A força e equilíbrio desta que pode ser a melhor safra de Porto Vintage de todos os tempos
Christian Burgos Publicado em 16/07/2013, às 07h30 - Atualizado em 03/12/2014, às 08h04
É difícil definir o que torna uma safra especial, ainda mais quando explicar o porquê disso significa tentar definir o conceito de perfeição. Um ano perfeito para um vinhateiro envolve tantas variáveis que a única forma de compreender todas as nuances que transformam as condições climáticas no vinhedo em um grande vinho é provando a bebida.
Em Portugal, com seus seculares vinhos do Porto, um ano é considerado Vintage quando a maioria das casas produtoras e exportadoras aplicam e têm seus vinhos reconhecidos nessa categoria. Para tanto, além de cumprir as exigências relativas à produção, o vinho tem que ser aprovado pelo painel de degustadores do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). No dia 21 de junho, na cidade do Porto, ADEGA participou da cerimônia da declaração de 2011 como safra Vintage.
A última declaração havia sido feita para a safra de 2007, batizada de "a safra milagrosa" (ADEGA também cobriu o evento na época e você pode encontrar a matéria em nosso site www.revistaadega.com.br). Antes disso, o único outro Vintage do novo milênio foi 2003. Segundo as estatísticas, as safras Vintage ocorrem, em média, apenas três vezes por década.
Charles Symington, enólogo chefe da Symington Family Estates, considerou o ano excepcional. "Uma primavera moderadamente quente e outono com muita brisa tornaram uma safra que deveria ser colhida mais cedo em uma safra tardia. Um período crítico aconteceu em agosto. A prolongada ausência de chuvas levou ao estresse das videiras e levantou dúvidas sobre o estilo e mesmo qualidade da safra. Mas finalmente, choveu em 25 de agosto e mais um pouco em 1o de setembro, tudo na medida ideal", apontou Symington. E a partir daí a natureza não parou de ajudar. Durante a colheita, a previsão do tempo era muito estável e sem chuvas, dando aos produtores a tranquilidade de esperar o momento ideal sem ter que se defender do mau tempo.
Dirk Niepoort, um ícone da nova geração do Douro, ressalta que além do clima perfeito, "a atitude das casas também foi perfeita, pois a maioria dos produtores produziu muito pouco, focados fortemente na qualidade". Mas outras razões, além do foco na qualidade, levaram as casas a produzir muito menos Vintage do que poderiam - em média menos de 10% de sua produção total - e definitivamente muito menos do que poderiam vender.
Dominic Symington, um dos mais proeminentes líderes desta indústria, revelou que, nas safras Vintage, ele, Charles e os outros diretores da Symington se reúnem para discutir quanto Vintage será engarrafado. Os mercados mundiais, ávidos por esses tesouros do Porto, são preteridos em termos de venda presente para que a casa possa guardar uma parte considerável desses vinhos de qualidade excepcional para que um dia possamos degustar os espetaculares Tawnies e Colheitas com 10, 20, 30, 40 ou mais anos. "Esse sacrifício econômico imediato é um presente às futuras gerações de Symingtons e, ao mesmo tempo, um tributo aos que os precederam e fizeram o mesmo", diz o produtor. Os consumidores de Tawnies envelhecidos certamente agradecem.
Durante a cerimônia, representantes das casas são convidados a despejar seus vinhos em uma grande taça que representa o blend do Vintage Confraria
Conversando com Bento Amaral, chefe do painel de provadores do Vinho do Porto, indagamos sobre o estilo Vintage - um vinho que alcança seu apogeu depois de décadas - frente à um mundo que parece não ter tempo ou paciência. Sentimos ter ousado questionar um dogma, visto que isso requereria um debate sobre o que deve ser um Vintage em 20 anos, e isso não está em questão no painel de provadores, admiráveis guardiões e avalistas do Vinho do Porto.
