A uva Bonarda, apesar de ser usada para produzir vinhos baratos na Argentina, é amplamente cultivada
José Ivan Santos* Publicado em 20/03/2019, às 13h00 - Atualizado às 15h40
Em uma das primeiras vezes que estive em Mendoza, depois de degustar vários Malbec, um grupo de produtores me apresentou a uva Bonarda - colocaram uma garrafa na mesa, afirmando que era uma uva bastante comum na Argentina. Não era nenhum dos melhores vinhos de Mendoza, mas me recordo até hoje de seu frescor, da sua suavidade e simplicidade. Atualmente, inúmeros produtores argentinos trabalham com essa uva e seus vinhos já chegam ao Brasil.
Para alguns produtores, a Bonarda plantada na Argentina é a mesma do Norte da Itália, prima das uvas da Lombardia e da Emilia-Romagna. Outros acham que ela é aparentada da Corbeau ou Douce Noire de Savóia, na França. Essa região está separada da Itália pelos Alpes e, portanto, a Bonarda deve ser também prima da Dolcetto ou da Barbera.
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Sabe-se que a Bonarda chegou à Argentina com os primeiros imigrantes europeus, no final do século XIX. Lentamente, adaptouse às condições locais, por meio de uma seleção natural de clones no campo, ajudada pelo fato de não ser particularmente sensível a nenhuma enfermidade. Depois da Malbec, com 19 mil hectares de vinhas, vem a Bonarda, com 16 mil hectares, dos quais 9 mil são plantados nas planícies quentes do Leste de Mendoza, nos arredores de San Martin, Junin, Rivadavia e Santa Rosa, longe dos ventos frios da Cordilheira dos Andes.
A uva Bonarda tem um ciclo longo de amadurecimento, necessitando de bastante calor para conseguir amadurecer. Quando as uvas não amadurecem o suficiente, seus vinhos têm pouca cor e corpo e, no palato, um leve toque de ervas. Apesar disso, é muito produtiva. Os vinhos ralos com uvas provenientes de vinhedos de grande produção não ajudaram a boa reputação da Bonarda. Além de produzir vinhos medíocres, ela é usada em cortes de uvas Malbec e até com variedades como Criolla, nos 'vinos gruessos', vinhos baratos dos supermercados argentinos.
Alguns produtores enfrentam o desafio de elaborar um bom vinho de Bonarda, e vários desses vinhos estão disponíveis em importadoras brasileiras. São vinhos marcados por frescor, acidez vibrante, fruta fresca e taninos suaves. Por um preço bastante acessível, constituem uma excelente relação entre qualidade e preço e, na Argentina, diz-se que são um revigorante para a alma, combatendo tristezas e saudade.