de qualquer fator externo, como doenças crônicas preexistentes e questões psicológicas até mesmo no grupo dos abstêmios; e assim, o resultado foi que quem consome álcool moderadamente vive mais do que quem bebe muito e do quem não bebe nada.
Essa mesma pesquisa ainda deu claros indícios de que o vinho possui mais propriedades que fazem bem à saúde em comparação com outras bebidas - mostrando que não é o álcool o único fator a ser considerado quando se trata de longevidade e diminuição do risco de doenças. Apesar de não ser o foco desse estudo, as análises indicavam que o vinho levava vantagem em relação aos destilados, por exemplo, e isso se devia à presença de alguns polifenóis cuja atuação no organismo humano vem sendo amplamente estudada.
Um deles e provavelmente o mais famoso é o resveratrol. Esse componente importante do vinho - com maior presença nos tintos - é uma coqueluche entre a comunidade científica ultimamente. Depois de diversos estudos, pesquisadores começaram a notar que ele atuava de forma a proteger diversas áreas do corpo humano, mesmo contra o câncer. Essa propriedade, aliás, tem sido a mais decantada, observada e analisada pelos médicos, que estão incessantemente na busca de um tratamento eficiente para essa doença que ceifa tantas vidas no mundo.
Sendo assim, se a pesquisa norte-americana divulgada no fim do ano passado atestou que o álcool é, sim, um fator de relevância para a saúde, ela também deu claros indícios de que o vinho apresenta propriedades ainda mais benéficas para o organismo. Portanto, os estudos sobre a bebida de Baco continuaram e, em 2011, outros dados importantes se somaram em prol das benesses do vinho para o homem.
ADEGA, então, resolveu ressaltar aqui algumas das mais importantes pesquisas envolvendo vinho publicadas em 2011.
PROTETOR SOLAR?
Um curioso estudo foi publicado no "Journal of Agriculture and Food Chemistry" em agosto. Segundo ele, alguns polifenóis das uvas têm efeito protetor em relação à exposição a raios UVA e UVB. Cientistas espanhóis que conduziram o estudo em laboratório demonstraram que a proteção para as células é realmente efetiva, representando uma redução de 50 a 60% no processo de degeneração. Contudo, eles afirmam que beber ou passar vinho na pele antes de ir para a praia não vai ajudar, pois a pesquisa servirá para as empresas de cosméticos desenvolverem algo baseado nos polifenóis das uvas.
PARA OS OSSOS
Um estudo australiano publicado em maio, feito com 900 pacientes durante dois anos, apontou que o consumo de vinho tinto aumenta a densidade mineral dos ossos, fortalecendoos. O vinho, em si, não apresenta os minerais necessários para o desenvolvimento do tecido ósseo, porém é um elemento capaz de manter a concentração de minerais e, assim, diminuir o risco de problemas como osteoporose, por exemplo. A pesquisa indica ainda que a boa relação entre vinho e ossos mais fortes é diretamente proporcional ao consumo moderado. Além disso, o vinho, nesse caso, apresentou vantagem para os homens, mas não para mulheres.
MENOS PESO
Em agosto, cientistas da Universidade de Navarra, na Espanha, publicaram os resultados de um estudo envolvendo álcool e ganho de peso. A pesquisa, como era esperado, aponta que o consumo de álcool ajuda no ganho de peso (já que cada grama de álcool tem cerca de 7 calorias) especialmente naquelas pessoas que bebem destilados e cerveja.
Contudo, o estudo mostrou que consumidores moderados de vinho - que bebem de uma a duas taças por dia - ganham menos peso do que a média da população em geral. Os que bebem mais do que essa quantia estão no grupo que ganha peso acima da média. Entre os 9.318 pacientes analisados, o grupo de consumidores de vinho foi o que menos engordou anualmente em comparação com as pessoas que bebem cerveja ou destilados. Segundo os pesquisadores, a razão para esse menor ganho de peso com o vinho ainda não está totalmente explicada, pois pode ter a ver com uma dieta mais balanceada dessas pessoas, ou seja, não se deve considerar vinho um "emagrecedor". Mas "se você toma álcool, é melhor que ele seja na forma do vinho", apontou um dos autores da pesquisa.
EXERCÍCIO, DIETA E VINHO
Em setembro, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças norte-americano (cuja sigla em inglês é CDC) publicou a análise dos dados de uma pesquisa sobre taxas de mortalidade, que contou com mais 20 mil participantes entre 1988 e 94, e outra com 16.958 pessoas em 2006. Nessa análise, os cientistas compararam comportamentos de risco com as taxas de mortalidade e mapearam algumas boas atitudes em relação à saúde que podem melhorar a longevidade. Não fumar, fazer exercícios regularmente, manter uma dieta saudável e consumir álcool moderadamente estavam entre os fatores analisados. Segundo esse estudo, pessoas que compartilhavam desses comportamentos combinados tinham sua taxa de mortalidade reduzida em 63%. Os pesquisadores tentaram isolar o consumo de álcool da equação e verificaram que a diminuição da taxa de mortalidade continuava considerável (55%), porém menor do que quando o álcool em moderação está presente.
RESVERATROL NÃO É O MUST
Um recente estudo divulgado pela "University College London" contestou a teoria de que o resveratrol não seria o elemento fundamental para o aumento da longevidade apontado nas pesquisas alardeadas mundo afora. Segundo os pesquisadores, uma análise minuciosa mostrou que esse polifenol - que ativa uma classe de enzimas que teoricamente aumentam a expectativa de vida - não é o responsável por esse benefício, já que essas enzimas não teriam a propriedade que delas se espera. No entanto, ele não questiona os benefícios para a saúde do resveratrol, já que as enzimas ativadas possuem propriedades de combate a doenças.