No entanto, o "vanguardista" Dirk Niepoort aborda a questão mais naturalmente: "É maravilhoso tomar um jovem Porto Vintage, mas um dos grandes prazeres é tomá-los com mais idade". De fato, o tema do estilo, momento de consumo e capacidade de guarda dos Vintage é um de seus grandes encantos, mas a interpretação do futuro de um vinho muitas vezes leva a conceitos equivocados que Charles Symington faz questão de esclarecer ao ressaltar que "a longevidade está ligada à força, um vinho longevo não precisa ser desequilibrado e com arestas". E força é o que não falta à esta safra de vinhos clássicos, poderosos e estruturados "que só está passível de ser apreciada jovem pelo grande avanço das técnicas de vinificação", conforme aponta Symington.
Ainda assim, cada safra tem suas características. Por exemplo, 2007 foi mais elegante e característica de um ano mais frio e, invariavelmente, para ilustrá-las, elas são comparadas com safras passadas. Mas 2011 tem características muito próprias, sendo difícil de relacioná-la a uma única safra antiga. Niepoort faz o exercício e diz que 2011 seria a combinação das características de diversas safras históricas: "a concentração de 1945 (com 45 mais sobremaduro), os toques terrosos de 1997, a fruta de 1966 e o equilíbrio de 2005 (com a irreverência de quem foi o único a declarar um vintage naquele ano)". Para ele, 2011 talvez seja a melhor safra Vintage de todos os tempos.
ADEGA degustou os 56 Vintages 2011 junto a alguns dos mais proeminentes críticos de vinho do mundo, que se reuniram no Porto em uma sala muito especial e carregada de simbologia. Ao contrário dos anos anteriores, quando a degustação ocorria no tradicional Palácio da Bolsa, essa sala era moderna, toda branca, com excelente luminosidade, adornada com poucos móveis e obras de arte e cujas mesas com toalhas pretas estavam dispostas com vista para a parede de vidro com espetacular vista para a foz do Douro. Um local realmente inspirador para uma degustação tão especial.
A potência de fruta, taninos e acidez premiarão a paciência dos que comprarem e guardarem essas garrafas, e fazem de força e equilíbrio as palavras que definem esta safra. Entretanto, não é possível generalizar a descrição de todos os vinhos, que carregam consigo os estilos de cada casa e as características peculiares de cada vinhedo. No Douro, há uma combinação infinita de fatores - com alguns vinhedos à beira do rio e outros a mais de 800 metros de altitude em encostas que apontam para os diversos pontos cardeais e índices pluviométricos muito distintos em cada região. Apesar das peculiaridades de cada rótulo, a cerimônia onde cada produtor entorna uma garrafa de seu vinho na grande taça de onde sai o Vintage Confraria, com que todos os presentes brindam, relembra que uma safra Vintage só é alcançada pelo esforço de qualidade do conjunto das casas do Vinho do Porto.
Todos os 56 vinhos foram degustados às cegas e ADEGA apresenta aqui alguns dos que se destacaram na degustação.
Em 2011, houve uma primavera moderadamente quente e outono com muita brisa, o que tornou uma safra que deveria ser colhida mais cedo em uma safra tardia
VINHOS AVALIADOS |
|
94 pontos BIOMA VINHA VELHA VINTAGE 2011 Niepoort, Porto, Portugal (Sem importador). Aroma austero. Característica que se confirma em boca com boa estrutura, fruta negra profunda e um toque de bosque. Os taninos andam junto com a doçura, e a acidez aporta um toque cítrico de laranja que harmoniza a obra. Destacado volume e exuberância no fim de boca. CB |
|
96 pontos BURMESTER VINTAGE 2011 Burmester, Porto, Portugal (Adega Alentejana). Delicioso aroma de figo com toques de mexerica e pimenta rosa. Em boca, uma densa e vibrante calda de frutas escuras com doçura na medida, fazendo par com exuberante acidez e taninos tenros e elegantes. Retrogosto guloso. CB |
