A tendência dos espumantes Nature

Por que os espumantes Nature estão se destacando? Uma lista de alguns dos melhores espumantes Nature produzidos no Brasil

Eduardo Milan Publicado em 10/10/2018, às 11h00

"Os espumantes nature não são tendência, mas uma realidade. O nature é elaborado com as melhores uvas das vinícolas e, por consequência, com as melhores bases"

A degustação anual de mais de cinco centenas de vinhos desde 2011 para a elaboração do “Guia ADEGA - Vinhos do Brasil” nos deu a oportunidade de perceber as direções e o desenvolvimento de nossa indústria vitivinícola. No caso específico dos espumantes, percebemos um aumento considerável de amostras na categoria nature (de acordo com a legislação brasileira, são classificados como nature os espumantes com até 3 g/l de açúcar total). 

O que nos chamou atenção não foi apenas o número muito superior de nature em comparação aos anos anteriores (mais que o dobro), mas, sim, a alta qualidade dos produtos avaliados nessa categoria. De fato, provamos exatamente 220 espumantes no geral, sendo que, dos 22 rótulos que receberam 91 pontos ou mais, 11 são nature, ou seja, exatamente metade das amostras.

Tais números demonstram mais que uma tendência de mercado; mostram um amadurecimento tanto de nossa indústria, quanto, pelo menos, de parte dos consumidores de vinhos no Brasil. Via de regra, por ter menos açúcar residual, os espumantes nature costumam agradar aos paladares de consumidores mais experientes, que podem ser considerados mais exigentes. Por outro lado, também comprova um maior cuidado do produtor ao colocar no mercado vinhos de uma categoria superior – geralmente os nature estão entre os espumantes posicionados nas linhas de mais alta gama das vinícolas – que realmente possam ser classificados como tal e, para isso, todos sabemos que precisamos de uvas cada vez melhores. E, pelo que degustamos ultimamente, tudo indica que estamos conseguindo.

“Os espumantes nature não são tendência, mas uma realidade. O nature é elaborado com as melhores uvas das vinícolas e, por consequência, com as melhores bases. São produtos muito equilibrados e com aroma complexo. Acho que as vinícolas brasileiras se deram conta de que era necessário separar esses melhores lotes de base de espumante e oferecer ao mercado um produto diferenciado. A quantidade ainda é pequena, mas os consumidores começaram a apreciar esse tipo de produto”, afirma o enólogo Jefferson Sancineto Nunes, da vinícola Pericó.

“Quando se lança um produto nature, é porque ele está equilibrado e redondo, sem ter que adicionar o licor de expedição”, garante Edegar Scortegagna, atual presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE) e enólogo da vinícola Luiz Argenta.

Alejandro Cardozo, da Estrelas do Brasil, também vê um crescimento dos nature. “Temos visto esse incremento há quatro ou cinco anos. Nas empresas onde colaboro, iniciamos, desde então, um trabalho forte com os natures e extra brut (de 3,1 a 8 g/l de açúcar). Em algumas empresas, a soma de vendas do extra brut e do nature dá o mesmo volume de vendas dos brut”.

“Há uma movimentação dos consumidores de migrarem do brut ao extra brut ou nature, consumidores que procuram não só menos açúcar, mas espumantes com menos intervenção no licor”, pondera Cardozo. Ele afirma ainda que suas equipes de trabalho têm definido dois estilos de nature. “O primeiro é com os espumantes mais complexos, com 36 ou 48 meses de autólise, pois há um público que quer. Mas também há outro, mais fresco e jovem, com muita fruta, leve, com, no máximo, nove meses de garrafa. São muito fáceis de beber,  assim, para quem sai do brut ao nature, não será um choque”.

Já o enólogo Carlos Abarzúa fala com a propriedade de quem ajudou a produzir os primeiros espumantes nature do mercado brasileiro. “Criamos os primeiros rótulos de nature quando eles sequer existiam na legislação. Na época, a garrafa vinha escrito ‘ sem licor ’”, lembra, contando que 30% da produção da principal linha da vinícola Geisse é de nature.

 

Sem arrependimentos

Há uma movimentação dos consumidores de migrarem do brut ao extra brut ou nature, consumidores que procuram não só menos açúcar, mas espumantes com menos intervenção no licor

Nunes acredita que o consumidor que sai do brut e opta pelo nature não se arrepende. “O vinho base do nature tem uma acidez perfeita e bem equilibrada. Normalmente, se forem de método tradicional, permanecem 24 meses, no mínimo, em autólise. No caso do nature Charmat, são produtos que ficam, pelo menos, oito meses dentro da autoclave e, esse maior tempo em contato com a levedura, dá ao produto um equilíbrio de boca muito interessante. Os consumidores brasileiros que tiveram a oportunidade de experimentar um nature normalmente ficam surpresos positivamente. Eles imaginam que um nature, por não ter adição de açúcar após a segunda fermentação, não agradará, pois tem menos açúcar que o brut. Mas quando colocam o espumante nature na boca, dão-se conta de que o produto é mais equilibrado, que os aromas são mais complexos e que preferem o nature ao brut”, garante.

 

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