Tenuta Löwengang, de Alois Lageder na Itália, segue os preceitos da sustentabilidade em seus prédios
José Eduardo Aguiar Publicado em 08/02/2019, às 17h00
Há mais de 150 anos a produção de vinhos faz parte da história da família Lageder. Neto do fundador, Alois Lageder, representa a quarta geração de produtores do clã, e dá nome à inovadora vinícola italiana. Em 1934, a família, que já produzia vinhos em Bolzano, adquiriu a propriedade de Löwengang, em Magré, no norte Itália.
Alois sempre foi inovador e quis implantar o conceito de sustentabilidade em suas vinhas. O respeito ao meio ambiente é a base para tudo o que se planeja em seus vinhedos. Preceitos da vitivinicultura orgânica e biodinâmica são praticada pela família desde o começo dos anos 1990.
A sede da Lageder, que comporta uma “vinoteca”, é um lugar de encontros, um lugar de mudanças. O local oferece a chance de comparar e provar vinhos de todas as partes do mundo. A arte e a música – duas das paixões do produtor – criam uma atmosfera ideal para as particularidades de cada garrafa.
Porém, não é essa troca de experiências e sensações provando vinhos que mais chama a atenção na vinícola. Se o objetivo é preservar o meio ambiente, nada melhor do que utilizar uma maneira alternativa para gerar toda a energia necessária. Pensando na sustentabilidade e na agricultura biodinâmica, Alois remodelou suas propriedades em 1996. Com o projeto do escritório de arquitetura Abram & Schnabl Architetti, de Bolzano, e auxílio do consultor alemão para prédios ecológicos Rolf Disch, do engenheiro Karl Trojer – para o sistema de aquecimento – e Roberto Bazzanella, como assistente
As obras começaram em janeiro de 1995, e ficaram prontas no verão do ano seguinte. A grande novidade ficou por conta do projeto realizado para obter energia solar para a vinícola. Na área comercial, o jardim interno é coberto com um teto de vidro, que retém e distribui os raios solares pelo ambiente. No verão, o teto é aberto para tirar vantagem do ar fresco e das correntes naturais.
O grande diferencial foi, sem dúvida, a instalação dos painéis solares (placas de silício) e de dois tanques térmicos com capacidade para 1,5 mil litros cada, suprindo a vinícola com toda a água quente necessária para realizar as atividades. São 160 placas instaladas no topo do prédio, abrangendo uma área de 136 m2. Todas ficam inclinadas exatamente a 30o em direção ao sul-sudeste, o que as possibilita gerar uma quantia de 17,7 kilowatts cada. Se necessário, essa inclinação pode ser alterada, com as placas podendo gerar até 50 kilowatts cada. Tudo que se consome neste local é uma energia ecológica e que não destrói o meio ambiente – a principal preocupação de seu dono.
As construções na histórica Tenuta Löwengang se expandem aos vinhedos e no prédio da administração. Todo o processo de amadurecimento das uvas está interligado ao inovador sistema, que mobiliza o calor através de uma transformação limpa, silenciosa, eficiente e que não gera poluentes.
As novas construções estão harmonicamente integradas com as já existentes instalações históricas em Löwengang, em que as primeiras pilastras datam do século XV e passaram por outra extensa reforma no início do século XIX. A fachada externa é caracterizada por uma larga estrutura aberta no teto, típica da arquitetura desta região, a parte sul de Alto Adige.
Na nova construção, realizada por Alois, apenas materiais naturais como madeira e pedra foram usados, salvo raras exceções. Na área administrativa, os escritórios estão localizados dentro de um jardim de inverno, com as plantas exercendo papel fundamental na parte estética. Graças ao inovador sistema de gerar energia, as áreas de trabalho ainda estão livres de qualquer radiação eletromagnética.
O teto de vidro na área externa se sobressai na paisagem e as largas janelas otimizam a luminosidade nos escritórios, reduzindo a necessidade de luz artificial. As paredes e tetos externos da área administrativa foram construídos para obter vantagem do melhor isolamento térmico. Com isso, a perda de calor no inverno é menor do que a usual, assim como a temperatura agradável é mantida em pleno verão.
Alois Lageder baseia sua produção de vinhos em dois conceitos elementares: a força da gravidade e as formas circulares. As uvas e os vinhos são movidos pelo simples uso da gravidade. Uma torre de vinificação de 15 metros de altura faz com que não seja necessário o uso de bombas de água ou de qualquer outro método ou instrumento mecânico. Todos os tanques de fermentação são colocados estrategicamente de forma equidistante do centro, com as uvas precisando viajar a menor distância possível antes de descender para esta área.
Se hoje muitos vitivinicultores já dizem seguir os preceitos da agricultura biodinâmica, Alois Lageder quis ir além, implantando um modelo de sustentabilidade em todas as áreas de sua vinícola. Será mesmo este um modelo sem volta?