Os vinhos e as belezas naturais de Navarra a tornam uma grande surpresa aos turistas e curiosos
Marcelo Copello Publicado em 24/07/2008, às 06h23 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45
A moderna Bodega Iñaki Núñez, fundada em 1999, é conhecida por sua marca Pago de Cirsus |
Vinhedo em Navarra | Tempranillo |
Uma visita obrigatória é o restaurante Treintaitres, em Tudela, no sul da região. A casa oferece um impressionante menu só de vegetais. Outro restaurante de alta classe que merece atenção é o Rodero, do estrelado chef Koldo Rodero, que fica na capital Pamplona. A província tornouse mundialmente conhecida depois que, em 1926, o escritor americano Ernest Hemingway publicou sua obra-prima The Sun Also Rises (O sol também se levanta) sobre a festa de San Fermín, que ocorre todo mês de julho, na qual touros ferozes são soltos nas ruas da cidade.
Histórico
O vinho está em Navarra desde tempos imemoriais. Os registros mais antigos da vinha na região são do século I d.C., mas foi apenas no século XI, com a intensa peregrinação pelo caminho de Santiago, que ganharam notoriedade.
No final do século XIX, a região viveu um boom no comércio do fermentado, quando a França, atacada pela filoxera, veio se abastecer de vinhos em Navarra. Esta bonança, contudo, durou pouco, pois logo a praga cruzou os Pirineus e atacou duramente o norte da Espanha. Calcula-se que o minúsculo pulgão tenha destruído 48.500 ha. dos então 49.200 ha. de vinhedos da região.
O século XX chegou com a reconstrução e a renovação dos vinhedos de Navarra. Novas cepas foram implantadas e o movimento cooperativo tomou força a partir de 1911. O contexto era, então, de pós-trauma da filoxera e busca de dinheiro rápido. Até a chegada do pulgão, a cepa mais plantada na região era a Tempranillo, fácil de cultivar, gerando grandes vinhos, mas sensível à praga. O símbolo da fase pós-filoxera foi a Garnacha, resistente, mas de complicado cultivo, tardia e de difícil amadurecimento para obtenção de grandes tintos. A região partiu então com força para os vinhos rosados elaborados com a Garnacha.
Este panorama começou a mudar nos anos 1980, quando se iniciaram estudos sobre castas que poderiam ser plantadas para a produção de grandes tintos e brancos. Produtores da região contrataram enólogos de outros países para pesquisar as possibilidades. Vieram especialistas da Austrália, França, Itália e Califórnia. As castas indicadas foram a Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay. Hoje, Navarra está em plena fase de renovação de seus vinhedos, Tempranillo, Garnacha, Mazuelo, Graciano e Viura estão dando lugar à Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay. Os melhores vinhos são os brancos Chardonnay e os tintos de Cabernet Sauvignon, Merlot, eventualmente misturadas ao Tempranillo e/ ou a Garnacha.
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Produção e vinhedos
Navarra produz atualmente cerca de 89 milhões de litros de vinho ao ano, sendo por volta 30% deste volume exportado.
Os tintos dominam a produção com cerca de 70% do total, seguido pelos rosados, com 25%. Os 18,5 mil hectares de vinhas da região são cultivados por 5.200 viticultores. A maioria das 122 bodegas que engarrafam são pequenas empresas familiares.
A Denominação de Origem (DO) Navarra é dividida em cinco subzonas, todas na metade sul da região, ao sul de Pamplona. A gama de terroirs é bastante variada, com muitos micro-climas, possibilitando grande variedade de vinhos:
Tierra Estella
Está no centro-oeste de Navarra, de clima subúmido, com influência atlântica, fria, cerca de 600mm de chuvas ao ano, solo de calcário marrom e pedregoso.
Valdizarbe
Localizado no centro da região, logo ao sul de Pamplona. Clima subúmido, com influência atlântica, fria, cerca de 590mm de chuvas ao ano, solo de calcário marrom e pedregoso. Com 1.300 hectares de vinhedos e os vinhos que se assemelham em estilo aos de Tierra Estella.
Baja Montaña
Situada no centro-leste da região, tem clima subúmido, influência atlântica, fria e cerca de 680mm de chuvas ao ano. Com solo de calcário e cascalho mais amarelado, a região também apresenta boa drenagem.
Bodega Chivite, na Ribera Alta,maior subzona de Navarra |
Vinhedo da Pago de Cirsus em Ribera Baja |
Produtores visitados
Na feira Alimenta´ 08, provei cerca de 100 vinhos de estilo e qualidade muito variados, alguns chegando a excelentes, todos em busca de representantes no Brasil. Minha visita à região começou na tradicionalíssima Bodega Chivite, na Ribera Alta, vinícola familiar mais antiga da região, fundada em 1647. Estive na unidade da empresa, comprada em 1988 e totalmente remodela, com vinhedos novos implantados. O assunto do momento na Chivite é o reconhecimento de seus vinhedos desde 2007 como Pago, a classificação mais alta da Espanha. Dos 150 hectares de vinhedos da Chivite, 127 foram reconhecidos com tal marcação. A partir do final deste ano terão um novo exemplar, um vinho de Pago, o Señorio de Arinzano, ainda não disponível para prova. O solo aqui é calcário com alguma argila, plantado principalmente com Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay.
Depois de um nome tradicional, fui para o sul, na Ribera Baja, visitar um produtor moderníssimo: a Bodega Iñaki Núñez, fundada em 1999, conhecida por sua marca Pago de Cirsus. Iñaki Núñez é um nome famoso na Espanha, importante produtor de cinema. Amigo pessoal Francis Ford Coppola, ele decidiu criar sua própria bodega depois de algumas conversas com o diretor americano.
Núñez demonstrou em nossas conversas e degustações ser não apenas o patrão, mas também um bom conhecedor e sabedor de que tipo de vinhos deseja de sua competente enóloga Maitena Barrero.
Seus 135 hectares de vinhedos são plantados com Tempranillo (principalmente), Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e pequenas parcelas de Moscatel, Tannat e Malbec. A produção ronda as 500 mil garrafas ao ano e, assim como na Chivite, a novidade é a elevação de seus vinhedos à categoria de Pago, o que acontecerá em 2009. O estilo dos vinhos é moderno, com uso de fermentação de alguns tintos em tinas de carvalho francês de 5-8 mil litros, uso de micro-oxigenação, e muitas barricas novas de carvalho de tanoeiros da mais alta gama, com 90% carvalho francês e 10% americano, todos de 225 litros.
Ainda há poucos vinhos de Navarra em nosso mercado, mas a cada dia novos rótulos chegam e, pelo que vi lá, outros devem chegar em breve. Fique atento, pois belas surpresas podem surgir em sua taça.
Confira a avaliação completa dos vinhos na seção CAVE. |