Vale dos Vinhedos: reconhecimento europeu

A região ganhou da União Européia o reconhecimento de sua Indicação de Procedência e espera triplicar as exportações nos próximos anos

Ronald Sclavi Publicado em 16/04/2007, às 12h34 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h44

Para estampar a IP no rótulo, o produtor deve comprovar a procedência da uva

O Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul, é a primeira região brasileira com Indicação de Procedência (IP) reconhecida pela União Européia. Após um processo que perdurou por cerca de 12 anos, os vinhos brasileiros alcançaram uma condição próxima à tão almejada Denominação de Origem (DO ou DOC), atestado internacional de tipicidade da bebida.

"Neste primeiro momento, entendemos que o reconhecimento da nossa IP é até mais importante para o mercado interno do que para o externo", afirma Luiz Henrique Zanini, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), uma das entidades mais importantes nessa conquista.

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Para Zanini, a chancela européia chega como uma injeção de ânimo para produtores do Vale diante da concorrência mais do que acirrada com as vinícolas estrangeiras no mercado interno do País. O próprio consumidor tem um motivo a mais para ficar atento ao produto nacional, agora reconhecido no berço do vinho, o Velho Mundo. O pleito brasileiro foi analisado em conjunto com o de Napa Valley, nos EUA.

Trocando em miúdos, com o reconhecimento, a União Européia atesta os processos gerenciados pela Aprovale - órgão auto-regulamentador do setor - para o controle e análise dos vinhos finos produzidos naquela região do Brasil. Apenas as vinícolas que submeterem seus produtos à entidade poderão carregar o selo de procedência.

O território
O primeiro passo para essa conquista foi a delimitação do território que determinaria a procedência Vale dos Vinhedos. Não se trata apenas de demarcar uma área, mas sim de encontrar as características geográficas comuns, identificando um mesmo terroir compartilhado por um grupo de produtores.

O que caracterizou o Vale foi uma bacia hidrográfica com vários pequenos rios e riachos que banham uma área montanhosa de 81.123 km², com altitude de 742 metros, temperaturas médias que oscilam entre 16 e 18º C, nos municípios de Monte Belo, Bento Gonçalves e Garibaldi, nas Serras Gaúchas.

Para chegar a este mapeamento, foi necessário um rigoroso estudo geográfico promovido pela Universidade de Caxias do Sul e Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Em seguida, a marca Vale dos Vinhedos foi registrada no INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial.

O vinho
Só então os técnicos europeus começaram seu trabalho investigando cada fase do percurso que o vinho deve percorrer para poder estampar no seu rótulo a IP - primeiro passaporte carimbado para o mercado europeu.

O primeiro passo é o cadastro de produtor, da Vinícola, realizado pelo Ibravin - Instituto Brasileiro do Vinho. Esse cadastro só é concedido depois de comprovada a procedência da uva a ser utilizada na elaboração do vinho.

Em seguida, o Conselho Regulamentador da Aprovale faz uma coleta diretamente nos tonéis e barricas do produtor. O vinho passa por uma infinidade de testes químicos que visam determinar se as informações prestadas pela vinícola sobre a bebida condizem com a formulação do vinho. Castas, percentuais, acidez, conservantes, enfim, a análise química é uma espécie de garantia contra fraudes de produção.

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IP alavancará produção gaúcha

Analisado quimicamente, o vinho também é submetido a exames sensoriais feitos por experts sem nenhuma ligação com os produtores. São enólogos, estudiosos e conhecedores ligados à Embrapa e à Associação Brasileira de Enologia que degustam as amostras às cegas, emitindo pareceres e validando os exames laboratoriais.

Emitido o certificado para a vinícola, este processo se repete a cada amostra produzida e, mais tarde, engarrafada. Só assim o selo com a Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos pode ser colocado sobre a rolha, logo abaixo da cápsula do vinho.

Longe de significar uma imediata explosão de vendas para os países europeus, a IP profissionaliza nosso mercado. Agora temos uma marca de qualidade, com fiscalização reconhecida, como as principais regiões produtoras do mundo. Os 500 mil litros (tímidos US$ 1,2 milhão) negociados com os países do Velho Mundo já têm para onde crescer. Nos próximos cinco anos, os produtores esperam triplicar os seus volumes.

O Futuro
O próximo passo para o Vale dos Vinhedos é obter sua Denominação de Origem. Em outras palavras, o reconhecimento da identidade regional dos nossos vinhos. A boa notícia é que não estamos longe desse momento. "Faltam apenas alguns ajustes no que diz respeito aos métodos de plantio e variedades cultivadas na região", afirma Zanini.

O presidente da Aprovale também afirma que a entidade está à disposição de produtores de outras regiões para troca de experiências neste processo. "Já fizemos contato até com os pecuaristas que trabalham pelo reconhecimento da marca Carne do Pampa", conta Zanini, que reconhece o potencial do Vale do São Francisco e das terras gaúchas na divisa com o Uruguai.

"Agora esperamos que o Ibravin faça sua parte com o apoio que o mercado necessita para crescer e se desenvolver", defende Zanini. Traduzindo: o setor quer que o governo reconheça e invista no potencial do setor.