As mudanças do clima estão fazendo com que os principais vinhedos da Califórnia, reconhecidos como um dos melhores do mundo, produzam menos uva safra a safra
André De Fraia Publicado em 16/09/2022, às 04h50
Não é novidade que a mudança do clima está afetando o mundo todo, porém, um dos principais terroirs do mundo, a Califórnia, coloca agora em números o verdadeiro significado das alterações.
Por lá, a safra 2022 começou com uma geada profunda que congelou os vinhedos e literalmente podou os botões que já haviam nascido. O frio rapidamente deu lugar à seca e ao calor, temperaturas recordes assaram os vinhedos e ressecaram o solo. Além, claro, da ameaça sempre constante de incêndios florestais e danos causados pela fumaça.
O resultado é que a colheita no estado deve cair quase 4% este ano, para 3,5 milhões de toneladas, segundo estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a segunda menor safra da década, atrás apenas da safra de 2020 que foi especialmente devastada pelo fogo.
Para além da perda de vinhedos e vinhos com valor imaterial há ainda uma grande preocupação ao sobre o que as mudanças climáticas significarão para uma indústria que movimenta ano a ano US$ 45 bilhões e gera milhares de empregos. Porém, especialistas apontam que os vinhedos já estão perto do ponto de inflexão. Não é sobre o que vai acontecer no futuro – o ciclo vicioso de desastres mais intensos, mais frequentes e que matam plantações já começou.
“Um congelamento significativo costumava ser algo sobre o qual conversávamos a cada quatro anos”, disse Karissa Kruse, presidente da Sonoma County Winegrowers para o portal Bloomberg. “Agora, estamos lidando com eventos de geada, inundação e calor a cada dois meses.”
É claro que os problemas vão além da Califórnia. As pressões climáticas estão pesando sobre os vinhedos em todo o mundo. As condições em mudança estão tornando algumas áreas vinícolas históricas no Mediterrâneo e na Austrália inóspitas, enquanto novos grandes terroirs estão surgindo em outras regiões, como o Reino Unido que já se prepara para ter a nova Champagne e a nova Borgonha.
Nos clássicos terroirs afetados, a saída para os produtores é se adaptar. Se Bordeaux já aprovou novas castas, produtores da Califórnia estão tendo que fugir de castas tradicionais como Chardonnay e Pinot Noir e buscando aumentar os vinhedos com Zinfandel, Syrah e mesmo a Cabernet Sauvignon que se adaptam melhor ao novo normal.