Não é só de tintos que vive Portugal, seu Vinho Verde ganha cada vez mais adeptos, especialmente em países de clima quente
Redação Publicado em 02/02/2009, às 16h26 - Atualizado em 27/07/2013, às 13h45
Conhecido tradicionalmente por seus tintos e fortificados de reputação universal, Portugal tem, na realidade, um quarto de suas terras vitivinícolas cobertas com vinhas plantadas para a produção de um dos vinhos mais transparentes, brilhantes, delicados e vivos que há: os Vinhos Verdes.
É importante lembrar que Vinho Verde é o nome de uma região demarcada. A Denominação de Origem dos Vinhos Verdes, começando ao norte, vai beirando o rio Minho, que desenha a fronteira com a Espanha. Ela é recortada por cinco dos dez principais rios de Portugal, dando à região uma paisagem de frescura e verdor sem igual - fato que comprova a teoria de ser esta a característica do panorama de onde vem o nome do produto. Portanto, verde, ali, é mais do que uma cor, é uma sensação. O ar no extremo norte do país de nossos primeiros colonizadores tem um cheiro verde, úmido e perfumado.
Paisagem do Alto Minho, norte da região |
São nove as sub-regiões, cada uma delas com clima e geografia bem definidos. A parte mais meridional é atravessada pelo rio Douro, por onde o retinto vinho do Porto é levado das vinhas (no interior) aos lagares de Vila Nova de Gaia, de frente ao Atlântico. A parte leste dos frescos Vinhos Verdes, encosta, de fato, na vizinha denominação do Douro, de clima conhecidamente escaldante. Desta amplitude de climas nas ce, sem dúvida, uma paleta deliciosa de estilos de vinhos brancos perfeitos para o clima do Brasil.
#Q#História
A região dos Vinhos Verdes, atualmente a maior do país, teve, durante anos, a vinha como uma cultura secundária. Até hoje vemos essa herança em alguns sítios. A principal cultura era o milho, que ocupava a parte mais central das propriedades. Em volta, as vinhas, conduzidas em "ramadas" altas acima da cabeça (para facilitar a colheita), formavam uma espécie de caminho sombreado ao redor das quintas.
Curioso também é o fato de que, durante os últimos séculos, o Vinho Verde era basicamente tinto. O branco era uma brincadeira de primavera, que surgia refermentando, com sua espuma ligeira, para ser tomado em comemoração ao começo da época das flores. Por outro lado, quando descoberta as possibilidades do branco, a superprodução castigou o estilo, que sofreu com os volumes excessivos produzidos até o final dos anos 70. Algumas tradições e maus hábitos, no entanto, estavam para ser derrubados a partir da década seguinte.
Mudança
O novo Vinho Verde surgiu da percepção de que alguns aspectos da velha tradição não levariam esta região de pequenos agricultores muito longe. As uvas tintas não amadureciam bem e produziam vinhos fortes em cor, de alta acidez, pouco álcool. Elas acabaram dando lugar às uvas brancas.
O tinto, que representava 70% da produção até os anos 80, passou a apenas 30%. A criação, em 1926, da Comissão de Viticultura Regional de Vinhos Verdes (CRVV), com atividade reconhecida em 1987, ajudou a região no desenvolvimento da viticultura local. A criação da estação vitivinícola Amândio Galhano, no vale do Lima, impulsionou as pesquisas em seleção clonal para as castas da região; encontrou sistemas de condução da vinha adequados, mais ventilados, permitindo maior insolação e menor proximidade às fontes de umidade causadoras de doenças; porta-enxertos adaptados e sistemas de nutrição e fertilização das vinhas; assim como na multiplicação vegetativa da videira, principalmente as já enxertadas.
A CRVV atuou dinamicamente na melhora da aplicação de técnicas enólogicas, trabalhando em parceria com instituições de ensino na seleção e aplicação de leveduras e no controle da fermentação malolática, geralmente não desejada para manter o caráter primário dos aromas.
Os volumes de produção também baixaram significativamente. Pequenas "Quintas" surgiram, dando o exemplo do que era um vinho nascido de maneira artesanal, do "pouco e bom". E o que ficou da tradição? Sem dúvida, a grande herança da diversidade de uvas, antigas, variadas e locais (veja quadro).
Casa típica da região dos Vinhos Verdes |
Estilo do Verde
Apesar de variarem no estilo, há um aspecto que todo Vinho Verde mantém em comum: o frescor da "agulha" fina que o gás carbônico adicionado lhes confere. Não, ele não é natural da fermentação. Os produtores não mentem: "não é gás carbônico residual, e sim, adicionado, para manter o estilo que nos é característico".
Assim, com uvas brancas autóctones, forte tradição aliada à pesquisa e inovação, a região dos Vinhos Verdes perpetua a tipicidade da região, afastando-a da mesmice de outros brancos, protegendoa da concorrência e garantindo aos consumidores (principalmente os dos países quentes) vinhos fantásticos, de estilos variados, sempre perfumados e intensos, apresentando uma justa medida de força e delicadeza fresca.