Acredita-se que a casta na verdade não seja nem italiana e muito menos americana, mas sim croata. Conheça a uva que produz o famoso Primitivo di Manduria
André De Fraia Publicado em 03/06/2022, às 12h10
A história conta que o então professor da Universidade da Califórnia, UC Davis, Austin Goheen – obviamente familiarizado com a Zinfandel – durante uma viagem à Puglia em 1967 provou tintos de uma variedade conhecida na região como Primitivo.
Esse foi o pontapé inicial de estudos que, através de análises ampelográficas e de DNA, acabaram constatando e declarando que, realmente, Primitivo e Zinfandel são clones distintos de uma mesma variedade, a croata Crljenak Kastelanski.
A Zinfandel é reconhecida mundialmente como “a” uva da Califórnia, onde é largamente cultivada, seja para a elaboração de varietais ou blends. A variedade teria chegado aos Estados Unidos ainda sem nome, em 1829, pelas mãos de George Gibbs. Na região de Boston, passou a ser chamada de “zenfendel” ou “zinfindal”.
Já em 1949, com a Corrida do Ouro, a uva chegou à Califórnia, passando a ser cultivada em Napa e em Sonoma. A etimologia do nome Zinfandel ainda é um mistério até os dias de hoje. A teoria mais aceita é que a casta foi confundida com a uva austríaca “Zierfandler” e daí o nome.
Já a Primitivo é cultivada principalmente na região da Puglia, no sul da Itália, normalmente relacionada ao famoso “Primitivo di Manduria”. Acredita-se que a Crljenak Kastelanski tenha sido trazida da Croácia para a Puglia pelo mar Adriático no século 13. Já na Itália, a cepa foi batizada de Primitivo, do latim primativus, que significa “a primeira a amadurecer”. De fato, as videiras dessa variedade florescem mais cedo, com os frutos amadurecendo antes de outras cepas.
Os tintos de Zinfandel, em geral, são ricos e encorpados. Isso porque essa uva tende a amadurecer de forma irregular, desigual, e, dessa forma, quando a maturação chega para todo o cacho, alguns bagos fatalmente já começaram a desidratar, tomando a aparência de passas.
Essa concentração determina sabores intensos de frutas vermelhas e negras, além de elevado teor alcoólico.
Da mesma forma, os vinhos produzidos com Primitivo, geralmente, têm como traço característico a estrutura, o alto teor alcoólico e os toques de ameixas e de especiarias. Ambos apresentando taninos macios, acidez moderada e, geralmente, tendendo para um sabor mais frutado, que gera uma sensação de doçura mais pronunciada.
Talvez isso explique o porquê do sucesso da cepa por aqui.
Para tirar a dúvida, segue abaixo dicas de um Primitivo e um Zinfandel para degustar as “duas variedades”:
Esse 100% Zinfandel, com estágio de parte do vinho durante 10 meses em barricas de carvalho, mostra nariz de frutas vermelhas e negras maduras e em compota, notas florais, de especiarias doces e de chocolate. Estruturado e untuoso, tem taninos macios, acidez na medida e final persistente e cheio.
Elaborado exclusivamente a partir de Primitivo, com estágio de 6 meses em barricas de carvalho e mais 10 meses em tanques de aço inox antes de ser engarrafado é um vinho macio e fácil de agradar. Mostra notas de especiarias doces, de cacau e de tabaco envolvendo toda sua fruta negra, lembrando ameixas e amoras. Cheio e carnudo, tem taninos de boa textura, acidez na medida e final suculento.