ANTI-INFLAMATÓRIO
A Universidade de Glasgow publicou uma pesquisa, em agosto, que indica propriedades anti-inflamatórias do resveratrol, que poderia ser usado para tratar processos inflamatórios perigosos, como apendicite, por exemplo. Em testes de laboratório, ratos tratados com o polifenol presente no vinho não apresentaram quadros inflamatórios, pois impediu que duas moléculas que estimulam a inflamação fossem criadas.
PEIXE COM VINHO
Harmonizar peixe com vinho nunca foi tão bom. Pelo menos é o que se depreende de uma pesquisa de universidades francesas publicada no "Current Pharmaceutical Biotechnology" no fim de 2010. Segundo ela, quem consome vinho e ácidos Omega-3 têm 20% mais de tecido cardíaco do que o convencional. Ainda de acordo com o estudo, consumidores moderados de vinho apresentam maiores taxas de Omega-3 no corpo do que os abstêmios. A mesma propriedade não foi encontrada em pessoas que consumiam cerveja e destilados.
BOM PARA A CABEÇA
Diversos departamentos de psiquiatria de universidades alemãs divulgaram um estudo, em março, sobre a relação entre o consumo de álcool e seus efeitos protetores contra a demência mesmo depois dos 75 anos. A pesquisa, que avaliou 3.202 pacientes durante três anos, mostra que o consumo diário e moderado de álcool reduz o risco de demência em 30% em média, comparado com os abstêmios. O mesmo tipo de resultado foi observado em relação ao mal de Alzheimer - um tipo específico de demência. Mesmo quando excluídos fatores de relacionamento pessoal ao consumo de álcool - como vida social ativa, por exemplo -, mostrou-se que o risco foi menor em quem bebia moderadamente. Além disso, quando analisado o vinho separadamente, também apresentou vantagem na diminuição do risco de demência.
DIABETES
Cientistas do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue e do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos publicaram um estudo (em setembro) sobre os fatores de risco de diabetes, uma doença que vem se alastrando no país. Eles analisaram mais de meio milhão de pessoas entre 50 e 71 anos. Entre os fatores observados juntamente com consumo moderado de álcool estão: bom índice de massa corporal, não fumante, atividade física adequada e dieta saudável. Entre pacientes que cumpriram esses cinco tópicos - cerca de 4% dos homens e 2% das mulheres - os resultados foram assombrosos: 72% de redução de risco entre os homens e 84% entre as mulheres. Entre todos os fatores analisados, o consumo moderado de álcool representou uma diminuição de risco em 19% para homens e 37% para as mulheres. Além desse, outros três estudos recentes vincularam o consumo moderado de álcool com a redução do risco de diabetes, apesar de nenhum deles confirmar qual mecanismo provoca isso. Algumas pesquisas indicam que a relação entre álcool e insulina aumentaria a sensibilidade do hormônio, ajudando-o a fazer com que as células obtenham glucose do sangue.
TREMORES
Em abril, pesquisadores italianos publicaram no jornal médico "Movement Disorders" uma pesquisa que indica que o consumo de vinho diminui a probabilidade de idosos apresentarem tremores essenciais, uma desordem nos movimentos de origem neurológica. O estudo apontou que o risco de apresentar tremores diminui em 86% quando há consumo diário de vinho na dieta. Além disso, os maiores beneficiados apresentavam consumo durante cerca de 30 anos. Contudo, como o estudo apresentou algumas anomalias nos resultados, os pesquisadores preferiram ser cautelosos ao fazer o vínculo vinho-diminuição de tremores.
CÂNCER DE MAMA
A última pesquisa relevante publicada antes do fechamento desta edição de ADEGA relaciona o resveratrol com a interrupção do crescimento de células cancerígenas na mama. Esse efeito deve-se ao bloqueio da ação do estrogênio pelo polifenol. O estudo, realizado por pesquisadores norte-americanos e italianos, foi publicado em outubro e aponta que o resveratrol é uma potencial ferramenta farmacológica quando o câncer de mama se torna resistente à terapia hormonal. Apesar do resultado animador, os cientistas dizem que é preciso uma avaliação médica minuciosa antes de as pessoas começarem a tomar suplementos com resveratrol ou mesmo beber vinho para tratar câncer.
PARA O SEDENTÁRIOS
Um estudo publicado pelo jornal do Federation of American Societies for Experimental Biology revelou que o resveratrol pode ajudar os sedentários. De acordo com a pesquisa, ratos que não receberam doses do polifenol desenvolveram uma perda de massa e força muscular e óssea, além de resistência à insulina - que pode ser considerado um começo de diabetes. O grupo que foi tratado com o resveratrol, contudo, não apresentou esse quadro. Segundo os cientistas, o resveratrol não substitui os exercícios físicos, mas reduz a taxa de deterioração de músculos e ossos.
ASMA
Recente pesquisa de cientistas do Bispebjerg Hospital na Dinamarca aponta que o consumo moderado de vinho pode diminuir o risco de asma. O estudo com mais de 19 mil pessoas entre 12 e 41 anos afirma que menos de 4% dos que consomem vinho regularmente desenvolveram asma. Em comparação, mais de 6% dos abstêmios apresentaram o problema. E, por fim, cerca de 4,5% dos consumidores pesados tiveram os sintomas.