As melhores opções enogastronômicas de Mônaco, o paraíso dos bon vivants
Arnaldo Grizzo Publicado em 07/10/2018, às 11h00
Xeiques árabes, magnatas russos, grandes investidores ingleses. Se há um lugar no mundo que atrai as grandes fortunas, este é o Principado de Mônaco – uma cidade-estado encravada em um rochedo com exuberante vista para o Mediterrâneo. É o segundo menor país do mundo, com pouco mais de 2 quilômetros quadrados de área (maior apenas do que o Vaticano), localizado no sudeste da França próximo à fronteira com a Itália.
O fato de ser um paraíso fiscal é somente um dos atrativos do principado (cujo soberano é um príncipe – atualmente Albert II). No entanto, o que conquista mesmo os visitantes é o ambiente de completo luxo e requinte, além de um naipe de serviço (em praticamente qualquer estabelecimento) raras vezes igualado em outras partes do mundo. Na terra dos príncipes, o turista é tratado como rei.
Alto nível
Cerca de 20 quilômetros distante de Nice (cujo aeroporto opera voos para diversas partes da Europa), o acesso a Mônaco é simples e rápido por estrada. No entanto, talvez a melhor maneira de entrar no clima é realizar um traslado de helicóptero. Os voos saem regularmente do aeroporto de Nice até o heliporto do principado, custam por volta de 130 euros (já com transfer até o seu hotel), duram menos de 10 minutos, mas oferecem uma vista privilegiada da cidade. Outra opção luxuosa é chegar com seu iate e atracar no Port Hercule.
Tendo o turismo como principal atividade, há eventos quase o ano todo em Mônaco, entre eles o tradicional Grande Prêmio de Fórmula 1, o torneio de tênis no aristocrático Monte Carlo Country Club (curiosamente localizado fora do território do país, assim como o Golf Club), a feira Top Marques – que reúne as principais marcas de carros, iates, relógios e outros artigos de luxo – realizada no Fórum Grimaldi (a família Grimaldi foi a fundadora do principado no século XIII e ainda o rege) etc.
Os eventos atraem turistas do mundo todo, especialmente no verão. Mas, mesmo quando não há eventos, um dos grandes atrativos é o famoso cassino com sua arquitetura estilo Belle Époque, com a parte da sala de óperas projetada por Charles Garnier, o arquiteto do Ópera de Paris. O local é aberto à visitação (10 euros a entrada), mas segue regras de vestimenta. Ou seja, os desavisados de bermuda e chinelo não entram. À noite, a etiqueta fica ainda mais restritiva. Tudo para manter uma boa imagem. Aliás, a cidade parece seguir regras de vestimenta e conduta muito mais formais, especialmente durante à noite nos restaurantes, hotéis, cassinos etc. Impera a elegância sobre o despojamento.
Maior adega do mundo
Alguns dos principais hotéis da cidade concentram-se no “bairro” de Monte Carlo, ao redor do cassino. A poucos metros de distância estão os clássicos Hotel de Paris, Hermitage e Metropole, além do Fairmont (que fica acima do famoso túnel do circuito de Fórmula 1). O Hotel de Paris foi construído em 1864 e, há dois anos, passa por reformas. Ele fica literalmente ao lado do cassino e de frente ao charmoso Café de Paris. Entre seus atrativos, além das magníficas vistas de alguns quartos (as diárias partem de 900 euros), está o antigo restaurante Louis XV, do chef Alain Ducasse, considerado três estrelas Michelin.
No entanto, para o enófilo, o hotel ainda é mais interessante, pois possui uma cave subterrânea maravilhosa, com mais de 1.500 metros quadrados e que abriga mais de 600 mil garrafas de vinho, a maior adega de hotel no mundo.
A adega não abastece somente o Hotel de Paris, mas todos os hotéis e estabelecimentos da rede SBM (Société des Bains de Mer), proprietária também do Hotel Hermitage, por exemplo. Aliás, os primeiros metros da adega subterrânea foram construídos sob o Hermitage, também um hotel de estilo Belle Époque e restaurante estrelado (uma estrela), o Vistamar, com uma panorâmica imperdível da cidade. Os quartos duplos simples podem sair por 435 euros, mas as suítes especiais, chamadas Diamont, oferecem tratamento de altíssimo luxo e partem de 4.300 euros a diária.
