Jorge Carrara foi muito importante no desenvolvimento da nossa enocultura. Perdemos mais um dos grandes da história do vinho no Brasil
Christian Burgos Publicado em 28/05/2021, às 15h30
Por Christian Burgos
Excelente degustador, com grande gentileza me acolheu nas mesas de degustação quando ingressei profissionalmente neste mundo.
Por eficiência e respeito, prezamos sempre pela pontualidade nos eventos. Chegar na hora ainda me dava a oportunidade de sentar ao seu lado e conversar com ele sobre vinho e outros assuntos.
Inteligente, perspicaz, com humor afiadíssimo e sem arroubos de vaidade, Jorge dedicava-se à missão de degustar justamente o que os grandes críticos costumam abandonar, os vinhos para o consumidor comum.
Durante as degustações ele não gostava de alardear sua opinião, que reservava para seus leitores, mas generosamente trocava opiniões comigo ao degustar.
Certa vez no Terraço Itália, em São Paulo, degustávamos um vinho cuja ficha técnica descrevia o uso de barrica nova de carvalho francês. Não sentimos isso no vinho e Jorge perguntou se a ficha estava errada.
O produtor disse que estava correta.
Levantamos da mesa e fomos embora.
O produtor também abandonou a degustação e nos alcançou no hall do elevador perguntando o que estava errado.
Respondemos que não acreditávamos na declaração sobre a madeira.
O produtor confessou que na verdade usava chip naquele vinho e pediu para voltarmos à degustação.
Decidimos que não fazia sentido acompanhar a apresentação sem confiar no que seria dito. Fomos embora.
Mandamento não escrito do mestre Carrara: Respeitar e exigir respeito.
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