As melhores safras de Champagne nos últimos 33 anos

As melhores safras de Champagne nos últimos 33 anos para você comprar e guardar em sua adega

Arnaldo Grizzo Publicado em 12/01/2017, às 12h00 - Atualizado em 10/01/2023, às 16h45

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Champagne, em sua essência, sempre foi um blend perfeitamente equilibrado – basicamente de três variedades (Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay) –, mas, mais do que isso, pensado para ter uma constância de ano a ano, não importando as interferências da safra. Para que isso ocorra, vinhos de diferentes safras são mesclados para criar o espumante que vai amadurecer nas caves antes de poder ser comercializado. A “lei” atual obriga um mínimo de 15 meses, mas a média é de dois a três anos.

Devido a essa mescla constante de safras para que toda garrafa de Champagne tenha basicamente um mesmo estilo, no rótulo não consta o ano. Aliás, esse blend de diferentes colheitas era algo bastante comum até o século XIX, não somente nessa região francesa. Acredita-se que os primeiros Vintage (ou Millésimes) surgiram no começo dos anos 1800, especialmente no ano de 1811, cuja colheita ficaria conhecida como “Safra do Cometa”, muito disso graças a uma jogada de marketing dos produtores para promover seus vinhos. Desde então, convencionou-se que, em safras “abençoadas”, era possível lançar um vinho de exceção, produzido somente com uvas de um determinado ano.

Mas como determinar quais anos são excepcionais? A verdade é que não existe um consenso, tampouco uma comissão julgadora para avaliar a qualidade de uma safra, e cada produtor diz quais anos são os seus melhores e decide se quer ou não engarrafar como Vintage. A única obrigatoriedade é que, se for safrado, o espumante precisa ficar no mínimo três anos em cave (a média atual vai de quatro a 10 anos) segundo as regras do Comitê de Champagne. Isso, porém, já aponta que o vinho precisa ter uma capacidade mínima de envelhecer bem.

Raro ou comum?

Até as décadas de 1970 e 1980, os Millésimes eram relativamente raros, com um, no máximo dois lançamentos a cada 10 anos, sendo que havia longos períodos em que a maioria das casas não vinificava um Vintage. No começo dos anos 1990 e especialmente no novo milênio, apesar de ainda manterem um certo status de raridade, os Champagne safrados começaram a ser um pouco mais frequentes.

Seria uma banalização do conceito de Vintage? Segundo os próprios chefs-de-cave, não. Dominique Demarville, da Veuve Clicquot, por exemplo, diz que a empresa, desde 2000, declarou apenas quatro Millésimes (2002, 2004, 2008 e 2012). “Minha visão é não declarar um Vintage muito frequentemente e fazer um espumante profundo e estruturado, dedicado à harmonização entre vinho e comida”, garante.

A decisão de produzir ou não um Champagne safrado é exclusiva do produtor

Já a Moët & Chandon tem lançado Vintages com mais profusão recentemente. A casa fundada em 1842 colocou 69 espumantes safrados no mercado, um a cada dois anos e meio, mas boa parte deles em um passado recente. 

No entanto, alguns anos são lançados não como um Vintage comum, mas dentro de uma coleção chamada Grand Vintage, que fica cerca de 12 anos maturando nas caves. “Um Millésime precisa ter seis qualidades: estado sanitário perfeito, maturidade suficientemente elevada, corpo, profundidade aromática, forte potencial de envelhecimento e personalidade”, atesta Benoît Gouez, chef-de-cave da Moët.

É essa personalidade, aliás, que faz com que alguns produtores decidam fazer Vintages quase todos os anos. Eric Coulon, herdeiro do Champagne Roger Coulon, por exemplo, costuma produzir espumantes safrados corriqueiramente. “Ao fazer um Millésime, quero descobrir as características de um ano, já que meus processos são pouco intervencionistas e, com isso, consigo exalar toda a riqueza aromática e conservar a tipicidade do terroir”, aponta.

No caso de Coulon, um produtor médio, é o maior controle sobre as vinhas que possibilita esse enfoque. Na Philipponnat, por exemplo, é feito um Vintage do famoso Clos des Goisses, uma pequena parcela perto de Mareuil sur Aÿ, há 35 anos quase que consecutivamente. O bom gerenciamento do local garante uma colheita sempre constante.

