A Califórnia nem sempre foi a região vinícola da América. Ao longo dos anos 1800, os estados do Centro-Oeste lideraram a indústria da produção de vinho.
Glaucia Balbachan Publicado em 05/10/2021, às 14h00
Vinhedos da Vinícola Grace Hill
O Centro-Oeste dos Estados Unidos pode até ser conhecido como a “cesta de pão da América”, e ser conhecido também pela agricultura de milho e soja, porém, esses produtos estão longe de ser as únicas culturas de cultivo regional.
Antes da Lei seca, o Kansas era uma das principais áreas de cultivo de uvas do país. Mas por conta das restrições severas ao álcool naquele período, trouxeram dificuldades na recuperação da indústria vitivinícola do Kansas.
No entanto, uma serie de novas vinícolas no leste da região, estão focando na educação do vinho para atrair apreciadores de todo o estado.
"Éramos maiores que a Califórnia", conta Jeff Sollo – sócio-gerente da vinícola Grace Hill em Whitewater e vice-presidente da Associação de Produtores do Kansas (KGGWA).
Com os imigrantes europeus se mudando para o oeste de Nova York em busca de terras, que lhes dariam capacidades de cultivar e ganhar a vida, muitos desembarcaram no Missouri e Kansas. Quando começaram a estabelecer vinhedos ao longo do rio Missouri, o plantio começou a se espalhar pelo leste do Kansas, onde solos ricos em calcário e areia cultivavam tudo, desde videiras nativas até francesas.
A fachada da KC Wine CO
“Havia muitas pessoas que vieram da Europa e que se estabeleceram no Centro-Oeste, e todas sabiam como cultivar uvas. E foi assim que a história começou por aqui”, conta Scott Kohl, diretor do programa de viticultura e enologia do Highland Community College, Highland, Kansas.
No século 19, cerca de 80% do vinho americano foi feito no Kansas e Missouri. Com a Lei Seca, produtores continuaram a fazer vinho ilicitamente ou vendiam sua colheita por meio das linhas estaduais. A proibição no Kansas só terminou em 1948 e foi só em 1983, que quase em meio século após a revogação da lei Volstead, que o Estado aprovou a Lei da Vinícola Fazenda do Kansas, tornando a produção e venda de vinho legal mais uma vez. Morto pela Lei Seca, basicamente por 100 anos, a indústria começa finalmente a se reerguer.
A vinícola mais antiga do Kansas ainda em operação hoje é Holy-Field em Basehor, propriedade de Les Meyer e sua filha Michelle. A vinícola abriu suas portas em 1994 e cultiva 10 diferentes variedades hibridas nativas americanas e francesas em 14 acres, incluindo Cynthiana, Seyval e Chambourcin.
A marca Grace Hill trabalha com as uvas Norton, Vital, Seyval, Chardonel, Frontenac Gris, Noiret, Petit Pearl e Marquette. Embora um pouco incompreensíveis, muitas dessas uvas atendem bem ao paladar local, que favorece vinhos doces para o paladar doce do Kansas.
“Os apreciadores de vinho do Kansas não são os mesmos que os de Napa”, conta Taylor Berggren-Roesch, coordenadora de eventos da KC Wine Co em Olathe. “O nosso objetivo é tornar a experiencia de degustação de vinhos acessíveis, fáceis e divertidas”.
Um dos maiores desafios enfrentados pelo Kansas é universal: a mudança no clima. Em 2018, 2019 e 2020 tiveram rendimentos baixos e a qualidade foi menor por conta das chuvas próximo das colheitas. Produção de uvas no Kansas é lidar com o sol e pesticidas também.
Contaminação de vinhedos por pesticidas sintéticos, fungicidas ou outros tratamentos aplicados em fazendas podem ter efeitos negativos sobre as frutas. A ideia é ensinar diferentes práticas e mudanças de atitudes, que parecem ser uma ação lenta.
Os esforços agora são para proteger e estabelecer a região do Kansas no Conselho de Consulta da Uva e do Vinho e outras organizações trazendo força para reconstruir uma indústria que continua em expansão, aproximando-a da AVA – Area Viticultural Americana.
Centro de pesquisa dos vinhedos da Highland
“É realmente uma espécie de ponto de partida para tentar obter a primeira AVA do Kansas, porque já foi falado nisso no passado e algumas pessoas estiveram abertas a isso, mas nunca reunimos o apoio para realmente ir em frente. Espero que nos próximos dois anos termos uma”, diz Sollo.
Kohl acredita que uma AVA ajudaria, no mínimo, as vinícolas a se comercializarem dentro do estado. Vê também uma oportunidade de colocar as uvas do Kansas em um mapa mais amplo. “Não há razão para falar sobre uma indústria vinícola do Kansas se você tem apenas vinícolas transportando uvas da California. Para mim, a AVA anda de mãos dadas com o conselho e isso pode ajudar a promover nossas trilhas regionais de vinho mais fortes e poder desenvolver o enoturismo”.
O Kansas vem ganhando força com esses esforços. A vontade de se firmar no mercado americano é grande. Para Berggren-Roesch os esforços de 10 anos para melhorar a região vão trazer resultados. “O vinho do Kansas é bom! Se 30 ou 40 de nós começarmos a dizer o mesmo, podemos realmente começar a obter retornos fora do Kansas”.
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