|
95 pontos CAPELA DA QUINTA DO VESÚVIO VINTAGE 2011 Quinta do Vesúvio - Symington, Porto, Portugal (Mistral). Aroma em que sobressai um toque terroso e mineral. Em boca, é super denso, com ameixa negra, taninos terrosos e ervas que, junto com a acidez, refresca o fim de boca e prepara o paladar para mais um gole. Um Porto exuberante e longevo. CB |
|
94 pontos CRUZ VINTAGE 2011 Porto Cruz, Porto, Portugal (Sem importador). Belíssimo floral com toque de ervas. Na boca, doçura de mel com ervas e fim medicinal que aporta frescor ao conjunto. No fim de boca, inebriante açúcar queimado. CB |
|
94 pontos DALVA VINTAGE 2011 C. da Silva, Porto, Portugal (Da Confraria). Bem-vindos os aromas de stevia e ervas. Denso como uma calda de frutas. Na boca, é concentrado e a doçura da fruta harmoniza muito bem com a vibrante acidez e taninos. Muito longo. CB |
|
94 pontos DELAFORCE VINTAGE 2011 Delaforce, Porto, Portugal (Sem importador). Aroma com toque de argila e um floral, com violeta. Na boca, a boa acidez já se revela no primeiro ataque, seguida dos taninos e da fruta (ameixa em passas) com toque de mel. O fim de boca volta a destacar o terroso e o retrogosto encanta com um toque de feno. CB |
|
96 pontos KOPKE VINTAGE 2011 Kopke, Porto, Portugal (Wine Mundi). Fruta vermelha, capim cortado e sela suada. Ultra concentrado, com fruta para comer de colher. Na boca, a acidez e os taninos explodem em conjunto com a fruta. Imponente suculência com equilíbrio. Vibrante hoje, mas destaco os taninos que merecem anos de evolução. Se você achar que é velho demais para comprá-lo, mas ama seus netos, não se reprima. CB |
|
94 pontos MAYNARD'S VINTAGE 2011 Barão de Vilar, Porto, Portugal (Sem importador). Um defumado encantador marca sua personalidade e se integra bem à fruta vermelha. Na boca, é denso e exuberante. Frutas, calor, taninos e acidez lá em cima. Um fim de boca com toque de chocolate e a lembrança da textura dos taninos. CB |
|
96 pontos NIEPOORT VINTAGE 2011 Niepoort, Porto, Portugal (Mistral). Aromas minerais de pedra de isqueiro caminham juntos com a cereja e um toque de feno. Na boca, sente-se de imediato a estrutura e o equilíbrio. A fruta é límpida, os taninos têm uma textura adorável, com uma certa rugosidade. A acidez complementa perfeitamente esse quadro. Longo e longevo, potente sem ser enjoativo. Força e elegância à la Bruce Lee. CB |
|
95 pontos OFFLEY VINTAGE 2011 Sogrape, Porto, Portugal (Zahil). Destaca-se o grafite que acompanha a fruta vermelha e um toque de tangerina. Intenso e concentrado, com grande acidez, taninos e muita fruta. A doçura da fruta segue presente até o fim de boca, que revela um toque medicinal e que limpa o paladar para um delicioso retrogosto de chá de ervas. CB |
|
94 pontos PINTAS VINTAGE 2011 Wine & Soul, Porto, Portugal (Adega Alentejana). Nariz bem distinto, com toques de flor de laranjeira. A boca confirma o nariz e vibra com frutas vermelhas e sálvia. Muito equilíbrio entre frutas, acidez e taninos. Uma elegância que não apela à doçura da fruta para brilhar. CB |
|
96 pontos POÇAS VINTAGE 2011 Poças, Porto, Portugal (Obra Prima). Aromas de ervas e leve defumado de pinus na lareira. Boca concentrada e densa de cereja e amora maduras com potentes taninos e acidez. O retrogosto também ressalta pinus. Um grande vinho, que certamente resistirá ao teste do tempo. CB |
|
95 pontos PRESIDENTIAL VINTAGE 2011 C. da Silva, Porto, Portugal (Sem importador). Um buquê inebriante de stevia e outras ervas aromáticas como sálvia e manjericão. A boca segue na mesma trilha, mas revela força com a acidez e sobretudo com os taninos de textura deliciosa, que prometem longevidade. Um Porto exuberante. CB |
