Apesar do Armagnac e do Cognac nascerem em regiões próximas e terem a mesma base, há diferenças que fazem cada uma ser única
Redação Publicado em 08/09/2021, às 16h00 - Atualizado em 31/01/2025, às 07h05
Em 1310, Vital Dufour, um padre francês da cidade de Eauze, descreveu os benefícios para a saúde de uma "eau-de-vie" conhecida como "aygue ardente".
Em seu manuscrito, ele mencionava mais de 40 usos para a aygue ardente, nome pelo qual o Armagnac ou o Cognac era conhecido naquela época. Este é tido como o primeiro registro e referência à "eau-de-vie", como são conhecidos esses brandies.
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Quando o Armagnac comemorou 700 anos em 2010, a Gasconha, região no sudoeste da França onde ele é produzido, se encheu de orgulho e foi à biblioteca do Vaticano para receber o documento original do padre Dufour.
Durante esse longo período, a aygue ardente ou Armagnac foi produzido em abadias, feito por monges e padres que adicionavam ervas buscando um uso medicinal, pois era o único remédio naqueles tempos.
A destilação como conhecemos atualmente surgiu muito tempo depois, por volta de 1650, e o produto artesanal de 1310 se tornou mais industrial sem perder a qualidade.
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O Armagnac é produzido na França, próximo às comunas de Gers, Landes e Lot-et-Garonne, na região conhecida como Occitânia. O triângulo formado pelas cidades de Bordeaux, Toulouse e Pau delimita, por lei, desde maio de 1909, a região com a denominação "Appellation Contrôlée Armagnac".
O Armagnac é produzido unicamente com vinhos brancos de 10 castas distintas, sendo as mais comuns a Ugni Blanc, a Folle Blanche, a Colombard e uma uva pouco conhecida fora da região chamada Baco.
A Baco nasceu do cruzamento da Folle Blanche com uma casta chamada Noah e, inicialmente, veio com o objetivo de substituir a Folle Blanche, que estava com problemas de resistência aos enxertos na era pós-filoxera.
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A DOC Armagnac se divide em três sub-regiões:
Muito menor que Cognac, a área tem cerca de 15.000 hectares de uvas, sendo que apenas 4.200 são de uso exclusivo do Armagnac.
O Cognac é produzido na comuna homônima, que fica na região administrativa da Nova Aquitânia, sudoeste da França. São seis regiões ou crus que somam 78.000 hectares de uvas plantadas para esse fim:
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Em Cognac, são seis castas permitidas: Ugni Blanc, que cobre 98% da região; Folle Blanche, que já foi tradicionalmente a uva ligada à bebida, mas hoje representa menos de 1% das plantações; Folignan, Colombard, Montils e Sémillon.
Uma curiosidade: a Folignan é um cruzamento da Ugni Blanc e da Folle Blanche e pode ser usada em, no máximo, 10% do blend.
É muito comum as pessoas confundirem Armagnac com Cognac, seu primo mais famoso. Os dois pertencem à família dos brandies, que ainda inclui Brandy de Jerez, Pisco, Grappa, Bagaceira, entre outros produtos.
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A diferença entre eles, além das regiões demarcadas e reconhecidas e das castas, está no processo de destilação. Enquanto o Cognac é destilado duas vezes, o Armagnac passa por apenas uma destilação. Isso faz com que a bebida final seja muito mais potente e persistente em sabor, sem alterar o teor alcoólico, que é de 40% nas duas bebidas.
Para finalizar, ambas vão para barris de madeira e ficam envelhecendo por tempos distintos. Como produto final, o Armagnac já está disponível para consumo mais rapidamente que o Cognac, que costuma ficar em barris por 20 a 60 anos.
O fato é que as bebidas são parecidas apenas na matéria-prima, o vinho. Mas paramos por aí.
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Suas histórias, regiões e produção são bastante diferentes e contribuem para a singularidade tanto do Cognac quanto do Armagnac.
Para resumir, deixamos aqui a frase do famoso barman Salvatore Calabrese que resume bem as diferenças entre as bebidas: "Imagine um pedaço de veludo e outro de seda. Acaricie-os. O veludo tem uma textura rica e profunda. Isso é um Armagnac. A seda é pura finesse, e isso, para mim, é um conhaque.”