Conforto e comodidade
A poucos passos de distância dali está o Hotel Metropole, completamente reformulado em 2004, mas ainda com o estilo Belle Époque com que nasceu em 1886. O interior, contudo, é completamente moderno, com toques de arquitetos e paisagistas famosos, e também de ícones do design de moda como Karl Lagerfeld, que desenhou o espaço Odyssey: uma piscina, um terraço e um bar singulares, com temática inspirada na mitologia grega. Entre os serviços especiais estão um centro de estética exclusivo da marca ESPA e dois restaurantes (um deles japonês) supervisionados por ninguém menos do que Joël Robuchon (que também assina os pratos do bar Odyssey). Para deixar tudo ainda mais cômodo, logo abaixo do hotel há um centro comercial e, logo na praça à frente, uma série de lojas de marcas de grife. Os quartos simples saem por 350 euros a noite, mas as suítes, como a Carre d’Or, por exemplo, podem chegar a 10 mil – com amplos privilégios.
Não muito longe dali está o Fairmont Hotel, de frente para a famosa curva fechada e sobre o tradicional túnel do circuito de Fórmula 1. Seu longo lobby, com cassino, lojas de grife, bar e deck impressiona, assim como a vista do restaurante Horizon no sétimo andar. Mesmo que você não fique hospedado (com quartos a partir de 280 euros), vale a pena tomar um drinque por lá.
Um pouco mais distante, na fronteira leste do principado, fica o Monte Carlo Bay Hotel e Resort, também pertencente ao grupo SBM, inaugurado em 2005. Esta é uma opção sofisticada, mas mais relax de estadia, ideal para quem vai com a família (com quartos duplos a partir de 380 euros e suítes por 965). O ambiente descontraído conta com um bar, um cassino, diversas piscinas, decoração estilo tropical, mas também com um restaurante com uma estrela Michelin (o Blue Bay).
Roteiro enogastronômico
De uma ponta a outra do principado, são menos de 4 quilômetros de distância, ou seja, o lugar é muito pequeno e fácil de transitar. A região do cassino, no bairro de Monte Carlo (há outros nove bairros), é a mais central e ótimo ponto de partida para um tour. Se você não for alugar uma super máquina para andar pela cidade (há diversas concessionárias e locadoras), saiba que ela é cortada por seis linhas de ônibus fáceis de usar – 2 euros a passagem. Além disso, apesar de estar numa encosta, as caminhadas são tranquilas, pois boa parte das subidas pode ser superada pelas escadas rolantes e elevadores públicos.
Seu passeio, portanto, pode começar por uma visita ao cassino e depois descer através do hotel Fairmont para a avenida Princesse Grace até o belo jardim japonês. A avenida é repleta de concessionárias de marcas esportivas. Caminhando um pouco, você vai chegar à praia do Larvotto, ponto para um drinque à beira mar.
Quando bater a fome, vale ir até o Maya Bay, um restaurante (ou seriam dois?) dividido entre a linha japonesa e tailandesa. Você pode escolher entre um ou outro. Não tenha medo e vá para o lado tailandês. Comece com um dos saborosos drinques feitos com Champagne – talvez o Moulin Rouge, com suco de morango, chambord e gengibre. Há menus de almoço por 25 euros, mas a sugestão é: entregue-se. O cardápio é todo ilustrado, para facilitar a vida de quem não está familiarizado com esse tipo de cozinha, além de indicar o grau de picância.
As entradas são deliciosas. O Pla Tod (iscas de peixe com molho de abacaxi e coco), o Talay Crystal Har Gau (trouxinhas no vapor com frutos do mar em massa de tinta de lula), os raviólis fritos recheados com bacalhau ou algum dos deliciosos sashimis são boas opções. É possível se perder aí sem precisar chegar aos pratos principais, como o levemente apimentado Larmes du Tigre. Mas, sinceramente, guarde espaço para a sobremesa. Você vai querer pedir mais de uma em opções como crème brûlée aux litchis, ou o millefeuille praliné, ou o glace barbarac (sorvete da casa) etc. Se não aguentar, peça ao menos os delicados petit four de frutas cristalizadas para acompanhar o café.
Para tentar harmonizar as receitas, a carta é repleta de opções (quase todos os restaurantes da cidade fazem questão de ter rótulos especiais). O Maya Bay ainda tem boas opções de vinho em taça. Uma sugestão é um Sancerre para acompanhar as iguarias tailandesas. O ambiente é descolado, com decoração típica e trilha sonora que vai desde clássicos italianos, passando por folk americano, até (acredite) MPB.
Clássico
No entanto, se preferir algo mais clássico, uma das melhores opções é o menu de almoço do restaurante de Joël Robuchon (duas estrelas Michelin), dentro do Hotel Metropole. Por 55 euros é possível se deliciar em um menu com entrada, prato principal e sobremesa. O amuse-bouche com pata negra já diz muito do naipe da comida, assim como os pães variados feitos lá. Depois, você pode optar por um fenomenal carpaccio de polvo marinado no limão. Em seguida, o l’agneau ao lait divino, especialmente porque vem acompanhado com o sempre sublime purê de batata, marca registrada de Robuchon. Por fim, o carrinho de sobremesas é uma perdição.
