O compositor japonês Ryuichi Sakamoto, vencedor do Oscar de Trilha sonora, criou uma sinfonia inspirada em sua degustação de três Champagnes Krug da safra 2008
André De Fraia Publicado em 09/09/2022, às 04h35
A Maison Krug é uma das pioneiras em harmonizar seus Champagnes com música em uma combinação para desencadear novas sensações gustativas e o convidado foi o compositor japonês vencedor do Oscar de Trilha Sonora de 1987, Ryuichi Sakamoto.
De acordo com a Maison, o projeto “Suite for Krug in 2008” foi iniciado em 2019 e se trata de uma sinfonia inspirada em três Champagnes elaborados em torno da excepcional safra de 2008; Krug Clos du Mesnil 2008, Krug 2008 e Krug Grande Cuvée 164ème Edição.
Ryuichi Sakamoto e Krug cocriaram uma experiência de harmonização da música com a bebida ao longo de 18 meses, tempo que o músico conversou com Julie Cavil, a Chefe da Adega da Krug, e buscou inspiração nos cuvées, no artesanato regional e na herança dos Champagnes.
Partindo do fato de as três expressões de Champagne terem nascido de uvas colhidas no mesmo ano, Sakamoto decidiu compor uma suite em três movimentos que respondesse às respectivas sensações de cada garrafa. Ele ainda gravou o que chamou de paisagens sonoras diretos dos vinhedos e da adega da Krug para incorporar à música.
A Maison expandirá ainda o projeto musical com três eventos multissensoriais globais em Nova York, Londres e Tóquio, apresentando uma orquestra ao vivo de 36 músicos selecionados por Ryuichi Sakamoto e degustação dos Champagnes da casa, claro.
Em uma pesquisa recente, a Master of Wine Susan Lin diz que pode “melhorar” o vinho já na sua taça apenas com música. Além de recém-formada como Master of Wine, ela ainda é mestre em piano clássico e musicologia e fez o teste de colocar uma plateia escolhida a dedo em uma degustação acompanhadas de “cinco peças musicais” como ela chamou, afinal, a quinta não era bem uma música, mas sim o silêncio.
Em cada degustação – do mesmo vinho um Champagne da Veuve Clicquot – os participantes foram solicitados a classificar cada taça por sua complexidade, qualidade da fruta presente, perlage e frescor, mas também deveriam dizer o quanto eles gostaram, ou não, do vinho e da música, permitindo assim que Susan quantificasse como cada parâmetro musical impactava na percepção sensorial do degustador.
“O que escutamos ou não quando comemos e bebemos tem implicações na percepção. Uma folha de alface americano crocante está fresca, é a nossa intuição auditiva que nos dá a dica”, diz Susan. O nome oficial desse campo de estudo é “percepção crossmodal” ou “percepção cruzada” e o objetivo é apontar como as pessoas fazem conexões entre estímulos aparentemente não relacionados como paladar e olfato com audição.
O resultado, segundo a pesquisadora, foi muito claro, a música melhorou muito a experiência para os participantes se comparado ao momento de silêncio: “Quando degustado em silêncio, o Champagne foi menos apreciado, anotado como menos fresco, menos frutado e menos complexo entre todos os outros”, contou Susan.
Dos 71 participantes apenas um percebeu que se tratava do mesmo vinho em todas as degustações. Os outros 70 afirmaram que estavam bebendo Champagnes diferentes e mesmo a única pessoa que afirmou que todas as taças eram do mesmo produto, admitiu que as suas percepções foram alteradas com cada música tocada.
A teoria da Master of Wine é de que os parâmetros de cada composição musical (timbre, tom etc.) podem ser extraídos de quase qualquer gênero musical para causar efeitos semelhantes, e não necessariamente com a música clássica – que alguns dos participantes do estudo dela afirmaram nem apreciar. Isso pode ter ramificações interessantes, que vão além do prazer proporcionado por uma taça de vinho, pois pode ser utilizado na promoção e venda de rótulos, em degustações e festas e até mesmo para criar uma “assinatura” musical para um determinado vinho, que o identifique imediatamente, como fazem tantas empresas na publicidade. “A música é um fenômeno que nos dá tanto prazer, dor e tudo mais. Se a música pode nos fazer sentir tanto, pode tornar o que comemos e bebemos mais interessantes”, diz a pesquisadora.