Saber o que muda saber em qual safra o vinho foi produzido faz muita diferença para os apaixonados pela bebida
Redação Publicado em 02/02/2019, às 11h00
O leitor Rômulo Batista se diz um enófilo “recém-convertido” e costuma comprar seus vinhos em supermercados. Ele afirma já ter se acostumado a degustar determinados vinhos e questiona: “Compro um mesmo rótulo de vinho há dois anos e, apesar de o ano da safra ter mudado, não percebi uma mudança de sabor no vinho. Muda algo no vinho dependendo da safra?”
Vintage, cosecha, vendemmia, millésime, vindima... Há inúmeros termos que podem indicar a safra de um vinho. No entanto, para saber em qual ano as uvas para um determinado rótulo foram colhidas, basta ver a indicação numeral no rótulo. Mas, qual a importância de sabermos em que safra o vinho foi produzido?
Primeiramente, vamos frisar: a data apontada no rótulo é o ano em que as uvas foram colhidas. Outro detalhe importante: a videira é uma planta de ciclo anual. Portanto, juntando essas informações, o ano da safra indica sob o clima de que ano as uvas se desenvolveram e foram colhidas. Uma observação curiosa: como a colheita no hemisfério sul ocorre no começo do ano, grande parte do ciclo da planta (e as influências climáticas por ela sofrida) foi passado no ano anterior ao da safra indicada no rótulo.
Mas, enfim, é a questão climática que determina a importância de sabermos a safra de um vinho. Cada país, cada região, cada vinhedo é afetado diretamente pelo clima, que apresenta variações importantes em cada local. Mais do que isso, o clima de um ano nunca é igual ao de outro. Por mais parecidos que possam ser, pequenas diferenças de temperatura, milímetros a mais ou a menos de chuva, minutos de sol dependendo do dia ou quaisquer outros fatores, por mais insignificantes que sejam, acarretam mudanças na fisiologia da videira. E essas mudanças afetam o fruto. E do fruto nasce o vinho.
Um ano mais seco e quente, por exemplo, pode fazer com que um vinho se torne mais alcoólico graças à concentração de açúcar na fruta. Muita chuva, especialmente no período da colheita, por outro lado, pode atrapalhar bastante, gerando bebidas mais diluídas. Como os períodos vegetativos da videira costumam ser bem marcados e dependem muito de condições climáticas específicas, chuva, sol, frio, calor etc. em determinados momentos vão influenciar decisivamente no caráter das uvas e, posteriormente, do vinho. Dependendo da safra, um vinho pode apresentar taninos mais suaves, ou ter mais frescor, ou então mais potencial de guarda, por exemplo.
Ou seja, conhecer a safra é conhecer a interferência da natureza no vinho. Geralmente, os enólogos (e também os críticos de vinho) tendem a classificar as safras como boas, médias ou ruins e isso tem impacto, especialmente em rótulos de grande prestígio. Em uma grande safra, eles podem valer muito mais do que em anos de pouco destaque.
Atualmente, a maioria dos vinhos estampa a safra no rótulo. Mesmo os de grande volume – que, em teoria, primam por não apresentarem grandes variações de safra para safra – podem apresentar sutis diferenças. Portanto, conhecer a safra é saber o que esperar de um vinho, lembrando sempre que isso é um fator mais indicativo da tipicidade da bebida e não exatamente de sua qualidade.
Nem todos os vinhos apresentam o ano de suas safras no rótulo já que essa não é uma obrigação legal em muitos países. Alguns espumantes (especialmente Champagne) e fortificados (Vinho do Porto, por exemplo) nem sempre divulgam essa informação. Uma das razões é por eles serem produzidos com vinhos de mais de uma safra. Outra é por quererem criar um estilo consistente independentemente das condições climáticas de um determinado ano. Assim, geralmente, os produtores que fazem blends de safras optam por não colocar essa informação nos rótulos