Entenda a origem da reentrância e desvende os mitos que perduram até os dias atuais. Afinal o fundo da garrafa determina a qualidade do vinho?
Redação Publicado em 01/09/2022, às 08h00
Os mitos em torno da cavidade inferior da garrafa de vinho são diversos. O que mais prosperou até hoje diz que quanto mais funda e côncava, melhor a qualidade da bebida.
Bobagem. O fundo da garrafa também não tem função logística ou de segurar os sedimentos em vinhos mais antigos.
A cavidade existe por uma questão de segurança. Quanto maior a profundidade do buraco, mais vidro é usado, ou seja, mais superfície. Assim a pressão interna é melhor distribuída, diminuindo as chances de em uma batida na parte mais frágil da garrafa, justamente o fundo, romper o vidro.
O fato de grandes vinhos normalmente estarem em garrafas com cavidades mais fundas é que esses vinhos têm “poder financeiro” para comportar uma garrafa dessas. Afinal, com mais material, o produto, claro, fica mais caro.
Mas nada impede que um fabricante decida colocar seu grande vinho em uma garrafa sem cavidade. Ou seja, não há relação direta entre o fundo da garrafa e a qualidade do vinho.
Você já parou para se perguntar o porquê de uma garrafa de vinho ter 750 ml e não 1 litro “redondo”?
Pois é. Quando paramos para refletir sobre essa questão podemos conjecturar muitas hipóteses. Algumas delas podem ou não ter a ver com os três quartos de litro terem se tornado a medida padrão das garrafas de vinho.
Muitos aventam a possibilidade de que os 750 ml tenham nascido da capacidade pulmonar dos sopradores de vidro. Há quem diga que os produtores de vidro só eram capazes de criar espaços que correspondiam a 650 ou 750 ml de líquido quando sopravam o vidro quente para os recipientes. Mas a “industrialização” da produção ocorreu no século XVII e, ainda assim, manteve-se esse “padrão”?
Parece pouco provável, não? Então, outra teoria diz que 750 ml era a quantidade média de vinho consumido por refeição por um europeu.
É inegável que o pessoal antigamente bebia vinho em profusão. Aliás, vale lembrar que, durante a Idade Média, era mais seguro beber vinho do que água. Ainda assim, essa tese não parece das mais confiáveis.
Há quem sustente ainda que a medida teria sido padronizada em decorrência da quantidade de taças servidas em um restaurante. Ou seja, com 750 ml, você poderia servir até seis taças de 125 ml. Haja precisão na hora de servir!
A possibilidade mais aceita, contudo, remete ao comércio entre França e Inglaterra. Ou seja, deveu-se por uma questão de ajuste de medidas. Enquanto os franceses usavam litros como medidas de volume, os ingleses usavam os galões imperiais – que equivalem a 4,54609 litros. Os vinhos eram embarcados em barricas de 225 litros, o que equivalia a aproximadamente 50 galões. E esses 225 litros também equivaliam a 300 garrafas de 750 ml.
Então, para ficar mais fácil, uma barrica era igual a 50 galões ou 300 garrafas. Dividindo 300 por 50 significa que um galão é igual a seis garrafas. Acredita-se que, por essa razão, até hoje os vinhos são costumeiramente vendidos em caixas de seis ou 12 garrafas.
Enfim, como sempre, em quase tudo na história da humanidade e do vinho, essa questão foi definida pelo comércio. Vale lembrar, contudo, que a legislação apontando que 750 ml seria “definitivamente” o padrão é da década de 1970.