Assim como o primeiro rótulo, o vinho da Taylor's foi transportado do Porto até Londres
Guilherme Veloso Publicado em 31/01/2019, às 15h00 - Atualizado às 18h23
Em 2017, um veleiro reformado e patrocinado pela Taylor’s, um dos mais tradicionais produtores de Vinho do Porto, deixou o cais em Vila Nova de Gaia com destino a Londres, tradicionalmente o maior mercado para esse tipo de vinho. Como carga, levava apenas uma pipa (aproximadamente 600 litros) de vinho, que seria servido num jantar comemorativo do aniversário de 325 anos da empresa, de origem inglesa, como quase todas as casas produtoras de Porto. A viagem e a carga transportada replicaram, simbolicamente, o primeiro carregamento da Taylor’s para a Inglaterra, presumivelmente no ano de sua fundação, 1692.
O vinho contido na pipa foi um Porto do estilo Tawny, que requer amadurecimento em cascos de carvalho por períodos que podem chegar a até 40 anos antes do engarrafamento, dependendo da proposta do produtor. Para comemorar seus 325 anos, a Taylor’s criou em edição limitada um vinho produzido a partir de uma seleção dos melhores lotes destinados a compor seus Tawny de 10, 20, 30 e 40 anos, uma das especialidades da empresa. Ou seja, um blend especial de lotes, do qual foram produzidas 100 mil garrafas (duas mil destinadas ao mercado brasileiro). O objetivo, como Fernando Seixas, gerente de exportações da empresa, explicou a ADEGA, foi “criar um vinho extraordinário, mas fácil de beber e que pudesse chegar a muitos consumidores”.
Os 325 anos da Taylor’s foram celebrados com vinho especial em viagem de barco para a Inglaterra
Mas, num mundo cheio de simbolismos, como o do Porto, não bastaria criar um vinho exclusivo se a garrafa não fosse, também, especial. A do Tawny 325 da Taylor’s reproduz uma das primeiras utilizadas comercialmente pela empresa, provavelmente, contemporânea da sua fundação. Nela, pode ser encontrada a marca 4XX, utilizada até hoje pela Taylor’s.
Fundada pelo comerciante de lãs inglês Job Bearsley (suas ovelhas eram marcadas com o 4XX), a Taylor’s só ganhou sua identidade atual com a entrada na sociedade de Joseph Taylor, John Fladgate e Morgan Yeatman, no início do século XIX. Desde então, mantém-se como empresa familiar dedicada exclusivamente à produção de Vinho do Porto, hoje quase uma raridade no setor, já que a maioria das firmas optou por também produzir vinhos Douro DOC, ou seja, não-fortificados. Hoje, ela integra o The Fladgate Partnership, que abriga ainda a Fonseca, cujo controle foi adquirido em 1949, e a Croft, incorporada em 2001, ambas marcas igualmente tradicionais e respeitadas de Vinho do Porto.
Ao longo desses mais de 300 anos de vida, a Taylor’s foi responsável por pelo menos duas importantes inovações no aparentemente conservador universo do Vinho do Porto: o lançamento do “Chip Dry”, primeiro Porto branco seco; e a introdução do estilo LBV (Late Bottled Vintage), hoje um dos mais populares do mercado.
Para culminar um ano de comemorações e de merecidos reconhecimentos, a Taylor’s recebeu o “Royal Warrant of Appointment”, uma espécie de selo de aprovação como fornecedor de Vinho do Porto para a rainha Elizabeth II. A simpática soberana inglesa, ao que se sabe, não dispensa uma dose quase diária de gin e, pelo visto, também aprecia um cálice de bom Porto, como a maioria de seus súditos. Quem sabe esteja aí o segredo para chegar aos 91 anos, completados em abril, em tão boa forma?
Royal Warrant of Appointment é o alvará real concedido a fornecedores exclusivos da família real inglesa. Esse título é concedido diretamente pela rainha Elizabeth II, ou pelo duque de Edimburgo (Phillip, seu marido) ou o príncipe de Gales (Charles, herdeiro do trono). Atualmente, há cerca de 800 fornecedores “chancelados”, sendo 11 marcas de vinho, com nove casas de Champagne – Bollinger, GH Mumm, Krug, Lanson, Laurent Perrier, Roederer, Moët Chandon, Veuve Clicquot e Pol Roger – e duas de Vinho do Porto – Symington Family Estates (Graham’s) e Taylor’s.
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