Conheça a incrível jornada da cortiça: da floresta portuguesa à rolha que preserva seu vinho

A rolha é tão importante quanto a própria garrafa para a conservação do vinho

Redação Publicado em 23/12/2024, às 08h00

Envelhecida 43 anos. Esta é a idade mínima de uma rolha de cortiça. Pouca gente se dá conta, mas quase sempre, aquele pedacinho de material isolante que fecha as garrafas de vinho é mais antigo do que a bebida propriamente dita.

E em geral, é apenas com a safra das uvas que se preocupam os consumidores. É um engano, já que uma rolha de má qualidade pode transformar o melhor vinho em vinagre ou, no melhor dos casos, alterar o seu sabor.

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Grandes recursos naturais são a base para a produção daquela que é considerada a melhor cortiça do mundo. Trinta e quatro por cento do território de Portugal é coberto por bosques, onde a segunda árvore mais comum, depois apenas dos pinheiros, é o sobreiro, da qual se extraí a cortiça e que cobre uma área total de 6.800 km².

Na Península Ibérica, as florestas de sobreiros recebem o nome de "montados". Justamente por isso, sai de Portugal 50% de toda a cortiça do mundo. Para se ter uma idéia da grandeza deste volume e de sua importância econômica, a cortiça ocupa a sexta posição na lista de materiais não lenhosos que saem de todas as florestas do planeta.

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Apenas quando o sobreiro atinge 25 anos pode ser feita a primeira extração da sua casca

Os verões quentes e secos portugueses favorecem o cultivo dos sobreiros. Porém não basta apenas um clima favorável, essas árvores exigem uma paciência tibetana.

Apenas quando o sobreiro atinge 25 anos pode ser feita a primeira extração da sua casca (súber), é a chamada cortiça-virgem, que já tem um grande poder de isolante, mas ainda não serve para a fabricação de rolhas.

Para a extração seguinte, é necessário que se aguardem outros nove anos, e ainda não é dessa cortiça "secundeira" que serão feitas rolhas.

Outros nove anos de espera e aí sim, finalmente, é extraída a casca que recebe o nome de "amadia" e é utilizada para as rolhas. Para as extrações seguintes deverá sempre ser respeitado esse intervalo mínimo de nove anos, intervalo que em Portugal é estipulado por Lei. Por sorte, os sobreiros vivem entre 150 e 200 anos, o que fornece uma média de 16 colheitas e torna a cultura da cortiça sustentável.

As principais características da cortiça que a tornam tão adequada para fechar as garrafas de vinho são sua flexibilidade, poder de retomar o formato original após ser comprimida para passar pelo gargalo e a capacidade isolante e impermeabilizante. Alia-se a isto, o fato de a rolha natural ser reciclável e biodegradável. Portugal produz 10 milhões dessas rolhas por ano. A produção mundial de cortiça é de 340 mil toneladas, 80% proveniente do sul da Península Ibérica.

As características únicas desse material vedante vão muito além das rolhas, isolantes térmicos ou quadro de avisos. A cortiça está presente nos ônibus espaciais, na indústria aeronáutica e de automóveis. Mas nas regiões de Portugal, onde os sobreiros são abundantes, a cortiça ganha usos mais cotidianos, tais como saleiros, baús, caixas de fósforo, vasos, entre outros. Com a cortiça, é possível fazer até papel e lã.

Mas para a imaginação não há limites. Foi com uma rolha de champanhe, algumas penas e duas raquetes que se criou o esporte badminton. Um nobre inglês usou o material para adaptar um velho jogo infantil indiano em sua casa de campo que se chamava "Badminton".

Uma última curiosidade, apesar de não se encontrar referências a isso nas cartas de Pero Vaz de Caminha, acredita-se que a bússola utilizada por Pedro Alvarez Cabral para chegar ao Brasil era de cortiça, que boiava sobre uma bacia com água com uma agulha imantada apontando o caminho.

Por isso, ao se abrir uma garrafa, vale lembrar que, por trás daquela rolha, existe muito mais do que um bom vinho.

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