Os jovens confundem preço e pedem dois Pêra-Manca no almoço

Jovens descobrem que o Pêra-Manca não é um vinho barato, mas sim uma preciosidade portuguesa

Redação Publicado em 10/07/2024, às 11h00

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Recentemente um grupo de jovens viralizou na internet ao escolher duas garrafas de Pêra-Manca acreditando custar R$ 165,00 cada. O vinho é um dos ícones portugueses e sua história remonta até mesmo as origens do Brasil.

Somente elaborado em safras excepcionais, o atual Pêra-Manca é basicamente um vinho originado nos vinhedos, fruto de um estudo que se iniciou na década de 1970, em conjunto com a universidade de Évora e avaliadas, dentre as castas típicas do Alentejo, as de melhor potencial qualitativo. Assim, para o branco, as variedades são a Antão Vaz e a Arinto e, para o tinto, a Trincadeira e a Aragonez.

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Todavia, o Pêra-Manca já era um vinho excepcional no século 15. Em uma de suas cartas, Pero Vaz de Caminha, que chegou com Pedro Álvares Cabral ao Brasil em 22 de abril de 1500, fez a seguinte narrativa: “Alguns deles [índios] traziam arcos e setas; e deram tudo em troca de carapuças e por qualquer coisa que lhes davam. Comiam conosco do que lhes dávamos, e alguns deles bebiam vinho”.

Pelos documentos da época, acredita-se que o vinho levado nas caravelas, no período das grandes navegações e do descobrimento do Brasil, era normalmente um tinto feito próximo à cidade de Évora, chamado “Pêra-Manca”.

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“Pêra vem de pedra e o manca é uma referência as cercanias de Évora, que é uma zona de base granítica, com afloramentos rochosos de granito de grande dimensão, que muitas vezes tem uma base de ligação ao solo diminuta para o tamanho da pedra e por ilusão de ótica parecem estar oscilantes”, explica Pedro Baptista, enólogo do Pêra-Manca.

Este vinho, citado em crônicas quinhentistas, teria sido o que Cabral ofereceu aos indígenas ao chegar em solo brasileiro. Segundo os mesmos indícios, o vinho amplamente citado na obra prima de Luís de Camões, Os Lusíadas, também poderia ser o “Pera-Manca”. Seu nome se deve ao terreno onde era feito, um terreno com muitas pedras soltas. Diziam que estas pedras balançavam, “mancavam”. 

Um vinho com esse nome existiu até o início do século XX. Produzido pela Casa Agrícola José Soares. O Pêra-Manca chegou a colecionar importantes prêmios internacionais, como medalhas de ouro em Bordeaux em 1897 e 1898.

Em 1920, após a morte de seu proprietário, a vinícola fechou as portas e o vinho desapareceu. Em 1988, o herdeiro da Casa Agrícola José Soares, José António de Oliveira Soares, doou a marca Pêra-Manca à Fundação Eugênio Almeida.

A partir daí, o vinho ícone, até então chamado de “Cartuxa Garrafeira”, ganhou o novo nome. A primeira safra do novo Pêra-Manca foi em 1990, encerrando um hiato de 70 anos na história desse vinho.

“A marca foi oferecida à Fundação Eugênio de Almeida, na década de 1980, por uma casa agrícola da região de Évora, que já não mais produzia vinhos e via na fundação o potencial de manter o prestígio e a história da marca, que já naquela época tinha várias décadas de existência”, comentou Baptista.

A Fundação Eugênio de Almeida (FEA), fundada em 1963 por Vasco Maria Eugênio de Almeida, é a responsável por gerir a vinícola Cartuxa, que elabora alguns dos melhores vinhos do Alentejo, dentre eles, o Pêra-Manca, em suas versões branca e tinta.

Pêra-Manca