Novo espaço ADEGA propõe contar experiências com vinhos raros e icônicos
Luiz Gastão Bolonhez Publicado em 05/12/2021, às 14h00
O Château Pichon Lalande 1951 e seus 70 anos
Nada melhor do que estrear esta seção com um vinho de 70 anos.
Neste novo espaço, ADEGA se propõe a contar experiências de sua equipe com vinhos raros e icônicos, rótulos e situações que provavelmente nunca mais serão repetidas e que ficam gravadas na memória de quem participa – e, obviamente, merecem ter suas histórias compartilhadas para que nossos leitores possam se inspirar. Aqui mostraremos como o vinho pode emocionar e criar experiências únicas.
Para muitos amigos, costumo dizer: “Vinho é sempre bom”, “Vinho com comida é melhor”, “Vinho com comida e companhia é melhor ainda”, e, por último, afirmo, provocando: “Vinho com comida, companhia e um propósito é muito melhor”. Assim, a história do rótulo aqui retratado começa com um amigo que estava para celebrar 70 anos em meados de 2021. Para isso, ele foi buscar vinhos de sua safra.
Aqui tudo ficou muito mais complicado, pois a safra 1951 foi bastante difícil em todas as regiões vitivinícolas do mundo, ou seja, a maioria dos vinhos já “passaram do ponto” há muitos anos. Mas, quem procura, encontra. E ele comprou alguns Bordeaux 1951 em leilões no exterior. Pois bem, o dia chegou.
E a garrafa do Château Pichon Comtesse de Lalande 1951 estava em excelente estado. Ao retirar a cápsula, vimos que a rolha estava em boas condições. E, sim, saiu perfeita. Um alívio. Mas como estaria o vinho?
Um grande Bordeaux que parece mais um Borgonha. Que experiência. Buquê elegante e muito sútil, mas equilibradíssimo. Boca extraordinária. Macio, profundo e complexo. Ótimos taninos. Final de boca vivo e, ao mesmo tempo, muito sútil. Ainda vivíssimo aos 70 anos. Esse é o Bordeaux mais Borgonha que provei na vida. Absolutamente delicioso. Finalmente, 1951 foi uma safra difícil em Bordeaux, mas, mais uma vez, comprova-se que um grande produtor, quando engarrafa, é “coisa” boa. Um tinto inesquecível.
São dois os Château Pichon em Bordeaux. Chamados de “falsos gêmeos”, Longueville Comtesse de Lalande e Longueville Baron já foram uma propriedade só até 1850 em Pauillac, vizinha ao Château Latour.
O Barão Joseph de Pichon Longueville morreu e as terras ficaram para sua filha Virginie – casada com o Conde de Lalande, tornando-se assim condessa (Comtesse) – e seu filho Raoul – que herdou o título de barão (Baron).
Lalande tem um arquitetura impressionante, obra do célebre arquiteto Henri Duphot, que se inspirou no Hotel de Lalande em Bordeaux. O Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande alcançou o status de Sécond Cru Classé na classificação de Bordeaux em 1855 e a família manteve a propriedade até 1925 quando Edouard e Louis Miailhe a compraram.
A partir de então eles apostaram muito na Merlot, o que faz com que Lalande tenha uma proporção bastante alta dessa variedade em relação aos seus vizinhos no Médoc. Em 1978, May Eliane de Lencquesaing, filha de Edouard, herdou o Château e ajudou a criar a reputação de ser um “super segundo”, chegando a rivalizar com os Premier Grand Cru Classés.
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