Diferenças regionais

É possível haver variações de qualidade na safra dependendo da região e da variedade de uva


No entanto, com 34 mil hectares de vinhedos, 15 mil produtores e três uvas diferentes, é complicado mesmo haver um consenso diante do que é uma safra Vintage, pois, mesmo em um ano excelente, um produtor pode ter tido o azar de uma chuva de granizo atingir seus vinhedos, por exemplo. 

Em alguns casos ainda, como nas microvinificações de parcelas pequenas, o clima pode não ter afetado o local como afetou os vizinhos. Ou seja, pode haver variações de região para região, ou de uva para uva.

A Perrier-Jouët, por exemplo, baseia muito de seu vinho na Chardonnay e, dessa forma, foca-se mais nos anos em que essa variedade se dá melhor, especialmente na região de Cramant. “É o equilíbrio entre a opulência de álcool e a acidez que determina se seremos capazes de produzir um Vintage com o estilo do Chardonnay”, comenta Hervé Deschamps. 

O chef-de-cave conta ainda que a casa começou  a produzir Blanc de Blancs (espumante branco de uvas brancas) em 1993, como uma edição especial, pois o Chardonnay estava excelente. “No entanto, em 1999, decidimos fazer Blanc de Blancs como parte permanente da linha Belle Epoque, criando o vinho em 1999, 2000, 2002 e 2004, quando os Chardonnay de Cramant foram soberbos”, diz.

Por outro lado, Demarville, da Veuve Clicquot, presta mais atenção aos bons anos da Pinot Noir para criar seus Millésimes. “As três principais condições para se criar um Vintage são: qualidade e maturação perfeitas dos vinhedos Premier e Grand Cru; alto nível de corpo, opulência e potência dos vinhos-base de Pinot Noir; e alto potencial de envelhecimento, já que nossos Vintage amadurecem pelo menos seis anos antes de serem lançados. O Pinot Noir predomina em nossos blends e é a base para o estilo de Veuve Clicquot, com muito corpo e profundidade”, conta.

“É o equilíbrio entre a opulência de álcool e a acidez que determina se seremos capazes de produzir um Vintage”, diz Hervé Deschamps


Champagne unanimidades?

As safras de 1990 e 2002 foram quase unanimidade entre os produtores e geraram diversos grandes Vintages.

A organização da qualidade das safras

Apesar das variações, às vezes algumas safras ressoam quase que como unanimidades. Nos últimos 25 anos, por exemplo, houve duas safras consideradas verdadeiramente espetaculares pelos chefs-de-cave. A primeira foi 1990, que diga-se, conseguiu ser superior até mesmo à safra anterior que já havia sido esplendorosa. Segundo Gouez, seus vinhos são extremamente “completos, cheios, sólidos, florescentes”. “Amo-a por seu equilíbrio e envelhecimento perfeito”, confessa Demarville.

Os anos 1990 ainda registraram outras safras grandiosas, em especial 1996, tido como um ano exemplar. “Acidez profunda e oxidação gentil”, resumiu o chef-de-cave da Veuve Clicquot, que, apesar disso, não esquece dos “delicados sabores de nozes do Vintage 1995”. Foi um ano de extremos (muito frio seguido de muito calor), mas que agradou muitos enólogos. “Para mim, 1995 é superior a 1996, pois gerou Champagnes com uma bela complexidade aromática e muita energia na boca”, afirma Gouez. Já Deschamps tem preferência por 1998 devido ao “excepcional equilíbrio entre frescor e corpo”, com muita “estrutura e profundidade”, complementa Demarville.

No entanto, outra grande unanimidade como em 1990 só ocorreu no novo milênio, em 2002. Praticamente todas as casas engarrafaram um Vintage de um ano em que tudo funcionou perfeitamente em termos climáticos. “Tem o mesmo espírito que 1990, muito completo, rico, gourmand”, atesta Gouez. “Complexidade e concentração nunca vistas”, admite Demarville.

Dois anos depois, em 2004, Champagne viu uma nova safra excelente, mas menos “unânime”. “Em oposição à 2002, esta tem leveza e profundidade. Está em seu melhor momento agora, especialmente pela estrutura da Pinot Noir”, garante o chef-de-cave da Veuve Clicquot. O da Moët também elogia: “sofisticado, bem esculpido, grande profundidade de limão”. Já o da Perrier-Jouët, apesar das turbulências do clima, diz preferir 2006 por sua elegância.

