Serra gaúcha sob chuvas intensas têm alerta urgente da defesa civil para o rompimento de barragem
Silvia Mascella Publicado em 02/05/2024, às 17h40
O estado do Rio Grande do Sul está em estado de calamidade pública e a Serra Gaúcha, a maior zona produtora de uvas e vinhos do Brasil está debaixo d'água. No meio da tarde desta quinta-feira, 2 de maio, o prefeito da cidade de Bento Gonçalves, Diogo Segabinazzi Siqueira, publicou nas redes sociais um vídeo, avisando sobre o rompimento parcial da barragem 14 de julho, entre os municípios de Cotiporã e Bento, e pedindo à população que abandone as áreas próximas ao rio Taquari e ao rio das Antas com urgência e sigam para regiões mais altas.
Cidades como Santa Tereza, já duramente afetada pelas chuvas do final do ano passado, voltam a sofrer com alagamentos e desta vez muitas outras cidades estão se tornando inacessíveis pelo rompimento de pontes e pelos estragos causados pela enxurrada no asfalto de muitas rodovias e cidades. A cidade de Flores da Cunha, maior produtora de uvas do estado, está sem energia elétrica há horas, informou o enólogo e sócio-proprietário José Ventuini, da Vinícola Casa Venturini.
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As áreas enoturísticas da Serra Gaúcha, como o Roteiro Caminhos de Pedra, estão com dificuldade de acesso e os empreendimentos estão fechados e contando os prejuízos. No Vale dos Vinhedos, primeira DO brasileira, as perdas se acumulam. O sócio-proprietário da Adega Refinaria Terroirs do Brasil, Fabiano Valduga, viu a água inundar sua loja, localizada num casarão centenário da família em menos de 5 minutos. "Na 3a feira a água chegou próxima e pegou uma parte da loja. Conseguimos subir algumas coisas. Mas ontem e hoje o rio seguiu subindo e como há um poste em situação precária bem perto da loja, não pudemos mais acessar a área, assim não sabemos até onde a água já chegou", explica Fabiano. A loja tem mais de 1500 rótulos de vinhos brasileiros de 10 estados e já passou por uma inundação no ano passado. "Mas felizmente nós estamos bem, nossas famílias e nossos colaboradores estão salvos. Quando pudermos acessar a loja vamos pensar em como reconstruir", diz Fabiano.
O presidente da Associação Brasileira de Enologia, Ricardo Morari, contou que as informações estão chegando aos poucos entre os associados e que a inacessibilidade das cidades e a falta de energia em alguns locais estão dificultando a obtenção de informações precisas. "Por enquanto sabemos que um vinhedo em Pinto Bandeira foi arrastado pela enxurrada. O vinhedo desceu como se fosse um rio. Mas felizmente não soubemos de nenhuma perda de vidas entre os associados", contou Ricardo. O local de trabalho de Ricardo Morari, a Cooperativa Garibaldi, teve parte da loja, do wine bar e da área de recebimento de turistas inundada, mas não aconteceram perdas graves, segundo ele. A cidade de Garibaldi não está entre as mais afetadas.
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O enólogo Lucas Foppa, da Tenuta Foppa & Ambrosi contou que uma de suas funcionárias têm família que cuida de uma propriedade dentro do Vale dos Vinhedos e teve dificuldade para tirá-los de lá por conta da instabilidade do solo na estrada principal do Vale. "Mesmo a nossa vinícola, que está em Garibaldi, numa parte alta, teve um pequeno alagamento na antiga sala de máquinas", contou Lucas.
As chuvas intensas no estado já duram 4 dias e a previsão é de diminuam nos próximos dias mas voltem com força na semana que vem. A capital Porto Alegre também está sendo atingida fortemente e o rio Guaíba não para de subir. "Soubemos hoje que a chuva está indo também para o norte do estado e para o litoral. Alguns vinhedos já foram afetados nessas regiões, mas se não forem arrastados é possível recuperar, pois nesta época eles estão quase entrando em dormência", explicou o enólogo Lucas Foppa.
Até o momento foram registradas 29 mortes, 60 desaparecidos e quase 15 mil desabrigados em todo o estado, que registra mais de 100 trechos inteditados em rodovias e 147 municípios afetados até o momento pelas quedas de barreiras, inundações e deslizamentos.