Proibição, demanda e lucro

O papel do tabaco na história socioeconômica do mundo

Paulo Rogério Bueno Publicado em 10/08/2009, às 07h31 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h46

As diversas proibições pelas quais o tabaco tem passado nos últimos anos mostram sua força e seu vínculo na história recente da humanidade, sendo assim, é interessante conhecer o trajeto desta planta até hoje.

O seu uso surgiu aproximadamente no ano de 1.000 a.C., nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágicos e religiosos, com objetivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros. Além disso, acreditavam que os rituais envoltos com a planta tinham o poder de predizer o futuro.

Bebida, comida ou fumada, ela intervinha nas cerimônias religiosas - como rituais de passagem da adolescência para a idade adulta - e era usada de forma cotidiana desde a nascente do Mississipi até à Patagônia. O tabaco, provavelmente, foi trazido para o Brasil pela migração dos índios tupi-guaranis.

A chegada de Pedro Álvares Cabral à nossa costa, a descoberta do caminho marítimo para as Índias, a exploração da costa africana e a chegada de Colombo à América, entre outros conhecimentos adquiridos nessa altura, supõem também o primeiro contato dos ocidentais com o tabaco.

A partir de então, rapidamente seu uso se estendeu a toda a Europa, empurrado, sobretudo pelo grande valor terapêutico que lhe era atribuído. O uso do tabaco era frequente em reuniões tribais, servindo de afirmação individual ou coletiva.

As suas propriedades alucinógenas provocavam momentos de delírio e tontura, sentimentos que eram, muitas vezes, atribuídos a hipotéticas divindades, assumindo, desta forma, também um caráter divino.

Apesar de alguma relutância na sua aceitação pelos europeus "civilizados" - fundamentalmente pelo fato de os índios o fumarem -, rapidamente o tabaco se tornou não só um elemento farmacológico, mas também de uso social e, especialmente, econômico

Comércio do tabaco sempre envolveu grandes cifras

Importância comercial

Os portugueses utilizavam o tabaco já preparado, como os charutos que conhecemos hoje, nas importantes relações com a costa ocidental africana, cujas populações o adaptaram e o integraram no espaço definido pelas ervas de caráter alucinatório que já utilizavam.

A partir de então, o tabaco assume um papel importante no comércio negreiro, sendo que uma parte substancial da produção servia para alimentar esta atividade - usado como escambo: troca de produtos sem o uso de moeda.

Assim, o tráfico negreiro apresentava oscilações, consoante ao aumento ou diminuição da produção de ouro, tabaco e cana-de-açúcar, que funcionavam como os principais produtos para estabelecerem as trocas comerciais.

Mais tarde, e para concorrer com os traficantes europeus - holandeses, ingleses, franceses, espanhóis e até com os portugueses - os traficantes do Brasil usavam, como moeda, o tabaco e a aguardente produzidos no Brasil. Eles enriqueceram de tal forma com seus negócios que esse comércio ilegal começou a irritar as autoridades portuguesas, que não viam com bons olhos o controle do tráfico de escravos exercido pelos comerciantes baianos em detrimento dos negociantes da metrópole.

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Os valores

Antes da aclamação de D. João IV, o contrato de representação comercial do tabaco foi arrematado pelo período de três anos na corte de Madrid, por um português, por 40$000 réis ao ano. Passado esse prazo, Inácio de Azevedo, também português, o levou por 60$000 réis.

O valor foi subindo de ano para ano e, em 1640, o contrato foi arrematado por 10:000 cruzados. Em 1674, por 66:000 cruzados. Do ano de 1675 em diante, o tabaco rendeu 500:000 cruzados até um 1 milhão de cruzados. E, no ano de 1698, aumentou o contrato para 1 milhão e 600:000 cruzados.

Assim se conservou algum tempo, para novamente retomar o aumento progressivo e chegar finalmente à importância de 1520 contos anuais, que foi o preço do contrato que findou em 1864. No ano seguinte, as cortes aboliram o monopólio. Recentemente, a Altria (detentora da Philip Morris, Marlboro, L&M, Chesterfield) é a líder mundial, com mais de US$ 60 bilhões de faturamento ao ano.

E, a atual detentora do contrato de representação do tabaco "premium" para o mundo é a Imperium Tabaco, empresa de capital britânico que comprou a Altadis (uma firma franco-espanhola), que detinha os direitos, pela bagatela de 16, 2 bilhões de euros em 2007.

Entre proibições e enriquecimentos, o tabaco faz parte integrante da nossa sociedade, e com uma parcela bem representativa para economia de um modo geral. Para os apreciadores de um excelente charuto, a história e os valores só enobrecem este "rei dos reis", que, ao contrário de um desaparecimento requerido, tende a ser cada vez mais apreciado e nobremente elaborado