Mais recentemente, 2008 tem sido apontada como uma safra de vinhos elegantes e complexos. Para alguns, 2009, apesar das dificuldades climáticas, é um ano promissor. “Espero muito desse Vintage”, disse Gouez. Para outros, 2011 tem sido apontado como uma safra interessante, mas 2012 parece ser a grande promessa dos últimos anos. Chegou-se a compará-la a 1990 apesar do clima “capcioso”, como definiu Eric Coulon. “Neve no inverno, geada na primavera, granizo, míldio, tudo induziu a baixos rendimentos, mas se beneficiou de uma ótima maturação com o calor de agosto. Aliado ao frescor, o equilíbrio é promissor”, avisa o chef-de-cave.

Para quem quer saber em quais Champagnes investir, ADEGA trouxe um resumo das safras desde 1990 até hoje. A legenda das safras é baseada em análise de guias de críticos especializados e também nos reports do próprio Comitê de Champagne.

Se ainda conseguir encontrar alguma garrafa desta safra espetacular, não titubeie. Foi um ano interessante. Com duas geadas fortes em abril, as vinhas, consideradas mortas, recuperaram-se milagrosamente diante de um clima excelente no resto da temporada, especialmente depois de um grande calor e uma chuva generosa pouco antes da colheita. Foi um ano incrivelmente homogêneo para todas as cepas e regiões, gerando vinhos equilibrados, encorpados, de grande riqueza aromática e frescor. Excelente potencial de guarda, mas estão soberbos hoje. Vale a pena provar.

Esta boa safra sofre com a comparação que é feita com as duas anteriores, que foram excelentes. As geadas (algumas tardias) novamente atacaram Champagne, mas, neste ano, afetaram mais profundamente os vinhedos (quase 50% deles foi afetado de alguma forma e 34% foram destruídos). Apesar da boa recuperação das uvas ao final da temporada, seus vinhos são um pouco mais leves e com menos potencial de guarda.

Uma safra menos sofrida em termos de geada e granizo, especialmente devido às temperaturas mais amenas no inverno e na primavera. O verão também foi bastante fresco e isso fez com que as uvas tintas gerassem vinhos encantadores, frutados e leves. Já as brancas trouxeram vinhos aromáticos, com notas vegetais, um bom equilíbrio em boca e profundidade. Um pouco melhor do que 1991.

Depois de uma sequência de boas safras, os vinhos de 1993 vão ser majoritariamente usados para compor os blends de reserva. Era para ser uma grande safra, já que inverno e primavera foram amenos – apenas algumas geadas no Vale do Marne. Com um verão que alternou calor e chuva, as perspectivas ficaram ainda maiores, mas a chuva continuou durante a colheita e diluiu a concentração das uvas.

Um ano complicado, com inverno rigoroso e geadas matinais em abril, que afetaram especialmente a Côte des Blancs. O verão foi muito quente e com tempestades violentas. A chuva contínua favoreceu o aparecimento da podridão cinza, que afetou o desenvolvimento das uvas. Com isso, novamente foi um ano de vinhos usados principalmente para compor blends de reserva.

O frio e a umidade, que se mantiveram até meados de junho, atrasou o desenvolvimento da vinha. Mas o calor do verão a seguir não só compensou como, em alguns casos, degradou os vinhedos. A colheita teve sol e tempo fresco, o que resultou numa grande safra. Seus vinhos são finos, vivos e encantadores. Os Chardonnay geraram vinhos muito potentes em que predominam os aromas de frutas cítricas, brancas e exóticas. As uvas tintas deram uma boa base de acidez e aromas de frutas vermelhas com notas de especiarias. A safra traz Millésimes ótimos e blends muito originais.

O final da década de 1990 teve safras muito boas, com vinhos surpreendentes

 

Apesar do frio glacial no começo do ano, o vento forte impediu as geadas. Abril foi incrivelmente ensolarado. O verão alternou grande calor com chuva e setembro, mês da colheita, por sua vez, começou com céu azul. Mesmo as chuvas no período não interferiram, pois o vento da noite secou as uvas, possibilitando uma safra excepcional. O ano pode ser caracterizado como fresco e, paradoxalmente, seco. Seus vinhos são bem equilibrados, francos e oferecem uma perspectiva de longa guarda.

Uma safra bastante turbulenta, especialmente devido às diversas geadas primaveris, o que causou grandes desgastes nas vinhas. O tempo chuvoso de junho favoreceu o aparecimento de míldio, comprometendo seriamente a colheita. O tempo seco no restante da temporada ajudou a desenvolver boas uvas. Seus vinhos são maduros e despretensiosos. Os Chardonnay são finos, elegantes e florais, com notas cítricas. Os Pinot Noir são expressivos, maduros, frutados e muito longos.

