Organizar degustações pode ser primeiro passo; veja como tudo começou e inspire-se...
Por Maria Bolognese Publicado em 03/02/2017, às 12h07 - Atualizado em 07/02/2017, às 20h55
Da idade média aos dias atuais, as confrarias se transformaram, porém, sem perder a essência. Inicialmente, no período medieval, relgiosos reuniam-se em devoção a práticas místicas comuns e proteção social. Tempos depois, construtores das grandes catedrais francesas, ao compartilhar técnicas secretas de engenharia e proporem-se a preservar e dar assistência às famílias de seus pares, fundaram a Maçonaria. Hoje, as confraria agregam pessoas interessadas no aprofundamento de conhecimento ou no exercício de experiências de um tema comum, congênere. Em síntese, as confrarias são organizações que defendem a identidade de um grupo, produzindo, preservando e difundindo saberes.
As confrarias de apreciadores de vinho começaram a ganhar força da França, no início do século XX e não demorou para espalharem-se. No Brasil, o boom se deu já nos anos 1980. Apropriando-se do que há de melhor na estrutura das confrarias – agregar pessoas – em suas primeiras manifestações, do Velho ao Novo Mundo, o universo dos vinhos fez deste formato um fenômeno de proteção da qualidade e tradição, contra a banalização e a futilidade que por vezes afligiu o mercado.
Prestígio e tradição
Repletas de formalidades, as mais notórias confrarias reuniram, e reúnem, alguns dos maiores conhecedores e estudiosos do vinho. Em geral, requerem o uso de trajes apropriados, concedem títulos de honra e organizam encontros e eventos com toda a ritualística típica de um célebre grupo.
Entre as mais lendárias, destaca-se a Confrérie de Chevaliers du Tastevin, da Borgonha, com reuniões no Château de Clos de Vogeout, um impressionante castelo francês. Outro grupo que merece destaque é a Confraria dos Enófilos da Bairrada e seu suntuoso banquete anual no Palace Hotel do Bussaco, patrimônio arquitetônico do século XIX.
Rituais com pompas e formalidades podem ser envolventes, um lindo espetáculo para observar, e participar; no entanto; não precisam ser uma regra. O que é indispensável para a estruturação de uma confraria é um dedicado amor pelo vinho, amigos sinceros, boas taças e, claro, desejo e coragem constante para experimentar e para degustar.
Se a razão de ser de uma confraria de vinhos é o vinho, a expressão dessa motivação são os encontros. E o núcleo dos encontros, a degustação. Por meio desta dinâmica o grupo ganha fluidez, aprimora habilidades e qualifica seu repertório. E é sobre essa dinâmica que trataremos agora.
Nasce uma confraria
Uma boa degustação pode ser leve e descompromissada, porém, precisa ser feita com esmero, sem pressa, com empenho e prazer. Com essa certeza, o primeiro passo é reunir um grupo de entusiastas que estejam em um estágio similar de conhecimento; só assim poderão iniciar uma jornada harmoniosa de descobertas, com resultados que permitirão agradáveis trocas de ideias e percepções, entre si, na internet, e mesmo com outras confrarias.
No início, entre seis e oito pessoas constituem um bom número, contudo, vale lembrar que o tamanho da confraria deve ser definido pelo próprio grupo. Estipulados os integrantes, o movimento seguinte é determinar a configuração da confraria, que pode ser de gênero; apenas homens ou apenas mulheres; e também temáticas, focadas em uma única região de origem ou em uma mesma variedade de uva.
Por fim, não poderão faltar as cerimônias de ingresso. Embora não seja preciso um ritual complexo, é importante que um novo confrade assuma um compromisso responsável e dedicado com os objetivos e com os membros do grupo.
Os encontros
A periodicidade precisa ser confortável e factível para todos. O mais usual é que os confrades encontrem-se mensalmente em um restaurante, wine bar ou, mesmo, de forma rotativa na casa de cada um dos integrantes.
Para as datas estipuladas, um tema precisará ser definido. Degustar vários vinhos de uma mesma uva e de determinada safra, por exemplo; ou vinhos de até determinado valor que possam ser harmonizados com uma carne vermelha grelhada. As possibilidades são infinitas.
Tema em mãos, cada integrante deve ficar responsável pela busca de um rótulo para ser degustado pelo grupo; que não deve esquecer que água e pães em abundância são fundamentais para isolar o paladar no intervalo entre um vinho e outro.
A arte de degustar
Terminadas as degustações da noite, os confrades devem compartilhar suas percepções e até atribuir notas para os rótulos (de 0-5 ou 0-10). Os critérios podem ser mais soltos e afetivos, pautados pelos sentidos e experiência pessoal, ou orientados por uma ficha de degustação.
O maior investimento do grupo, e talvez o único realmente indispensável, são para os instrumentos da degustação: as taças. Com o amadurecimento da confraria, adegas, trajes e até sedes, podem ser adquiridas, mas, para começar, apenas taças serão imprescindíveis, já que possibilitam a padronização do processo de degustação.
Dica: Invista nas taças de modelo universal. São menores e servem para tintos e brancos. São fáceis de encontrar e não são caras. A quantidade deve ser grande, uma vez que cada confrade utilizará várias delas em uma única rodada de degustação.
Para finalizar, nada melhor que um delicioso almoço ou jantar. Neste momento, novas descobertas poderão acontecer. Já por mais tempo em contato com o ar, o vinho evoluirá, revelará outras nuances, aromas, e combinado com os pratos escolhidos, outros sabores e manifestações sensoriais poderão apresentar-se. Encontrem-se, reencontrem-se, comprometam-se e divirtam-se com, e pelo, vinho!