Nos vinhos, a carta é composta de vários clássicos, mas o sommelier gosta de sugerir rótulos menos famosos, especialmente de produtores orgânicos, biodinâmicos e naturais. Lembre-se: é um restaurante bastante formal. Então, cuidado com o traje para não se sentir desconfortável. Se quiser algo mais relaxado, você pode optar pelo restaurante japonês Yoshi, no mesmo hotel, e cuja cozinha também é assinada por Robuchon.
Depois do almoço, talvez uma opção seja andar pela região do Port Hercule. Para quem gosta de iates, é um sonho, pois lá estão ancorados alguns dos maiores e mais luxuosos do mundo. E ainda é possível locar embarcações para um passeio. À direita do porto, subindo o rochedo, está o palácio do príncipe e, bem na ponta, o famoso museu oceanográfico. Vale a pena subir até lá, nem que seja apenas para apreciar a vista da costa do Mediterrâneo. Mas, sinceramente, visite o museu criado por Alberto I, tataravô do atual príncipe. O local é fascinante e ostenta os mais variados peixes já vistos. Não são só as crianças que vão ficar encantadas com a visita.
Vida social e surpresas
No fim das tardes de verão, a juventude monegasca fica alvoroçada nos bares, especialmente os próximos ao Port Hercule, onde costumam estacionar suas belas máquinas. Porém, se você quiser curtir a noite com estilo, um dos melhores lugares é o Twiga, uma mistura de restaurante, bar e night club de alto padrão. Ele só abre no verão e nos finais de semana.
O ambiente é completamente descontraído. O menu é simples (tanto da parte japonesa quanto da italiana), mas saboroso. Se quiser apenas beliscar algo, peça uma burrata com tomate cereja e uma taça de Champagne para acompanhar. Não espere um serviço de vinho primoroso, mas o atendimento dos garçons, quase todos italianos (e falando em italiano), é extremamente simpático. O lugar é super animado e costuma receber grupos para aniversários e festas com gente de todos os tipos e todas as idades.
Uma das modinhas lá é pedir narguilé na mesa. Somente à meia noite começa a balada de verdade. Antes disso, o DJ fica soltando um som gostoso. No verão, o deck voltado para o mar fica aberto para as pessoas curtirem ao ar livre.
No entanto, se você prefere algo menos agitado apenas para jantar, todavia também com uma linda vista e a possibilidade de bebericar algo, pode subir até o sétimo andar do hotel Fairmont, logo ali ao lado, e pegar uma mesa no restaurante Horizon. O menu do jantar (harmonizado) custa 96 euros. Você pode começar com uma salada de alcachofra e pecorino, depois passar para uma vitela com nhoque frito e aspargos e, por fim, um crumble de frutas com sorbet de limão. E pode encerrar a noite ali, no terraço, com uma taça de Champagne apreciando a estupenda vista.
Porém, se quiser algo ainda mais formal e uma comida que certamente vai lhe surpreender, opte pelo restaurante Blue Bay, dentro do Monte Carlo Bay Hotel e Resort. O chef Marcel Ravin, de extrema simpatia no trato e admirador de Alex Atala, é natural da Martinica. Ele usa (e abusa) de todas as influências latinas para criar pratos requintados, com misturas pouco convencionais e saborosas. Não à toa, o lugar tem uma estrela Michelin.
O menu degustação (108 euros e cinco pratos) é uma verdadeira experiência gastronômica. O ovo com caviar, purê de mandioca e emulsão de maracujá já fala por si, assim como o espaguete de papaia com trufa negra e jamón ibérico. Já que você está se aventurando, por que não provar um vinho branco feito com a uva Rolle (Vermentino), para acompanhar a brincadeira? Para terminar, peça para experimentar o rum aromatizado da casa.
Vinhos
Mônaco fica muito próximo da região de produção dos vinhos de Provence, portanto, os rótulos mais comuns nos restaurantes, bares e lojas obviamente serão os rosés. No entanto, por ser um país voltado ao turismo de alto padrão, não vai ser difícil encontrar as marcas mais famosas e safras célebres nos locais mais insuspeitos (incluindo mercados de rua).
Se você quiser comprar algumas garrafas, há boas lojas. A principal talvez seja a Dionysos, na charmosa rua Princesse Caroline (onde também há diversos bares e restaurantes para um happy hour). Lá há uma bela seleção de rótulos do mundo todo de diversas safras. Mas poucas garrafas expostas. O negócio é perguntar para o atendente. Não muito longe dali (na quadra seguinte, na verdade), na rua Baron de Sainte Suzanne, fica a Les Grands Chais Franco Monégasques também com ótimas opções para os experts. Por fim, a menos de 500 metros dali, no Boulevard Albert I, há a loja Caves & Gourmandises, com menos opções de rótulos, mas, em compensação, uma boa seção de produtos gourmet e destilados.