Se parar para analisar as características climáticas de 1998, elas vão se mostrar pouco favoráveis para uma boa safra, já que houve uma sucessão de períodos muito contrastantes que, por incrível que pareça, não teve um efeito nefasto nas vinhas. Ainda assim, os vinhos apresentam, em geral, um ataque de frescor e pureza, seguidos de uma sensação de amplitude e final vívido. Um Vintage sedutor, refinado, harmonioso, equilibrado, clássico. Os Pinot são carnudos. Os Chardonnay são generosos.

Tempestades de granizo marcaram o verão até o começo de setembro, afetando 2.800 hectares (500 ficaram completamente destruídos), especialmente em Aube, Vale do Marne e Côte des Blancs. A colheita começou com sol, mas logo a chuva voltou para atrapalhar. A safra traz vinhos vigorosos, redondos, generosos e maduros com ataques de frescor seguidos de notas de frutas e especiarias doces. Os Pinots são frutados e francos, mas leves. Os Chardonnay muito finos, elegantes, com aromas florais e frutados.

Foi um dos anos de mais chuvas de granizo do século (juntamente com 1971). Os céus despejaram pedras de gelo do tamanho de ovos de pomba que devastaram 2.900 hectares. Por sorte, ficou ensolarado e seco a partir de agosto até o começo da colheita, que foi precoce, possibilitando uvas de sanidade perfeita. Com isso, foram produzidos bons Millésimes, com bom volume de boca e redondeza. Os Chardonnay são sedutores, frescos e bem equilibrados. Os Pinot Noir são potentes, redondos, encorpados e estruturados.

O verão trouxe chuvas violentas e muito granizo. Para piorar, setembro teve recorde de chuva, frio e falta de insolação (a menor em 45 anos na região). O clima difícil retardou a maturação e a colheita, portanto, foi tardia. Em um ano fraco, poucos Vintage foram produzidos, com os vinhos servindo primordialmente para os blends de reserva, especialmente devido à alta acidez.

Champagne sofreu muito com o frio nas primeiras safras da década de 1990

Tudo funcionou perfeitamente durante o ano. Fez frio rigoroso quanto tinha que fazer, choveu quando precisou, as geadas e o granizo foram pontuais etc. Essa sequência climática excepcional, caracterizada por uma amplitude térmica importante entre dia e noite, favoreceu a concentração dos açúcares e a qualidade sanitária das uvas. Foi uma safra de grande qualidade, com Vintages expressivos, diretos, tenros, potentes e equilibrados. Os Chardonnay, além de aromas exóticos e florais, têm mineralidade. Os Pinot Noir são particularmente potentes e complexos nos aromas de frutas vermelhas e negras, com nuances de especiarias. Certamente o melhor Millésime do novo milênio até agora.

Foram as geadas mais catastróficas dos últimos 70 anos em Champagne. A degradação dos vinhedos foi enorme, especialmente os de Pinot Noir e Chardonnay. Os Pinot Meunier se saíram um pouco melhor. Em seguida, um calor seco e canicular permitiu a concentração dos açúcares rapidamente e a colheita precisou começar extremamente cedo, ainda em agosto, algo que não ocorria desde 1822. Poucos Vintage foram produzidos. Os Chardonnay são ricos, generosos, gordos, pouco vivos. Os Pinot são mais harmoniosos e equilibrados, com marcadas características de evolução, nariz de frutas em conserva e notas amanteigadas.

Um agosto muito chuvoso e pouco ensolarado retardou a maturação. Mas o calor e o sol de setembro compensaram e as uvas chegaram à colheita em perfeito estado para os Millésimes. Os vinhos são expressivos e fiéis à tipicidade do terroir, com excelente equilíbrio e acidez. Os Chardonnay misturam complexidade aromática (flores, acácia, cítricos), equilíbrio e boa profundidade na boca com um final fresco e revigorante. Os Pinot Noir são elegantes e estruturados. Uma das grandes safras deste novo milênio.

