Como nasceu a tradição portuguesa dos vinhos enterrados no chão

Invasão de Napoleão e fuga da Família Real para o Brasil fazem parte da tradição portuguesa dos vinhos enterrados no chão

Arnaldo Grizzo Publicado em 11/03/2024, às 14h00

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A tradição portuguesa dos vinhos enterrados no chão surgiu há mais de 2 séculos, cerca de um ano depois da malfadada invasão do general Jean-Andoche Junot com o exército francês em Portugal.

As tropas napoleônicas estavam às portas do país novamente, em 1808, desta vez vindas pelo norte. Quem comandava os soldados agora era o general Jean-de-Dieu Soult, enviado por Napoleão para a Península Ibérica para dominar a região e manter o bloqueio continental à Inglaterra – essencial para suas pretensões econômicas.

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As tropas de Soult começaram sua marcha pela região de Chaves e deviam chegar até o Porto. Entre as principais características do exército napoleônico estavam a sua velocidade de avanço terrestre e também a sua voracidade por espólios. Sabendo disso, as vilas pelas quais o exército se deslocava faziam de tudo para evitar os saques dos soldados.

No tumulto dos conflitos, os produtores de vinho da região de Boticas enfrentaram o desafio de proteger suas preciosas garrafas de vinho da pilhagem iminente. A solução? Enterrar as garrafas no solo, escondendo-as da voracidade dos franceses. O que parecia apenas um ato de preservação, no entanto, revelou-se uma nova forma de manter e aprimorar os vinhos.

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Após o término dos combates, as garrafas foram desenterradas e vinho dentro delas não apenas havia resistido ao teste do tempo, mas seu sabor e aromas haviam evoluído de maneiras inesperadas. Ele ainda exibia uma gaseificação natural resultante da temperatura constante e da escuridão. Essas garrafas foram então chamadas de “Vinho dos Mortos”.

A tradição recebeu seu nome em homenagem às garrafas que estiveram “sepultadas”, enquanto o vinho também é conhecido como “Morto de Boticas”, devido ao seu cultivo predominante na vila de Boticas.

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Consciente da riqueza cultural e da singularidade dessa história, a Câmara Municipal de Boticas empenhou-se em criar o “Repositório Histórico do Vinho dos Mortos”, um pequeno museu, localizado junto à entrada da Freguesia da Granja, que não só retrata o processo de produção do “Vinho dos Mortos”, mas também imerge os visitantes na fascinante história por trás dessa bebida.

O edifício, reconstruído em granito, simboliza uma adega tradicional, com um lagar em pedra e objetos relacionados à produção do vinho em exibição. Painéis descritivos narram o processo e a história que deu origem à sua designação.

Este tesouro vinícola não é apenas uma atração para os amantes do vinho, mas também uma parte intrínseca da identidade de Boticas. A área de produção abrange exclusivamente as freguesias da Granja, Boticas e Sapiãos.

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