Região de Las Violetas produz os Tannats mais emblemáticos do Uruguai

Patricio Tapia Publicado em 16/06/2020, às 13h54 - Atualizado às 15h15

 Vinhedos em solo de argila e cal dão base aos tintos no distrito de Las Violetas, localidade presente no roteiro desde as nossas primeiras viagens atrás dos vinhos uruguaios

Em minhas primeiras viagens ao Uruguai, a ideia de obter vinhos na baía de Maldonado era algo que apenas se discutia. Falo do final dos anos 1990, quando os vinhos uruguaios eram excentricidades no mundo enológico. Nessa época, no Uruguai, a ação estava centrada em Canelones, perto da capital, Montevidéu.

Muita coisa mudou deste então, sobretudo nos último cinco anos quando se viveu um verdadeiro boom em Maldonado, novos vinhedos que começaram a ser plantados em meados do ano 2000, e que hoje produzem alguns dos melhores tintos e brancos do Uruguai, tudo isso sustentado pelas praias ao redor, os restaurantes, os mariscos e peixes, a paisagem encantadora de colinas ondulantes e, com certeza, um forte investimentos de vinícolas como Garzón, que, sem dúvida, colocaram a região entre as vedetes do vinho sul-americano.

 

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Tudo isso me lembra o que ocorreu em Mendoza há duas décadas. Ali tampouco se escutava falar dos vinhedos de Altamira ou o calcário de Gualtallary. Falava-se – quando se começou a falar de Malbec no mundo – de regiões tradicionais como Perdriel, Maipú ou Agrelo. No Uruguai, falava-se – nessas primeiras visitas já faz tantos anos – de Canelones e, especialmente, do pequeno distrito de Las Violetas.

 

A face austera e severa que caracteriza através dos tempos os uruguaios está bem traduzida nos vinhos da região que lhes confere uma personalidade própria entre os estilos 'da moda' no cenário da América do Sul

A estrutura

Os tintos de Las Violetas, especialmente os Tannats, têm essa qualidade que se obtém de vinhedos de argilas e cal. A argila aportando volume e o cal aportando os ossos, a estrutura firme de alguns dos tintos mais austeros e também mais potentes que se podem encontrar nesse lado do mundo.

Os primeiros e melhores Tannats, que eu ao menos provei, vinham dessa região e me impressionaram precisamente pela singularidade em relação a tudo o que, na época – e ainda hoje –, se pode provar na América do Sul. Diante da amabilidade e da fruta exuberante do Malbec ou comparado com as notas herbáceas e a elegância de taninos do Cabernet Sauvignon do Alto Maipo, os Tannat de Las Violetas supunham uma visão diferente, muito mais austera, muito mais severa se preferirem.

Esses Tannat são os que se conheciam do Uruguai, vinhos difíceis, duros em taninos, moldados por um clima atlântico que é instável, que nem sempre aporta com o sol para amadurecer as sementes. Hoje isso mudou, e os Tannat da nova escola, os colhidos antes, com menos maceração, mas sobretudo os Tannat de solos graníticos de Maldonado, são algo distinto, oferecem uma suavidade que não conhecíamos. Eu sou fã do Tannat de Las Violetas porque, de certa forma, lembram-me alguns vinhos que admiro, como a Baga da Bairrada ou a Sagrantino de Montefalco, na Úmbria.

Vinhos como catedrais românicas, escravas de seus genes poderosos que muito pouco têm a ver com o estilo de moda que impera, mas que estão aí para nos recordar que o Tannat tem muitas caras e que, uma delas, a mais clássica, a que não se pode perder, é essa rude e severa que Las Violetas nos oferece.

 

A nova escola do Tannat hoje oferece uvas colhidas mais cedo, com menos maceração e suavidade que não conhecíamos nos vinhos, sobretudo os de solos graníticos de Maldonado

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