Um ano sem geadas ou granizo devastadores, mas com um clima caótico justamente no começo de setembro causou preocupação quanto à maturação das uvas. Por sorte, a partir de 10 de setembro, um tempo fresco, seco e ensolarado perdurou até o fim da colheita. Os Chardonnay parecem ser excepcionais neste ano, com frescor, generosidade e profundidade, aromas de flor branca, cítricos e notas minerais. Os Pinot são irregulares. Vale apostar nos Blanc de Blancs, puros e de grande elegância.

Apesar de uma boa temporada de verão, um agosto com chuva acima da média tornou a safra complexa. A heterogeneidade da pluviometria na região se refletiu na heterogeneidade da maturação. Dessa forma, nunca Champagne viu uma colheita de datas tão esparsas. Porém, os Vintage produzidos são interessantes, resultado de um bom trabalho na vinha. Eles possuem boa maturação, com destaque para os Pinot muito frutados e encorpados.

Depois de um começo de ano promissor, veio a chuva, o vento, as tempestades, geralmente acompanhadas de granizo, e temperaturas relativamente baixas. Tudo isso comprometeu a sanidade dos vinhedos e a maturação das uvas. A heterogeneidade reinou, com datas de colheita extremamente diversas em um ano muito particular e difícil de gerenciar. Os poucos Vintage prometem ser firmes, diretos, francos e muito frutados. Os Chardonnay devem se dar melhor.

A Côte des Blanc foi duramente afetada pela neve e pelas geadas. Perto da colheita, porém, o tempo se tornou ideal, com vento, seco, ensolarado de dia e fresco à noite, favorecendo a maturação e eliminando risco de podridão. A qualidade das uvas foi excepcional e o equilíbrio entre açúcar e acidez do mosto, perfeito. A safra vai gerar Millésimes elegantes, complexos, vivos e estruturados, aptos a envelhecer. A maioria das casas deve lançar um vinho deste ano

Apesar de o ano ter começado com um déficit hídrico, as grandes chuvas de junho e julho favoreceram o aparecimento de míldio. A colheita, por sorte, foi normal. Um ano relativamente calmo, cuja maioria dos vinhos provavelmente vai compor os blends de reserva das casas. Os Vintage baseados em Chardonnay devem gerar vinhos gordos, ricos e estruturados. Os apoiados em Pinot Noir devem ter notas minerais, amplitude e profundidade. Os Pinot Meunier foram as grandes surpresas do ano, equilibrados e redondos, mas eles costumam ter parte menor nos Vintage que precisam envelhecer bem.

Depois de 2002, a safra 2004 foi uma das mais interessantes em Champagne. Das mais recentes, 2008 promete muito

 

Um inverno extremamente rigoroso desgastou a vinha e retardou o desenvolvimento das plantas. Em seguida, as geadas primaveris foram devastadoras. As chuvas se prolongaram até os primeiros dias da colheita e favoreceram a aparição de Botrytis, especialmente nos Pinots do norte de Champagne, comprometendo boa parte da vindima. A “salvação” foi na mesa de triagem. Poucos pretendem elaborar Vintages deste ano.

Um ano classificado como “inédito” graças a uma floração precoce, um déficit de chuva na primavera e uma forte insolação na primeira parte do ano. Uma mudança radical ocorreu em seguida, com alternância de chuva, tempo fresco e forte calor, tudo acompanhado de tempestades severas, às vezes com granizo. Com isso, 2.650 hectares foram afetados. Apesar disso, a Chardonnay foi excepcional, dando vinhos de muito frescor.

As geadas primaveris afetaram nada menos que 13.500 hectares, destruindo 2.900, incluindo partes importantes de Côte des Blancs. Em junho, tempestades de granizo. Mas, como diz o ditado, “Août fait le moût” (algo como, agosto faz o mosto), o tempo quente e ensolarado do mês perdurou até setembro, permitindo uma maturação ideal e de qualidade. Os Chardonnay prometem ser complexos, frescos, equilibrados e com final amplo. Os Pinot, francos, carnudos, aliando aromas de frutas brancas, vermelhas e de flores. Alguns produtores compararam a safra à 1990. Bons Vintage devem surgir de um ano “milagroso”.

Com o março mais frio desde 1971, a vinha evolui muito lentamente, com um atraso fenológico de cerca de 20 dias. Apesar da meteorologia complicada no início do ano, o tempo melhorou em julho, mas, ainda assim, a vinha continuou “atrasada”. A princípio, seus vinhos devem seguir para os blends de reserva.

* Texto originalmente publicado na edição 135 de ADEGA de janeiro de 2017 e republicado após atualização

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