|
95 pontos QUINTA DA PRELADA VINTAGE 2011 Quinta da Prelada, Porto, Portugal (Porto Mediterrâneo). No aroma encontramos cogumelos e cavalos. Paladar com boa "pegada". Taninos e acidez deliciosos, equilibrados com fruta na maturação perfeita. Tudo isso conferindo um conjunto com destacada vibração. Fim de boca longo e um delicioso retrogosto com toque de açúcar queimado. CB |
|
94 pontos QUINTA DE VALLE LONGO VINTAGE 2011 Vallegre, Porto, Portugal (Malbec do Brasil). Seu aroma combina mel e ervas. Boca densa e uma concentração sem exageros de compota de frutas vermelhas. Deliciosa acidez e taninos de grande qualidade. CB |
|
95 pontos QUINTA DO CRASTO VINTAGE 2011 Quinta do Crasto, Porto, Portugal (Qualimpor). Nariz austero e com toque de musgo. Na boca, é a definição da potência com controle. Alegria e equilíbrio. Fruta muito límpida e ervas andando de mãos dadas com acidez e taninos, que demonstram deliciosa rugosidade. Longuíssimo, mantém-nos salivando por horas. Degustada amostra de barrica. CB |
|
95 pontos QUINTA DONA MATILDE VINTAGE 2011 Quinta Dona Matilde, Porto, Portugal (Sem importador). Nariz profundo com almíscar e toques de musgo. Em boca, mostra toda sua força e apresenta a doçura da fruta domada pela acidez em um conjunto vibrante. Taninos também elegantes e um quê terroso no retrogosto. CB |
|
97 pontos |
|
94 pontos |
|
94 pontos QUINTA SEARA D'ORDENS VINTAGE 2011 Quinta Seara D'Ordens, Porto, Portugal (Adrimar). Aroma com toques florais e salobro. Em boca, a doçura da fruta vermelha segue a acidez e os taninos marcantes e estruturados. Essa potência em boca vai cedendo espaço a um elegante retrogosto com toque de cana-de-açúcar. CB |
|
96 pontos QUINTA VALE D. MARIA VINTAGE 2011 Quinta Vale D. Maria, Porto, Portugal (Vinho Sul). Elegante, como uma modelo da Victoria's Secrets, esbelta, mas com volume nos lugares certos. No nariz, flores, fruta e mineral a xisto se completam de maneira complexa. Boca com bela estrutura e grande personalidade. As frutas são uma cristalina salada de frutas vermelhas com um finalzinho medicinal. Excelente acidez acompanhada de taninos presentes e voluptuosos, com uma textura que permite ser tomado com poucos ou muitos anos de vida. CB |
|
96 pontos |
|
96 pontos SANDEMAN VINTAGE 2011 Sogrape, Porto, Portugal (Pernod Ricard). Nariz inebriante, indo além da fruta, um passeio no campo de stevia no alto das encostas do rio Douro. Na boca, uma potência, com concentração e densidade de frutas muito bem balanceada pela acidez. Com taninos bem presentes, que formam a base e seguem até o fim do paladar, e que merecem anos para atingir seu potencial. Retrogosto fresco com toque mentolado. CB |
|
94 pontos SMITH WOODHOUSE VINTAGE 2011 Smith Woodhouse - Symington, Porto, Portugal (Sem importador). Que nariz envolvente. Frutas silvestres e flores. Na boca, é denso e concentrado, com compota de frutas vermelhas, bela acidez e taninos com textura arenosa. CB |
|
95 pontos VIEIRA DE SOUSA VINTAGE 2011 Vieira de Sousa, Porto, Portugal (Sem importador). No nariz, a stevia e pinho conferem frescor. Um mar calmo que abre espaço para a potência de boca que surpreende. Dulçor de fruta madura escorado pelos taninos e pela acidez que novamente leva a composição à elegância de um retrogosto etéreo. CB |
|
94 pontos VISTA ALEGRE VINTAGE 2011 Vallegre, Porto, Portugal (Malbec do Brasil). Aroma com um toque de bolo de laranja. Em boca, destaca-se a densidade. Repleto de frutas, com proeminente acidez e taninos que as escoltam. Ao fim de boca, suaviza-se e cede espaço para um retrogosto de melado com toques de laranja. CB |