Ocorrem diversos concursos de vinho por ano no mundo. O que eles representam?
Sergio Inglez De Sousa Publicado em 30/06/2010, às 12h36 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46
Circulam pelo mundo algumas centenas de milhares de rótulos, chegando provavelmente a superar a casa do milhão. Cada um desses vinhos é praticamente um grão de areia no mercado consumidor, mas representam um grande estoque de novidades que volúveis apreciadores podem garimpar à vontade.
O que vai diferenciar um obscuro rótulo de um best seller são fatores ligados ao comportamento humano, entre eles o mito dos vinhos mais caros do mundo, a indicação de um sabichão internacional e o trabalho de divulgação.
Considerando que os dois primeiros fatores fogem ao domínio da maioria dos produtores, resta o caminho do marketing dirigido aos amantes do vinho, associado ao trabalho dos intermediários de comercialização e agentes de divulgação. Um produtor que deseja se fazer conhecer deve dar o primeiro passo, que consiste na participação constante em concursos de avaliação de vinhos.
Quem faz e quem legitima os concursos?
Ocorrem anualmente centenas de concursos oficiais de vinho. Esses concursos têm o mérito de se comportarem como vitrines de rótulos inéditos e imporem critérios de avaliação que põem os vinhos em igualdade de condições. Uma das instituições mais ativas é a World Association Wine andSpirit Writers and Journalists (WAWWJ), que realiza concursos em muitos países. Os concursos oficiais têm o reconhecimento das maiores e mais respeitadas instituições ligadas ao vinho, como a Organisation Internationale de la Vigne et du Vin (OIV) ou a Union Internationale des Oenologistes (UIOe). Esses organismos impõem e controlam o ritual de condução de cada concurso e são avalistas dos seus resultados.
Quem avalia?
Para as sessões oficiais de provas são convidados enólogos, sommeliers, críticos e mídia especializada, que se reúnem num grupo seleto de jurados, cuja avaliação vai estabelecer a classificação final e a premiação das amostras degustadas. No Brasil, a Associação Brasileira de Enologia (ABE) organiza nos anos pares o Concurso Internacional de Vinhos do Brasil. Mas há diversos outros concursos mundo afora. Nessas ocasiões, olhos, narizes e bocas de origens, nacionalidades e focos heterogêneos estarão atentos à análise das amostras. Esses eventos têm repercussão não só no meio empresarial, junto a representantes, distribuidores e lojistas, como também na mídia e, consequentemente, entre sommeliers e enófilos.
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Como o vinho é avaliado?
As degustações são obrigatoriamente realizadas às cegas. A cada concurso, centenas de amostras são provadas por inúmeros grupos de degustadores selecionados pela organização do evento.
Conforme sua importância e tradição, cada concurso tem um peso que multiplica a nota aí atribuída à premiação do vinho. Quanto mais importante um concurso, maior é o peso. Uma premiação que vale 5 pontos num concurso tradicional cujo peso é 8, isso gera uma pontuação final de 5 x 8, ou seja, 40 pontos. O Vinalies Internationales, de Paris, por exemplo, tem peso igual a 8,9. Enquanto o Concurso Internacional do Brasil, 8,1. Um vinho que tenha recebido medalha de ouro nos dois concursos, o que corresponde à nota 5, registrou uma pontuação final de (8,9 x 5) 44,5 pontos, no Vinalies, e (8,1 x 5) 40,5 pontos no concurso brasileiro.
Classificação no fim do ano
Um vinho acumula ao longo do ano pontuações das premiações que obtém nos distintos concurso de que participa. Fazendo as multiplicações da nota pelo peso de cada concurso, somando as pontuações finais, tem-se um valor anual que classifica o vinho no mundo. Por exemplo, entre os 100 melhores vinhos do mundo de 2008/2009, está em oitavo lugar o vinho Desejo Merlot 2005, da Salton, que ganhou oito prêmios em sete concursos, com a pontuação total de 237 pontos.
Estes números estão disponíveis aos consumidores em site www.wawwj.com para consultas sobre o desempenho dos vinhos e pelos importadores, para avaliação dos vinhos a comercializar em seu país. Isso justifica a importância de participação nos concursos para estar presente nas vitrines mundiais.
Cada concurso tem um peso e as pontuações recebidas durante o ano são somadas, resultando em uma classifacação que pode ser conferida no site da WAWWJ
Qual é a importância dos concursos para o consumidor?
Em primeiro lugar, a confiabilidade desses concursos pela seriedade que envolve as suas avaliações. São jurados internacionais de muitas origens gravando a escolha com uma média representativa de apreciação. O comprador pode basear a seleção dos vinhos que vai tomar em informações de experimentos prévios dos concursos. O apreciador tem acesso nos sites de dados concretos sobre a qualidade e a relação custo-benefício dos vinhos (os concursos, via de regra, classificam os lotes por preço).
Além disso, pelas regras do mundo do vinho, a rotulação pode trazer selos de referência dos prêmios que o vinho recebeu em concursos oficiais. Com isso, o comprador, saindo da loja ou do supermercado, pode sobraçar seu pacote de vinho e levar junto ao peito quantas medalhas de ouro quiser.